A interdependência entre países e sociedades é hoje mais evidente do que nunca, impondo rapidamente novos modelos de organização do mundo. Da pandemia provocada pelo SARS-CoV-2 aos desastres ambientais, dos grandes conflitos às migrações, percebemos a violência de um tempo em que todos estes fenómenos crescem em impacto e magnitude, tornando-se cada vez mais próximos. Podemos não ter sempre plena perceção dos acontecimentos ou da sua gravidade, mas reconhecemos a sua inexorável aproximação. Afinal, parece não haver acontecimento que não venha mesmo bater à nossa porta.
Esta realidade que nos torna mais cúmplices e atores de uma cidadania global, deveria fazer-nos igualmente corresponsáveis pelo rumo do planeta. E, na justa aptidão ou capacidade de cada um, deve sobretudo tornar-nos agentes de uma mudança favorável, em benefício de uma evolução coletiva que se tornou mais próxima e determinante para o bem-estar individual. O mundo mudou, e hoje estamos obrigados a cuidar melhor dele para a nossa própria sobrevivência.
Os grandes problemas políticos e sociais da atualidade estão claramente interligados, desde a luta contra o terrorismo, às migrações, ao desenvolvimento de novos modelos de crescimento económico ambientalmente sustentável, à promoção da tolerância em sociedades multiculturais; resolvê-los só será possível (e credível) numa arquitetura globalmente comprometida e solidária. Esta evolução exige um sistema forte, efetivo e de regras e instituições internacionais para garantir que a justiça está no centro da governança e da tomada de decisão. Entre outras prioridades, importa assegurar um apoio forte às Nações Unidas, organização sem a qual não teríamos o Acordo de Paris nem a Agenda 2030, roteiros indispensáveis na luta por um mundo melhor. Os grandes desafios exigem reformas da ONU, os quais vão muito para além da manutenção da paz e da segurança entre as nações, ou da contenção da rivalidade entre as superpotências, reclamando soluções inclusivas, justas e viáveis para os problemas económicos, sociais, humanitários e ambientais que o planeta enfrenta.
Desde logo, estamos obrigados a garantir que a natureza prospera, fazendo tudo para travar a perda de biodiversidade e assegurar água, alimento, qualidade do ar e um ambiente saudável para as próximas gerações. Uma agenda regenerativa que obriga a um compromisso conservacionista firme e renovado, garantindo uma efetiva intervenção política a favor da conservação da natureza e um combate à produção e ao consumo insustentável. É exigente, mas é também fundamental, concretizarmos o objetivo de reduzir a metade a nossa pegada de produção e consumo até 2030, para que o mundo consiga um caminho de harmonia entre as pessoas e a natureza.
A conservação dos ecossistemas e da biodiversidade é a base para uma economia sustentável. Água, alimento, habitação e energia são os alicerces sobre os quais se edifica a vida e os sistemas económicos. A resiliência da economia global depende do estado do ambiente; um alinhamento mais estreito dos nossos sistemas económicos e ambientais é um imperativo que a sociedade já não pode ignorar.
A pegada insustentável da produção e consumo é uma das principais causas da perda dramática de biodiversidade a que assistimos em todo o mundo, e inverter esta tendência tem que ser uma prioridade coletiva. A desflorestação em algumas regiões do mundo é arrasadora, ocorrendo essencialmente para garantir uma absurda disponibilidade de solo para monoculturas e pastagens. Uma pegada insustentável que está a levar muitas espécies à extinção e a acelerar o ritmo e o impacto das alterações climáticas. Estas crises estão interligadas e impactam na segurança alimentar, na saúde humana e na própria atividade económica, afetando sobretudo os mais frágeis e mais pobres. O modelo de desenvolvimento individualista e predador da natureza não pode continuar. Citando Carlos Alvarado, Presidente da República da Costa Rica: ”Caminhamos para um novo mundo e um novo normal, onde a sustentabilidade, as soluções baseadas na natureza, a inclusão social e o cuidado mútuo devem ser a norma da coexistência”.