Duas explosões foram ouvidas esta quinta-feira no centro de Kiev, durante o encontro de António Guterres e Volodymyr Zelensky.
A causa foi um ataque russo com mísseis, segundo Mikhailo Podolyak, assessor do Presidente da Ucrânia, quando ainda Volodymyr Zelensky e António Guterres tinham acabado a conferência de imprensa que se seguiu ao seu encontro no palácio presidencial. Terá havido, pelo menos, seis feridos, segundo os serviços de emergência ucranianos, numa zona de edifícios residenciais e algumas lojas “no coração” da capital ucraniana.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reconheceu hoje, perante o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenksy, que o Conselho de Segurança “falhou em fazer tudo o que estava ao seu alcance para prevenir e acabar com esta guerra”.
“Deixe-me ser bem claro: o Conselho de Segurança falhou em fazer tudo o que estava ao seu alcance para prevenir e acabar com esta guerra. Esta é uma fonte de grande deceção, frustração e raiva”, disse Guterres a Zelenksy, em Kiev, capital ucraniana.
“Mas os homens e mulheres das Nações Unidas estão a trabalhar todos os dias para o povo da Ucrânia, lado a lado com tantas corajosas organizações ucranianas”, acrescentou, numa conferência de imprensa.
O secretário-geral da ONU admitiu que palavras de solidariedade não são suficientes neste momento, frisando que se deslocou à Rússia e à Ucrânia para focar nas necessidades no terreno e aumentar as operações, apesar de ser uma “missão extremamente complicada, sob condições difíceis”.
“Esta é uma das operações de expansão mais rápidas que já realizamos, e estamos muito conscientes de que nem tudo é perfeito. Tudo o que podemos fornecer empalidece em comparação com as necessidades. Estou aqui para prometer que aumentaremos os nossos esforços em todos os aspetos – coordenando-os com o Governo ucraniano a cada passo do caminho”, afirmou o ex-primeiro-ministro português.
O secretário-geral da ONU chegou à Ucrânia na quarta-feira, depois de uma visita a Moscovo, onde pediu ao Presidente russo, Vladimir Putin, que coopere com as Nações Unidas para permitir a retirada de civis das áreas bombardeadas, nomeadamente no leste e sul da Ucrânia, onde as forças russas concentram a sua ofensiva.
Esta é a primeira visita do secretário-geral à Ucrânia desde o início do conflito e acontece numa altura em que António Guterres tem sido alvo de críticas pela sua alegada passividade em tomar medidas concretas para travar a guerra.
Na conferência de imprensa que concedeu após o encontro com Zelenksy, Guterres defendeu que esta não é uma operação humanitária típica da ONU num país em desenvolvimento, uma vez que a Ucrânia é uma nação “com um Governo e um sistema de apoio aos seus cidadãos, e por isso o papel das Nações Unidas não é substituir esse sistema, é apoiar o Governo para apoiar o povo da Ucrânia”.
Num balanço da ajuda já fornecida pela ONU à Ucrânia, Guterres afirmou que o auxílio alimentar já atingiu 2,3 milhões de pessoas, mas pretende ajudar quatro milhões até maio e seis milhões de pessoas até junho.
O secretário-geral reforçou ainda que a Organização está a “avançar no trabalho de prestação de contas e justiça ao monitorizar e relatar violações de direitos humanos onde quer que sejam detetadas”.
Guterres voltou a apelar pelo fim da guerra, declarando que “não irá desistir” desse objetivo.
“À medida que continuamos a pressionar por um cessar-fogo em grande escala, também continuaremos a esforçar-nos por medidas práticas imediatas para salvar vidas e reduzir o sofrimento humano, por corredores humanitários eficazes”, disse, referindo a situação na cidade de Mariupol, que vive “uma crise dentro de uma crise”.
Na terça-feira, a ONU anunciou que Vladimir Putin concordou com Guterres com o envolvimento das Nações Unidas e da Cruz Vermelha na retirada de civis da fábrica de Azovstal, em Mariupol.
Hoje, Guterres informou que abordou essa questão com o Presidente ucraniano, afirmando que há “discussões intensas” para avançar nessa proposta e torná-la realidade.
“Finalmente, deixe-me dizer que, de muitas maneiras, estamos no marco zero para o mundo que precisamos de construir – um mundo de respeito pelo direito internacional, pela Carta das Nações Unidas e pelo poder do multilateralismo, um mundo que protege os civis, um mundo que avança os direitos humanos, um mundo onde os líderes vivem de acordo com os valores que prometeram defender”, disse António Guterres.
“Isso também é uma luta – mas é uma luta que devemos vencer pelo bem de todos os países, comunidades e pessoas ao redor do mundo”, concluiu.
Em 24 de março, de um total de 140 países que votaram na Assembleia Geral da ONU uma resolução em que era pedido à Rússia a cessação imediata das hostilidades contra a Ucrânia, 20 dos 38 que se abstiveram eram países africanos e entre os cinco que votaram contra, um (Eritreia) era africano.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de dois mil civis, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.