A Presidência da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) da Região do Algarve “lamenta profundamente o falecimento do poeta, escritor, encenador e tradutor Gastão Cruz e apresenta sentidas condolências aos seus familiares e amigos”.
Natural de Faro, Gastão Santana Franco da Cruz (1941 – 2022) licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi professor do ensino secundário até reformar-se da docência em 2000 e leitor de Português no King’s College, pertencente à Universidade de Londres.
A sua carreira como poeta inicia-se nos anos sessenta como membro do coletivo Poesia 61 (que reunia também Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Luiza Neto Jorge e Maria Teresa Horta), contribuindo para a renovação da linguagem poética portuguesa.
Para além da atividade letiva, notabilizou-se como igualmente como crítico literário, coordenando a revista Outubro e colaborando em vários jornais e revistas – Seara Nova, O Tempo e o Modo ou Os Cadernos do Meio-Dia (editados sob a direção de Casimiro de Brito e António Ramos Rosa). Posteriormente, essa colaboração foi reunida em volume, com o título A Poesia Portuguesa Hoje (1973), o qual permanece como uma referência para o estudo da poesia portuguesa da década de sessenta.
Com uma forte ligação ao teatro, foi um dos fundadores do Grupo de Teatro de Letras, em 1965, e cofundador do Grupo de Teatro Hoje (1976-1977), encenando peças de Crommelynck, Strindberg, Camus, Tchekov e adaptou Uma Abelha na Chuva (1977), de Carlos de Oliveira.
Como tradutor, Gastão Cruz traduziu obras de William Blake, Jean Cocteau, Jude Stéfan e Shakespeare. Na segunda metade dos anos 90 foi requisitado para divulgar a literatura portuguesa nas escolas.
O seu percurso foi reconhecido por diversas vezes, nomeadamente a obra Rua de Portugal que recebeu o Grande Prémio de Poesia CTT – Correios de Portugal, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), em 2002. Em 2009, A Moeda do Tempo mereceu o Prémio Correntes d’Escritas. Em 2018, foi distinguido com a Medalha de Mérito Cultural atribuída pelo Ministério da Cultura.
Em 2019, volta a ser distinguido pela APE, sendo o primeiro distinguido com o Grande Prémio de Poesia Maria Amália Vaz de Carvalho, pela obra Existência, recebe o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, atribuído pelo Presidente da República, e a Medalha de Ouro da Cidade de Faro, vencendo a VII edição do Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa, organizado pelo Município de Faro.
Na cerimónia de entrega do prémio, destacou-se o momento da leitura de uma carta e um poema inéditos, de autoria de António Ramos Rosa, cedidos pela sua viúva, Agripina Costa Marques, e ambos dedicados a Gastão Cruz que, no discurso de agradecimento, invocou o patrono da Biblioteca Municipal de Faro, relembrando a sua influência e importância na sua obra e na sua vida.