Comemorou-se, este sábado, em várias localidades algarvias o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. Este dia foi criado a 18 de Abril de 1982, e aprovado pela UNESCO no ano seguinte, com o objectivo de sensibilizar os cidadãos para a diversidade e vulnerabilidade do património, bem como para o esforço envolvido na sua protecção e valorização.
Para assinalar este dia, o POSTAL visitou a aldeia de Estoi e a Igreja Matriz de Santiago em Tavira. Conheça algumas curiosidades sobre estes monumentos e sítios do Algarve.
Em Faro
A aldeia de Estoi foi a localidade eleita pelo município de Faro para as comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. “Estoi tem muito património e percursos ancestrais que merecem visibilidade” disse ao POSTAL Teresa Correia, vereadora da Câmara farense.
A caminhada teve início no antigo eixo viário romano que ligava Ossónoba, nome dado pelos romanos à actual cidade de Faro, a São Brás de Alportel e contou com a orientação do professor Francisco Lameira.
Foi uma viagem no tempo que passou por pontos fulcrais para a identidade da aldeia, como são exemplos a Igreja, as fachadas, que ainda restam, de moradias de século XIX e o palácio de Estoi.
António Casimiro nasceu na Guarda mas vive em Santa Bárbara de Nexe há cerca de vinte anos. Contou ao POSTAL que tem o hábito de participar em visitas como esta mas nunca tinha tido a oportunidade de conhecer a história de Estoi e dos seus monumentos.
“Achei muito interessante esta iniciativa porque valoriza a riqueza que temos em Portugal e que normalmente o governo não dá importância”, refere António.
Elga Viegas, nascida e criada em Olhão, confessa que “conhecia muito pouco” sobre Estoi. “Se não fosse esta iniciativa, provavelmente nunca iria conhecer a história desta aldeia”, diz.
A iniciativa, que contou com a presença de 65 pessoas teve, na opinião da vereadora farense, uma adesão “excepcional” e o que, na opinião de Marco Lopes, director do Museu Municipal de Faro, “vem provar que o concelho é muito rico e que nem tudo se resume à cidade”.
O passeio terminou com a actuação do Trio de Guitarras do Conservatório Regional do Algarve e serviu para demonstrar que “o património não são só os monumentos estanques, são também as tradições e as pessoas”, referiu o director do museu.
Sabia que
Projectos arquitectónicos semelhantes ao Palácio de Estoi são muito raros no país e caso único no Algarve. “A quinta, a casa, os jardins e a propriedade agrícola unidas de forma tão despercebida são uma coisa raríssima” explicou o professor Francisco Lameira.
Em Tavira
A Igreja Matriz de Santiago foi o local escolhido pelo município para assinalar este dia. A paróquia tavirense remonta à segunda metade do século XIII e considera-se que tenha ocupado o lugar da antiga mesquita menor de Tavira.
É por aqui que começa a nossa visita a este templo: pelas datas, ou falta delas. “A maior dificuldade para se falar desta Igreja é o silêncio”, o silêncio que os documentos mantêm relativamente ao período de vida deste monumento, desde a sua criação até ao século XVI, adiantou o guia logo no início das explicações.
De estilo arquitectónico pobre, guarda, porém, com um valioso conjunto de imagens e pinturas que mereceram um roteiro, orientado pelo historiador de arte Daniel Santana, que levou um grupo de cerca de 30 participantes a ver em pormenor os recantos deste templo. Desde o Altar-mor, a uma aprofundada análise aos conhecidos Painéis de Tavira, um dos ex-libris da Igreja e da cidade.
Tratam-se de quatro painéis do século XV representando S. Pedro, S. João Baptista, S. Brás e S. Vicente e que “estão provavelmente entre as mais antigas pinturas portuguesas”, referiu o historiador.
Sabia que
A Igreja Matriz de Santiago foi muito danificada pelo terramoto de 1755. Ainda assim os documentos da época não referem quaisquer danos no edifício. Só em 1841, quase 100 anos depois da intempérie, é que João Baptista de Silva Lopes refere num documento que a Igreja sofreu bastante com o terramoto que “apenas lhe deixou em ser a capela-mor”.
Os painéis de Tavira são dos poucos exemplares de pintura quinhentista que existem em Portugal. Foram muito danificados no século XVI e restaurados nos anos 50 do século XX. Apenas mereceram restauro as telas de S. Pedro e S. João Baptista que regressaram assim à sua configuração anterior.
Após um restauro que levou os Painéis de Tavira para Lisboa, as disputas entre a capital e a cidade das 33 Igrejas afastaram a obra da Capela de Santiago durante oito anos. Em 1983 voltaram a sair para uma exposição e só voltaram em 1998.
Mesmo com a ameaça de mau tempo, cerca de uma centena de pessoas participaram, em Tavira e em Estoi, nas iniciativas organizadas pelos municípios de Faro e Tavira.