A Europa, Portugal incluído, pode ser neutra em emissões de dióxido de carbono em 2045 reduzindo as necessidades energéticas, sendo mais eficiente e apostando nas energias renováveis.
A garantia é dada num estudo desenvolvido por 26 organizações, que foi divulgado este domingo e baseado em três palavras: suficiência, eficiência e renováveis.
A União Europeia aponta 2050 como data para a neutralidade carbónica, quando cada país não pode emitir mais gases com efeito de estufa (GEE) do que aqueles que é capaz de absorver, através por exemplo das florestas.
No trabalho agora divulgado as organizações afirmam que é possível antecipar em cinco anos essa neutralidade.
Assenta na redução das necessidades energéticas, essencial para garantir um nível adequado de serviços a toda a gente, numa perspetiva de abundância frugal (princípio da suficiência).
Essa suficiência é combinada com uma redução da intensidade energética por via de melhorias tecnológicas, (o princípio da eficiência).
A proposta é que a procura restante de energia seja satisfeita apenas por energias renováveis, ficando de fora a energia nuclear. E ficando de fora também projetos de captura ou sequestro de dióxido de carbono (CO2).
O CLEVER (Collaborative Low Energy Vision for the European Region), uma “Visão Colaborativa de Baixo Consumo de Energia para a Região Europeia” resultou de um trabalho que abrangeu 30 países (UE27, Reino Unido, Noruega e Suíça) e foi desenvolvido durante quatro anos entre 26 organizações parceiras, como “think-tanks”, organizações da sociedade civil, institutos de investigação e universidades.
O projeto foi liderado pela associação não-governamental francesa “négaWatt”, que desde 2001 trabalha na área da transição energética, e teve também a participação da associação ambientalista portuguesa Zero, que hoje divulgou o resultado em comunicado.
O trabalho, adianta no documento, não só mostra as vantagens e possibilidades de incorporação de energias renováveis em larga escala, como mostra “que o caminho para a descarbonização só é viável por via de uma redução e uso eficiente e parcimonioso de recursos, tanto a nível nacional como europeu, sóbrio no consumo geral de energia e materiais e na necessidade de novas infraestruturas”.
Os autores do CLEVER salientam que a Europa precisa nos próximos 20 anos de reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa duas vezes mais do que o fez nos últimos 30 anos.
E lembram que essa “emergência climática” é agravada por uma degradação insustentável dos ecossistemas, por um declínio da biodiversidade, por desafios em termos de segurança energética e por uma crise do custo de vida com aumento das desigualdades sociais.
Para uma Europa climaticamente neutra em 2045 é preciso reduzir a emissões de GEE em 65% até 2030, em 80% em 2035 e em 90% em 2040.
E porque o CLEVER se baseia na poupança de energia, os autores dizem no trabalho que é fundamental uma redução da procura final de energia em 55% até 2050, em comparação com níveis de 2019, com reduções intermédias em 2030 e em 2040.
Reduzindo a procura de energia a Europa e os países individualmente podem atingir os 42% das energias renováveis em 2030, 65% em 2035 e 80% em 2040, apoiando-se na energia solar e na eólica.
A aposta terá de ser na eletricidade, com o uso do hidrogénio apenas para setores como o aço ou o cimento e transportes marítimo e aéreo. Tal, assinalam os autores, minimizava a pressão de procura de eletricidade de energia renovável.
O uso limitado de biocombustíveis também é aconselhado, como por exemplo biogás em utilizações industriais, e desde que não seja produzido através e culturas alimentares.
Os autores do trabalho assinalam que o critério da suficiência deve ser integrado na política energética e climática da União Europeia. E em Portugal, pede a Zero, deve ser integrado também no Plano Nacional de Energia e Clima.