
A Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, em Tavira, acolhe até ao próximo dia 21 de Dezembro a exposição documental “Pessoa(s) de Tavira”. A Origem de tudo…”, organizada por Rui Cansado Guedes sobre a família paterna tavirense de Fernando Pessoa, realidade que está na génese de um Álvaro de Campos criado como ente tavirense.
“Quando falamos em Álvaro de Campos falamos em Fernando Pessoa e, ao falarmos em Pessoa, estamos a falar do mais universal poeta de língua portuguesa, uma língua que é falada por mais de 273 milhões de pessoas em todo o mundo. Parece-me que estes três factores, por si só, justificam que Tavira reclame, cada vez mais, o direito a ser uma cidade “Fernandina””, afirma Rui Guedes, autor da exposição
“Esta pequena exposição é uma parte de um conjunto de documentos familiares que foram recentemente descobertos e que nos ajudarão a conhecer melhor a família paterna do escritor. Quem eram, onde viviam, o que faziam estes Pessoa(s) de Tavira, primos do poeta? Parte deste acervo documental estava “esquecido” num antigo cofre (devido ao facto de serem documentos referentes a testamentos, partilhas, compra e venda de propriedades, registos de casamentos, registo de óbitos, entre outros assuntos familiares); e outra parte estava arrumada em caixotes que, possivelmente, acabariam no lixo e se perderiam para sempre, não fosse a sensibilidade de um familiar do poeta que os salvou e me entregou em mãos”, explica o historiador.
É sabido que Fernando Pessoa visitou Tavira mais do que uma vez, cidade onde nasceu o seu avô, General Joaquim António de Araújo Pessoa, assim como o seu tio Jacques Cesário Pessoa. Foi nesta cidade do Algarve que o escritor fez nascer o seu heterónimo Álvaro de Campos (1890 – dois anos depois do seu próprio nascimento) e Álvaro de Campos fez, por diversas vezes, alusões à sua vivência algarvia nos seus poemas:
“Na nora do quintal da minha casa o burro anda à nora, anda à nora
E o mistério do mundo é do tamanho disto”.
“Todo este tempo não tirei os olhos do meu sonho longínquo,
Da minha casa ao pé do rio,
Da minha infância ao pé do rio,
Das janelas do meu quarto dando para o rio de noite,
E a paz do luar esparso nas águas!…
Minha velha tia, que me amava por causa do filho que perdeu…,
Minha velha tia costumava adormecer-me cantando-me”
“Provavelmente, a velha tia a que se refere o escritor será Maria da Cruz Lampreia Pessoa, mulher do seu tio Jacques Cesário Pessoa, a quem morreram três filhos antes dela própria falecer (Alfredo Augusto Pessoa, José Firmino Pessoa e Olímpio Júlio Pessoa)”, comenta Rui Guedes.
“O rio que Álvaro de Campos menciona na sua infância será o rio Gilão, enquanto que casa ao pé do rio pode muito bem ser a casa da sua tia Maria da Cruz, casa essa que se situava na Rua Borda d’Água d’Aguiar e dava para o rio que atravessa Tavira”, conclui o historiador.