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Museóloga / Historiadora Sócia da AGECAL
Considerando que património não é apenas um conjunto de monumentos ou objetos isolados e descontextualizados do seu entorno e assumindo que estes são testemunhos fundamentais da história e identidade de uma comunidade, torna-se urgente encontrar meios atuais e inovadores de fazer comunicação patrimonial.
O grande desafio que se coloca prende-se com o conseguir despertar as emoções e os sentidos para este tipo de matérias. Assim, os meios audiovisuais surgem-nos, justamente, como recursos indispensáveis para a criação de conteúdos acessíveis que reaproximem os cidadãos do seu legado cultural patrimonial, uma vez que estes desempenham um papel ativo e preponderante na preservação desta herança comum. Tanto mais que, se esses testemunhos se continuam a constituir todos os dias, devemos encará-los como algo vivo e em constante mutação.
Assim, é imprescindível produzir produtos criativos, apelativos e didáticos mas mantendo sempre o rigor científico nos conteúdos. Estes novos formatos devem usar as estratégias mais eficazes tendo em conta que se destinam a ser difundidos pelos mass media.
Entre alguns casos de sucesso que já vão surgindo no nosso país ficou-me inscrito na memória o filme Pedra e Cal, da realizadora Catarina Alves Costa, inserido num projeto de investigação relacionado com a arquitetura tradicional e turismo cultural do sudeste alentejano, promovido pelo Campo Arqueológico de Mértola e com a colaboração da UAlg. De uma forma muito poética e emocional, mostra-nos como estas casas tradicionais eram e são vividas, bem como a tomada de consciência dos habitantes de que as suas casas são património. Esta indelével questão é fundamental quando justamente está em causa a divulgação de uma herança que ao ser valorizada mais facilmente será preservada.
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Sabemos que muitas vezes as instituições culturais não têm meios financeiros suficientes para criar um produto com a dimensão que acabámos de mencionar. Pensamos que a resposta possa passar por incluir nas equipas profissionais ligados ao vídeo, temporariamente ou mesmo de forma permanente, como já é recorrente para a área da fotografia.
Vídeos documentais de curta duração, relativos a determinado património e utilizados em contexto expositivo, podem por vezes ter resultados inesperados e estimulantes.
Damos o exemplo de um pequeno vídeo sobre os sapatos de ourelo que foi realizado no Museu Municipal de Olhão. A técnica de produção destes sapatos encontra-se perdida, mas a existência do vídeo tem gerado uma vaga de interesse por parte de um grupo de pessoas na comunidade que procura descobrir como era produzido este tipo de calçado.
Por outro lado, tendo em conta a quantidade de instituições culturais existentes no Algarve a criar comunicação patrimonial, levanta-se a questão da dispersão de conteúdos, audiovisuais ou de outra natureza. Deste modo, pensamos ser imprescindível a criação de uma plataforma online exclusivamente dedicada à divulgação, de forma acessível e criativa, do património cultural algarvio, material e imaterial, mas isso seria já matéria para um outro artigo.
(Artigo publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul)