O Presidente chinês, Xi Jinping, disse, nesta quinta-feira, ao seu homólogo russo, Vladimir Putin, que o seu país está pronto para trabalhar com Moscovo tendo em vista o apoio mútuo sobre “interesses fundamentais”.
“A China está disponível para trabalhar com a Rússia, de forma a obter apoio firme e mútuo em questões relacionadas com os interesses fundamentais de cada país, aprofundando a cooperação no comércio, agricultura e outros campos”, disse Xi Jinping a Putin, de acordo com um comunicado citado pela televisão pública CCTV.
A declaração foi feita durante um encontro bilateral à margem de uma cimeira da Organização de Cooperação de Xangai, em Samarcanda, Uzbequistão, o primeiro entre os dois líderes desde o início da invasão russa da Ucrânia.
RÚSSIA, CHINA E MONGÓLIA PROLONGAM CORREDOR ECONÓMICO COMUM POR MAIS CINCO ANOS
Os líderes da Rússia, China e Mongólia concordaram também em prolongar o corredor económico comum entre os três países, criado em 2016, por mais cinco anos. “Tendo em conta a nossa experiência em cooperação trilateral, propomos concentrar esforços na implementação consistente do programa para o desenvolvimento do corredor económico russo-sino-mongol”, disse Vladimir Putin, numa reunião com os homólogos chinês e mongol, Xi Jinping e Ukhnaa Khurelsukh, respetivamente, na cidade usbeque de Samarcanda.
O chefe do Kremlin acrescentou que as partes concordaram em estender a validade do corredor “por mais cinco anos”. Putin especificou que deve ser dada atenção especial à expansão da infraestrutura conjunta e a uma coordenação mais próxima dos programas nacionais de desenvolvimento.
Estes passos vão ajudar a criar condições favoráveis para um aumento do volume de transporte de carga transfronteiriço, o crescimento do comércio e darão impulso ao desenvolvimento da região, acrescentou. O líder russo também defendeu o aumento dos pagamentos em moedas nacionais.
CHINA E RÚSSIA UNIDAS CONTRA IDEIA DE “MUNDO UNIPOLAR”
No início da reunião, Xi sugeriu ainda ao seu homólogo que a China e a Rússia devem assumir a sua responsabilidade como “grandes potências”, denunciando a estratégia ocidental de tentar criar um “mundo unipolar”. Para o Presidente chinês, China e Rússia devem “desempenhar um papel de liderança e injetar estabilidade e energia positiva num mundo devastado pelo caos”.
Pequim não apoiou nem criticou a invasão russa da Ucrânia, ao mesmo tempo que tem expressado repetidamente o apoio a Moscovo perante as sanções ocidentais.
Após a conversa com Xi, o Presidente russo criticou o que qualificou de tentativas ocidentais de criar um “mundo unipolar”, elogiando a “posição equilibrada” de Pequim sobre a Ucrânia. “As tentativas de criar um mundo unipolar tomaram recentemente uma forma absolutamente desprezível e são totalmente inaceitáveis”, disse Putin.
XI JINPING MANIFESTOU “PREOCUPAÇÕES” RELATIVAMENTE À UCRÂNIA
O Presidente russo admitiu compreender que Xi Jinping tenha dúvidas e preocupações quanto à situação na Ucrânia, mas elogiou o líder da China pelo que disse ser uma posição “equilibrada” em relação ao conflito. “Entendemos as suas perguntas e preocupações quanto a isso. Durante a reunião de hoje, é claro que explicaremos a nossa posição, explicaremos em detalhes a nossa posição sobre o assunto, embora já tenhamos falado sobre isto antes.”
A guerra na Ucrânia já matou dezenas de milhares de pessoas e fez a economia global mergulhar num momento de incerteza, devido ao aumento dos preços de bens alimentares e da energia.
“Apreciamos muito a posição equilibrada dos nossos amigos chineses, na crise ucraniana”, explicou Putin, dizendo que entende as preocupações de Pequim sobre a invasão e mostrando-se disponível para explicar a sua posição.
A versão oficial chinesa revelada após a reunião não fez menção à Ucrânia; apenas referiu que a China está disposta a dar um forte apoio à Rússia em assuntos relacionados com os seus principais interesses, de acordo com a televisão estatal CCTV.
Durante a conversa com Xi, à margem de uma cimeira da Organização para a Cooperação de Xangai, Putin renovou o apoio de Moscovo a Pequim, no que diz respeito a Taiwan, onde as visitas de autoridades norte-americanas nas últimas semanas provocaram o desconforto da China.
A China absteve-se até agora de condenar a ofensiva russa contra a Ucrânia ou de a definir como “invasão”, seguindo a linha ideológica do Kremlin, que enquadra a guerra designando-a como “uma operação militar especial”.
A última vez que Xi e Putin se encontraram pessoalmente, poucas semanas antes de a Rússia invadir a Ucrânia, a 24 de fevereiro, os dois líderes declararam uma parceria “sem limites” e fizeram a promessa de colaborar mais contra o Ocidente.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL, com Lusa