ACâmara Municipal de Mértola acaba de lançar o primeiro de dois concursos públicos para a reconversão dos antigos celeiros da EPAC numa estação biológica internacional dedicada a o combate às alterações climáticas e à desertificação, que envolve um investimento de sete milhões de euros. O segundo concurso terá lugar na próxima semana e diz respeito à componente museológica da estação.
O projeto liderado pela autarquia e pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto foi inicialmente apresentado em fevereiro de 2020, mas acabou por ser adiado por causa da pandemia e só agora reuniu as condições para arrancar. Mas mesmo sem os antigos celeiros da EPAC reconvertidos, a atividade relacionada com a Estação Biológica de Mértola já começou nesta semana, com a chegada à vila alentejana de um grupo de 40 alunos e quatro professores da Universidade de Montpellier, um dos parceiros do projeto, para um campo de trabalho de três semanas do mestrado em
Ecologia desta universidade francesa, em que o território de Mértola será o seu objeto de estudo.
Nuno Ferrand, diretor do CIBIO, onde trabalham mais de 400 cientistas, explicou ao Expresso que a Estação Biológica de Mértola é um projeto interdisciplinar pioneiro a nível mundial “porque integra investigação, residências para cientistas, um Museu da Biodiversidade que junta arte, ciência e a memória histórica dos cereais, e ainda transferência de conhecimento para a economia local e soluções para os problemas das alterações climáticas e do interior”. O museu terá um modelo semelhante ao Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto, também dirigido por Nuno Ferrand, onde se cruzam ciência, instalações artísticas e a memória do edifício – a antiga Casa Andresen, onde viveu Sophia de Mello Breyner. Na futura estação biológica irão encontrar-se, assim, cientistas de todo o Mundo das mais diversas áreas, estudantes de doutoramento, artistas, empresários, agricultores e visitantes.
Duas cátedras convidadas
O diretor do CIBIO sublinha que “o objetivo da Estação Biológica de Mértola é albergar formação avançada, nomeadamente doutoramentos”, e nesse sentido vão ser lançadas duas cátedras convidadas naquela vila, apoiadas por um programa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que envolvem um investimento global de 320 mil euros. A primeira, ligada à biodiversidade, será financiada pela EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (75%) e pela FCT (25%). A segunda, relacionada com a biologia das espécies cinegéticas, terá o apoio de empresas agrícolas da região e do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (75%), bem como da FCT (25%).
Estas cátedras “vão permitir a criação de uma equipa de investigação sedeada em Mértola”, adianta Nuno Ferrand, acrescentando que “já existe uma grande colaboração da Junta da Extremadura de Espanha, o que vai promover a internacionalização da estação biológica”. Ao mesmo tempo haverá uma colaboração com o Campo Arqueológico de Mértola, fundado por Cláudio Torres, através da contratação de investigadores para trabalharem na área da chamada arqueobiologia, de modo a fornecerem instrumentos moleculares aos arqueólogos, como retirar amostras de DNA dos fósseis.
A Estação Biológica de Mértola será, portanto, um novo centro de valorização e transferência de tecnologia na gestão dos recursos naturais da região que dará prioridade a cinco áreas de investigação: biodiversidade, ecologia e conservação; fauna e flora; agroecologia; gestão sustentável da caça e recursos silvestres; e adaptação das espécies e atividades agrícolas à aridez.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL