Mais de uma dezena de filmes portugueses deverá estrear-se em 2021 no circuito comercial, mas ainda sem datas confirmadas, com distribuidores e produtores à espera de melhores dias nas salas de cinema.
A distribuidora NOS Audiovisuais, líder do mercado, tem pelo menos cinco longas-metragens portuguesas confirmadas para estreia em 2021, todas sem data anunciada, entre as quais “Sombra”, de Bruno Gascon, e “Amadeo”, de Vicente Alves do Ó.
“Temos vários filmes para estrear, mas não temos nada programado com muita assertividade, dadas as trocas e adiamentos que aconteceram este ano”, disse à agência Lusa o diretor de marketing da NOS Audiovisuais, Saul Rafael.
Além daqueles dois filmes, a NOS Audiovisuais conta ainda distribuir, entre outros, “O sentido da vida”, de Miguel Gonçalves Mendes, “O último animal”, de Leonel Vieira, com elenco português e brasileiro, e “O som que desce da terra”, de Sérgio Graciano.
Este ano, o impacto da pandemia da covid-19 no panorama cinematográfico português teve particular incidência na exibição comercial em sala, com menos estreias cinematográficas, encerramento temporário de salas e uma enorme retração no consumo por parte dos espectadores.
Segundo os dados mais recentes do Instituto do Cinema e Audiovisual, que não incluem ainda dezembro, 2020 registou 3,6 milhões de espectadores e 19,7 milhões de euros de bilheteira, muito longe dos 14 milhões de espectadores e 75 milhões de euros do período homólogo de 2019.
O filme português mais visto este ano em sala foi “Listen”, de Ana Rocha de Sousa, que teve estreia em outubro e foi visto por mais de 38 mil espectadores, capitalizando os prémios conquistados semanas antes, no festival de cinema de Veneza.
A estreia de “Listen” até esteve anunciada para os primeiros meses de 2021, mas foi antecipada para este ano, “num contributo para levar as pessoas ao cinema”, contou o produtor Rodrigo Areias à agência Lusa.
Para 2021, o realizador e produtor da Bando à Parte, que tem vários projetos em mãos, conta estrear “Mar infinito”, um filme de ficção científica de Carlos Amaral, “Mabata Mata”, do realizador moçambicano Sol de Carvalho, o documentário “Távola de Rocha”, de Samuel Barbosa sobre Paulo Rocha, e, ainda sem certezas, “Não sou nada”, de Edgar Pêra, rodado este ano já em contexto de pandemia.
Alguns destes filmes produzidos por Rodrigo Areias estão ancorados em contexto de festival de cinema, também ele condicionado pela pandemia.
Contactado pela agência Lusa, o produtor Luís Urbano, da O Som e a Fúria, disse que tem dois projetos para estrear em 2021, um deles possivelmente para o natal, mas, por prudência de calendários, fecha-se ’em copas’ sobre eles.
No planeamento sobre 2021, o produtor, que acaba de ser premiado pelo programa europeu Eurimages, aguarda a calendarização dos festivais de cinema e faz contas à imunização da população, com a administração das vacinas contra a covid-19, para perceber como é que se poderá circular no próximo ano.
Um dos filmes portugueses que deveria ter estreado este ano era “Bem Bom”, de Patrícia Sequeira, sobre o grupo feminino de música Doce, que fez sucesso nos anos 1980, mas a estreia foi adiada para 2021.
O filme era uma das apostas cinematográficas da distribuidora Cinemundo, só que os planos foram alterados por causa da covid-19, e não há ainda data fechada. Em novembro passado, Nuno Gonçalves, da Cinemundo, afirmava à agência Lusa que a estreia não seria antes de março.
Para 2021 está também planeada a chegada aos cinemas de “A metamorfose dos pássaros”, a premiada longa-metragem de Catarina Vasconcelos, e a estreia só não aconteceu antes “por causa da situação da covid-19 e pelo facto de os exibidores não estarem a arriscar muito”, disse à agência Lusa Ana Isabel Strindberg, da Portugal Film, que o irá distribuir.
“A metamorfose dos pássaros” tem estado em circulação internacional por mais de 40 festivais e mostras de cinema, onde tem colhido vários prémios.
A narrativa do filme cruza documentário e ficção, parte da história da família da realizadora, em particular da avó paterna, que nunca chegou a conhecer. Em fevereiro, quando da estreia mundial desta obra, no Festival de Cinema de Berlim, o filme conquistou o Prémio da Crítica Internacional.
“Queremos fazer uma estreia em grande, já tivemos vários pedidos de sessões, mas queremos chegar a todo o tipo de sala, numa distribuição conjugada entre salas comerciais e o circuito dos auditórios, dos centros culturais”, explicou Ana Isabel Strindberg, apontando a data para março.
Sobre o trabalho de distribuição de um filme no circuito comercial, a produtora Pandora da Cunha Telles é assertiva: “Distribuir um filme implica um enorme esforço humano”, admitiu à agência Lusa.
A produtora Ukbar Filmes, que Pandora da Cunha Telles codirige, conta estrear, em 2021, além do já citado “Amadeo”, de Vicente Alves do Ó, as longas-metragens “A arte de morrer longe”, de Júlio Alves, “Sandra”, de Simão Cayatte, e “O homem que matou D. Quixote”, de Terry Gilliam, cuja estreia portuguesa tem estado em suspenso por causa de processos em tribunal com o produtor Paulo Branco.
Sobre todos estes filmes, Pandora da Cunha Telles afirma que não há datas fechadas nem pressas para os fazer estrear.
“Se tivéssemos a certeza de que teríamos retorno, mas não existe… Ir ao cinema é algo que se faz em família, mas neste momento Portugal ainda não está a dar indícios dessa volta” no consumo de cinema em sala, disse a produtora.
Há ainda a expectativa de que outros filmes portugueses cheguem aos cinemas em 2021, entre os quais “Prazer, camaradas”, de José Filipe Costa, “Submissão”, de Leonardo António, e “Visões do império”, de Joana Pontes.
Já rodados em contexto de pandemia, há várias produções portuguesas ainda sem previsão de estreia, entre as quais “Great Yarmouth – Figuras Provisórias”, de Marco Martins, “Sombras brancas”, de Fernando Vendrell, “Nunca nada aconteceu”, de Gonçalo Galvão Teles, e “Salgueiro Maia – O implicado”, de Sérgio Graciano.