Apesar da crescente sensibilização para a questão da fraude do conta-quilómetros, o mercado de veículos usados em Portugal continua bastante vulnerável. Todos os anos, milhares de automobilistas caem em esquemas fraudulentos, ao adquirirem veículos com quilometragem falsificada. As fraudes traduzem-se em pagamentos inflacionados pelos veículos e custos de manutenção inesperados a curto e longo prazo.
A carVertical, empresa de dados automóveis que acompanha de perto o estado do mercado de usados, realizou o seu 5.º estudo anual com o objetivo de revelar os modelos de automóveis mais frequentemente sujeitos a adulteração de conta-quilómetros em Portugal.
Mais de 100 000 km manipulados
Em 2024, o Citroën DS3 foi o automóvel mais manipulado em Portugal – cerca de 7,6% de todos os modelos verificados na plataforma da carVertical apresentavam valores de quilometragem adulterados. Este elegante automóvel compacto teve a quilometragem reduzida, em média, 101 mil km, o que reflete a sua procura entre condutores urbanos.
Ao Citroën DS3 seguem-se o Opel Corsa (5,7%) e o Peugeot 308 (5,1%). Os conta-quilómetros do Corsa foram alterados numa média de 56 mil quilómetros, enquanto o 308 registou uma média de 66 mil quilómetros. Veículos compactos e familiares como estes são alvos frequentes de fraudes no conta-quilómetros por causa da sua elevada procura no mercado e da sua utilização generalizada.
Como estes carros também são muito procurados noutros países europeus, uma parte significativa foi importada para Portugal, onde a quilometragem foi manipulada para inflacionar o valor de revenda.
“Provar a fraude do conta-quilómetros é complicado, o que deixa os burlões com a sensação de serem intocáveis. Assim, para evitar carros com quilometragem falsificada, é essencial verificar sempre o seu historial.
Por vezes, até o proprietário atual pode desconhecer a adulteração, ocorrida antes da compra, o que se torna uma surpresa desagradável quando assinalada pelo potencial comprador”, explicou Matas Buzelis, diretor de Comunicação da carVertical e especialista do mercado automóvel.
Alguns modelos chegam a “perder” mais de dois terços da sua quilometragem real
Na nossa investigação, o SEAT Leon (194 000 km), o Opel Astra (122 000 km) e o BMW Série 3 (109 000 km) têm o maior número de quilómetros reduzidos.
Se veículos destes modelos forem descritos como tendo 100 000 km, a sua quilometragem real pode ser o dobro ou até o triplo.
“Um relatório histórico revela a data em que o conta-quilómetros foi adulterado e quantos quilómetros foram reajustados. Assim, os compradores podem compreender melhor o verdadeiro estado e valor do veículo”, explicou o especialista.
Nenhum carro está totalmente a salvo desta fraude
O BMW Série 4 (1,6%), o Renault Captur (1,7%) e o Peugeot 3008 (1,9%) surgiram como os modelos mais seguros, com percentagens mais baixas de conta-quilómetros adulterados. No entanto, é preciso que os compradores se mantenham vigilantes aquando da aquisição destes veículos.
Em média, o BMW Série 4 foi reduzido em 18 000 km, o Renault Captur em 39 000 km, e o Peugeot 3008 em 70 000 km.
O estudo revelou que um Citroën DS3 tem quase quatro vezes mais probabilidades de ter a quilometragem falsificada do que um BMW Série 4 ou um BMW Série 3. No entanto, nenhum automóvel é totalmente imune à adulteração do conta-quilómetros.
A falsificação abrange tanto os modelos mais recentes como os mais antigos, pelo que é fundamental que os compradores avaliem cuidadosamente qualquer veículo que considerem comprar.
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