
Quando se entra na cidade de Irpin há uma rotunda com um letreiro que diz “Cidade Rica”. Aqui, entre florestas de pinheiros e ruas largas, veem-se casas luxuosas, bons carros, condomínios fechados e muitos prédios novos. Algumas casas estão intactas mas noutras zonas o trabalho de reconstrução não será possível, é preciso construir do zero.

A localidade de Bucha, 60 quilómetros para o norte de Kiev, nunca mais apenas um subúrbio de uma capital europeia. O horror da tortura e da morte indiscriminada de civis foi aqui particularmente sentido. Ainda não há água corrente, eletricidade para aquecer as casas ou gás para fazer comida. Os vizinhos juntam-se e cozinham na rua, com os tachos sob brasas

Oksana, residente da cidade de Bashtanka, a 67 quilómetros para nordeste de Mykolaiv, no sul da Ucrânia, chora depois de ter vindo ver, como faz todos os dias, a sua casa totalmente destruída por dois rockets russos. O marido ficou soterrado e ainda não consegue andar. O ataque foi a 13 de março

Dmytro Pletenchuk, diretor de comunicação na Administração Regional de Mykolaiv, fotografado da parte de fora do edifício onde trabalhava, agora totalmente destruído por um míssil disparado do Mar Negro. Morreram 36 pessoas num ataque que ocorreu logo de manhã, pelas 8h15, dia 29 de março

Vassily, 80 anos, chora sem controlo numa rua de Bucha, perto de um depósito comum de água potável onde, durante a ocupação, os residentes vinham abastecer-se. Diz que ouviu tiros da sua janela e viu os corpos de duas mulheres que vinham buscar água estendidos na esquina. Assim ficaram, duas semanas.

Muitos carros, carrinhas, autocarros, abandonados nas estradas da Ucrânia têm panos brancos atados aos espelhos laterais, às antenas ou nos puxadores das portas. É um sinal de paz. Mas em todas as estradas à volta de Kiev, e nas entradas das casas, como desta, em Irpin, é possível ver veículos de todo o tipo totalmente esmagados, queimados, partidos, baleados.

A destruição do edifício da Administração regional de Mykolaiv vista da praça principal da cidade. Konstantine é artista de circo, viveu no Brasil, e veio aqui tirar uma fotografia para guardar como memória “o pesadelo Putin” que a sua cidade está a viver.

Várias pessoas esperam a chegada de ajuda humanitária, numa rua de Bucha. Durante a ocupação viveram apenas daquilo que alguns voluntários mais corajosos vinham trazer à cidade, sujeitando-se a ficar presos aqui também

O quarto e o quinto andar de um prédio em Bucha, ambos totalmente destruídos pelos ataques russos. A maioria dos habitantes fugiu, alguns viveram quase um mês no abrigo do prédio e quando a ocupação acabou saíram à rua e só encontraram devastação

Svetlana e Oleg, 27 e 40 anos, ficaram presos na sua própria garagem oito dias, apenas com um lata de atum e seis litros de água, tudo o que os russos que ocuparam o apartamento do casal, em Hostomel, perto de Kiev, deixaram que levassem.

Um casaco de um soldado russo, deixado para trás numa vivenda que as tropas usaram para dormir em comer, na aldeia de Zalissya, concelho de Brovary, a 30 quilómetros de Kiev. As marcas onde os tanques estacionaram ainda se notam bem nas hortas e nos terrenos aráveis nas zonas mais agrícolas em redor da capital.

O comandante Alexandr Chech faz parte de um dos batalhões das Forças Armadas que ajudou a libertar Irpin. Nesta fotografia estava a mostrar ao Expresso uma casa particular onde os russos viveram – garrafas de vodca, cigarros, fotografias partidas, a roupa toda no chão, colchões sujos, vidros partidos, gavetas fora dos armários, pratos sujos, rações de combate, terra, ketchup, garrafas de óleo

Abril começou com vários ataques seguidos no centro e nos arredores Mykolaiv: as autoridades dizem que morreram dez pessoas numa zona comercial, a Praça da Vitória, a 4 de abril e nessa mesma semana foram também danificadas estruturas hospitalares em toda a cidade

Na estrada entre Hostomel e Bucha o trânsito tem de circular a uma velocidade extremamente reduzida, apesar de a via ser larga, porque ainda há um enorme buraco no meio do alcatrão provocado por uma bomba russa

Ralena, de 83 anos, viveu 49 no apartamento que dois mísseis russos destruíram por completo. Diz que só tem a roupa que tem vestida e alguma roupa interior em casa de vizinhos. Foi para o abrigo a 1 de março, ficou quase uma semana lá em baixo e quando saiu não tinha onde viver

Há cerca de um mês, um grande ataque russo destruiu o aeroporto de Mykolaiv, um dos mais importantes da região, que seria essencial para transportar homens e armas para o sul, e por isso foi destruído pouco depois do início da guerra

Iryna aponta para a sua casa, em Irpin, que apenas tem as janelas partidas. No seu bairro as casas estão todas de pé, mas ela e o marido tiveram de viver o mês de março inteiro no corredor, com colchões e sofás a fazer de camas.

Dmytro Pletenchuk, diretor de comunicação na Administração Regional de Mykolaiv, perto de uma sala de conferências destruída no edifício que era sede da Administração. Diz que Vladimir Putin já repetiu muitas vezes, em outros países, as “táticas nazis” que está a usar na Ucrânia – “É terrorismo de Estado”

Um dos trabalhos mais importantes dos militares e forças territoriais de defesa de Kiev, enquanto não são destacados para cenários onde ainda há guerra, é ajudar os civis a limpar as suas ruas, casas, praças, lojas, para que a rotina possa regressar.

Voluntários chegam a Zalissya, concelho de Brovary, a 30 quilómetros de Kiev do lado leste do Dniepre, para ajudar a limpar a aldeia recuperada pelo exército ucraniano
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL