Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, atores brasileiros que se encontram em Portugal, apresentaram queixa contra uma mulher de 57 anos que, no passado fim de semana, proferiu insultos racistas contra os dois filhos do casal, de oito e seis anos, assim como para um grupo de 15 pessoas de nacionalidade angolana. Ao Expresso, fonte da Guarda Nacional Republicana (GNR) confirmou a apresentação da denúncia esta segunda-feira.
“As vítimas apresentaram queixa”, refere a mesma fonte, que acrescenta ainda que há uma série de testemunhas já identificadas também que devem ser chamadas a depor. “Em causa pode estar o crime de injúria, agravado pela situação de discriminação racial.”

O caso aconteceu este sábado no restaurante “Clássico Beach Club”, na Costa de Caparia, em Almada. A mulher em causa, cuja identidade não foi revelada pelas autoridades, entrou no estabelecimento e passou aos insultos. “Fomos chamados para uma situação de injúria e procedemos à identificação e detenção da mulher de 57 anos, que continuou depois com as injúrias dirigidas também aos militares da GNR”, acrescenta a mesma fonte, sublinhando que a mulher “aparentava estar alcoolizada”.

De acordo com o comunicado divulgado pela família, a mulher que “insultou deliberadamente” pedia às duas crianças e ao grupo de turistas angolanos “que saíssem do restaurante e voltassem para África”. Entre outras ofensas, refere a mesma nota, a mulher ter-se-á dirigido às duas crianças como “pretos imundos”.
Os atores têm três filhos: Chissomo e Blessings, que nasceram ambos no Malawi e foram adotados pelo casal, e Zyan, com três anos.

O caso acabou por ser ampliado através das redes sociais, com uma série de vídeos que foram publicados do momento. Num deles, por exemplo, vê-se Giovanna Ewbank muito próxima da mulher numa troca de palavras mais tensa. Num outro trecho de alguns segundos, e esse partilhado pela atriz, vê-se a mulher a ser escoltada pelos militares da GNR para fora do restaurante.
Dois dias depois do caso, esta segunda-feira e sem se referir diretamente à situação, Marcelo Rebelo se Sousa considerou que “qualquer comportamento racista ou xenófobo é condenável e intolerável, e deve ser devidamente punido, seja qual for a vítima”. Numa nota publicada no site da Presidência da República, vinca ainda que “não vale a pena negar que há, infelizmente, setores racistas e xenófobos entre nós”, deixando o alerta para o perigo da generalização. “Não se pode, nem deve, generalizar, pois o comportamento da sociedade portuguesa é, em regra, respeitador dos direitos fundamentais e da dignidade da pessoa humana.”
Além de Marcelo, também o candidato à presidência do Brasil, Lula da Silva, comentou o caso. Através das redes sociais, lamentou o sucedido e deixou a sua “solidariedade” para com os atores.
Também o restaurante em que tudo aconteceu já condenou os acontecimentos, através de uma nota divulgada nas redes sociais. “Lamentamos que em 2022 tais condutas ainda sejam perpetuadas e reforçamos o nosso compromisso em combater práticas racistas e discriminatórias.” A mulher está ainda banida de todos os restaurantes do grupo (o único em Portugal fica na Praia de São João da Caparica, os restantes estão todos localizados no Brasil).
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL