António dos Santos Alberto Andrade e Mário Beja Santos, autores do livro “Nunca Digas Adeus às Armas (Os Primeiros Anos da Guerra da Guiné)”, vão apresentar a obra no próximo dia 18 de outubro, pelas 18:00, no Palácio da Independência, Largo São Luís 11, em Lisboa.
Desde 2008 até hoje, o nosso colaborador Mário Beja Santos já publicou 9 títulos relacionados com a Guiné Portuguesa e a Guiné-Bissau. Este 10.º livro, feito em coautoria, prende-se com os três primeiros anos da guerra da Guiné.
Segundo explica Beja Santos, “trata-se de pôr numa ampla sala de conversa a história de um batalhão em poesia popular, fazendo ouvir múltiplos atores, todos eles combatentes, e, a par disso, fazer um pouco mais de luz sobre o comportamento estratégico utilizado pelas Forças Armadas Portuguesas”.
O autor acrescenta que: “A historiografia da guerra da Guiné é geralmente omissa (ou estranhamente parcimoniosa) na resposta dada pelas forças portuguesas, na eclosão da guerrilha, logo no início de 1963. Estão identificadas as etapas do levantamento do nacionalismo guineense, os seus atores principais e secundários, a organização do PAIGC na clandestinidade e a metódica preparação que Amílcar Cabral imprimiu aos jovens responsáveis que mandou preparar na China e noutras paragens. Metódica e eficaz, tão avassaladora que deixou estupefactos os comandos militares, tanto na Guiné como em Lisboa. Em escassos meses, o PAIGC instalou-se na região Sul, infiltrou-se nas matas densas do Oio/Morés, atravessou o Corubal, de ano para ano passou do armamento incipiente para mais temível, a usar minas anticarro, bazucas e morteiros, não lhe foi indiferente a artilharia antiaérea. Era uma guerrilha de gente motivada, que não recuou a intimidar e a aterrorizar os guineenses hesitantes. Em 1964, dera-se uma clara separação das águas, mesmo ao nível das etnias guineenses. A historiografia apresenta por vezes os dois primeiros oficiais-generais (Louro de Sousa e Arnaldo Schulz) como maus condutores da resposta, líderes impreparados para aquela experiência de guerra de guerrilhas face a um inimigo que somava mais vitórias que derrotas. Falamos numa historiografia que reduz a escassos parágrafos o modo como combatemos entre 1963 e 1968, insinua-se mesmo que só se cometeram asneiras”.
“Os documentos ao nosso dispor revelam que é tudo falso, ou quase. Sabe-se que a mitologia em torno do oficial-general “salvador”, chegado em 1968, assentou numa clara reprovação da condução da guerra até então. Ninguém fala nos meios que foram oferecidos a Louro de Sousa e Arnaldo Schulz que, está historicamente comprovado, informaram rigorosamente Lisboa de tudo quanto se estava a fazer, que pediam muito mais condições para contrariar a avalanche intimidadora da guerrilha”, afirma.
“De algum modo, aqui se procura, a pretexto de uma genuína poesia popular para contar a história do Batalhão de Cavalaria N.º 490, evidenciar a natureza da resposta e não é difícil concluir que houve sagacidade e lucidez na aplicação dos meios existentes, modestos, postos naquele teatro de operações. Ocupou-se território, ajudou-se as populações, houve um esforço desenvolvimentista dentro de uma economia caótica, nunca se escondeu que de ano para ano a guerra era cada vez mais difícil, e que naqueles primeiros anos se vinha muito impreparado, era tudo um mundo desconhecido, hostil, sem instalações, combatendo com armas antigas. É essa a reparação que se procura transmitir neste livro”, destaca.
“Creio, sem vaidade nem lisonja, que o deixei feliz no produto final desta tormenta; e que o leitor, entusiasmado por estas peripécias que ocorreram entre 1963 e 1965, os primeiros anos da guerra da Guiné, saboreará com tanta gente a perorar numa imensa sala de espelhos, ouvir-se-ão tiros e suspiros de saudade até ao resgate final, quando se perceber que a missão fora cumprida, ainda não se sabendo que haveria, até ao último dia das suas vidas, memória daquela camaradagem, lembrança de naquelas terras todos ali se terem feito homens”, conclui Beja Santos.
Sobre António dos Santos Alberto Andrade
Nasceu em Azinheira de Barros – Grândola, a 9 de dezembro de 1942, O pai era operário mineiro nas minas do Lousal e a mãe doméstica. Foi o primeiro de sete irmãos, que ajudou a criar começando muito novo a trabalhar nos trabalhos do campo.
Em janeiro de 1963, foi chamado para a tropa onde tirou a recruta e a especialidade de transmissões, sendo mobilizado para a Guiné onde integrou o Batalhão de Cavalaria 490. É dessa experiência que resulta o seu livro “Missão Cumprida”, que deu origem a este livro. É reformado da CP.
Sobre Mário Beja Santos
Trabalhou cerca de quarenta anos na política dos consumidores. Foi alferes miliciano na Guiné (1968-1970), comandou os destacamentos de Missirá e Finete (1968-1969) e esteve na intervenção em Bambadinca à frente do pelotão de caçadores nativos n.º 53 (1969-1970).
Começou a escrever sobre a Guiné a partir de 2008: “Diário da Guiné – Na Terra dos Soncó”, “Diário da Guiné – O Tigre Vadio”, 2008; “Mulher Grande”, 2009; “A Viagem do Tangomau”, 2012; “Adeus, até ao meu regresso”, 2012; em coautoria, “Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: Um Roteiro”, 2014; “História(s) da Guiné Portuguesa”, 2015; e “História(s) da Guiné-Bissau”, 2016; “Os cronistas desconhecidos do canal do Geba: O BNU da Guiné”, 2019 (estes três últimos títulos nas Edições Húmus). Tem muito orgulho em que os seus livros sejam vendidos na Guiné-Bissau.