Já é conhecido o grande vencedor do Prémio Manuel Gomes Guerreiro. Das 16 candidaturas selecionadas, o júri decidiu por unanimidade atribuir o prémio a Paulo Henrique Faria Nunes, académico brasileiro, pela obra “A Institucionalização da Pan-Amazônia”, que irá ser entregue no dia 11 de dezembro, às 17:30 horas, na sessão solene do 40º aniversário da Universidade do Algarve, no Grande Auditório do Campus de Gambelas.
Paulo Henrique Faria Nunes é professor na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). No trabalho premiado analisa os principais fatores que favorecem e dificultam o desenvolvimento de uma diplomacia pan-amazônica, tendo em vista que a floresta tropical representa, simultaneamente, um trunfo e um motivo de preocupação. A obra, de caráter multidisciplinar, segundo o autor “visa suprir uma lacuna académica e editorial”.
Defende ainda que a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, conquanto anterior ao MERCOSUL e à União de Nações Sul-Americanas (UNASUL), é uma “notória desconhecida”, reconhecendo que “a produção dedicada ao assunto é pequena e, consequentemente, os problemas da diplomacia pan-amazônica não figuram entre as leituras regulares de estudantes de geografia, ciência política, relações internacionais e direito”. O autor – graduado em Direito, mestre em Geografia e doutor em Ciências Políticas e Sociais – desenvolve uma pesquisa fundamentada em extensa revisão bibliográfica, fontes primárias (documentos, dados estatísticos) e atos normativos nacionais e internacionais.
Se inicialmente sentiu “alguma resistência” em concorrer ao prémio, por achar que a Amazónia não seria um tema muito interessante para uma instituição europeia, optou por fazê-lo por considerar que “seria uma boa forma de divulgar o livro em Portugal”.
Sobre a importância do prémio refere: “nós professores e pesquisadores brasileiros enfrentamos muitos obstáculos para desenvolvermos projetos de investigação, principalmente nas instituições privadas. As universidades brasileiras priorizam exageradamente as atividades do professor em sala de aula e nem sempre estão dispostas a investir na produção do conhecimento”.
Para Paulo Henrique Faria Nunes, “este prémio tem uma grande relevância pessoal e profissional e ajuda a chamar a atenção para os problemas amazônicos no Brasil e no exterior”. Para o professor e investigador, “dadas as condições de trabalho nas instituições de ensino superior no Brasil e na condição de professor numa instituição privada, ainda que confessional, ver o reconhecimento de meu trabalho fora do Brasil tem um valor imensurável”.
Devido ao número de candidaturas, a seleção não foi fácil. Lídia Jorge, membro do júri, explicou: “Havia dezasseis candidaturas, de âmbitos muito diversos, e várias delas poderiam ter merecido ser premiadas. Pode-se dizer que a primeira edição deste prémio constitui um êxito. Depois de ouvidos os vários membros do júri, entendeu-se que a obra que mais se aproximava do espírito do prémio e a que apresentava maior valor intrínseco, do ponto de vista científico e cultural, era a obra a concurso “ A Institucionalização da Pan-Amazónia”.
Segundo a escritora, “o júri valorizou a abordagem singular do autor sobre a questão complexa da gestão da Amazónia, enquanto espaço geográfico único no planeta, visto à luz dos vários cruzamentos de dados de natureza histórica e geopolítica da região, espaço carente de uma maior coordenação internacional entre os oito países amazónicos que a ocupam, análise a que o autor, Paulo Henrique Faria Nunes, acrescenta a defesa de um ponto de vista estratégico institucional para a criação de uma Pan-Amazónia multinacional coordenada.” Para Lídia Jorge, “trata-se de uma obra que não se limita a descrever o estado da realidade, propõe, em concreto, uma melhoria e salvação dessa realidade, com valor para a região e para a Terra inteira, no seu todo”.
O júri decidiu ainda atribuir uma Menção Honrosa a Daniel Henrique Alexandre Santana pela obra “Diogo Tavares e Ataíde”, tendo em conta o seu contributo para a divulgação do trabalho artístico do arquiteto e mestre canteiro algarvio mais importante do século XVIII.
Presidido pelo reitor da UAlg, Paulo Águas, o júri do concurso é composto por António Rendas, professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, Cláudio Torres, arqueólogo e diretor do Campo Arqueológico de Mértola, João Carlos Marques, professor catedrático da Universidade de Coimbra, João Ferreira do Amaral, professor catedrático da Universidade de Lisboa, Lídia Jorge, escritora e Doutora Honoris Causa pela UAlg, e Maria Amélia Martins-Loução, professora catedrática da Universidade de Lisboa e presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia.
Este prémio de caráter anual, organizado pela Universidade do Algarve, com o patrocínio da Câmara Municipal de Faro e da Câmara Municipal de Loulé, irá ser entregue pelas três instituições. Tem um valor pecuniário único de 10 mil euros e destina-se a galardoar uma obra publicada, livro ou tese de doutoramento, que contribua para o desenvolvimento científico numa das áreas de conhecimento da Universidade do Algarve.
Recorde-se que Manuel Gomes Guerreiro foi o primeiro reitor da UAlg e uma das mais destacadas figuras do Algarve do século XX, não só como cidadão, mas também como cientista.
(SP/CM)