Todos nós professores a determinada altura do nosso percurso já nos deparámos com aquela questão fulcral: “mas como é que eu escolhi esta profissão?”. A verdade é que, nos dias que correm, ser professor não é de todo uma profissão a ser encarada de ânimo leve.
Apesar de nos últimos anos terem sido concebidas algumas alterações ao nível da Educação, como a Agregação de escolas, o novo Estatuto dos alunos, impondo mais responsabilidade ao Encarregado de Educação, ou a escolaridade obrigatória alargada até aos doze anos, continuamos a perceber que o modelo de ensino aplicado em sala de aula pouca alteração sofreu, ainda que as Tecnologias de Informação e Comunicação tenham vindo abalar um pouco as estruturas iniciais. O ritmo acelerado de uma sociedade em pleno desenvolvimento fez-nos mergulhar num turbilhão de insatisfações associadas à falta de tempo ou motivações pessoais que em nada contribuem para o pleno desenvolvimento do sujeito em crescimento. Se uma criança passa o dia na escola, de seguida ainda vai para o ATL ou tem explicações, chega a casa perto das 19/ 20 horas, onde fica o seu tempo para brincar? Para dialogar ou trocar impressões com a família? E os pais, qual a disposição para depois de um dia intenso de trabalho ainda encontrar forças para dedicar aos seus filhos?
“Ser” não pode ser substituído pelo “ter” ou “fazer” e é neste contexto de desfasamento, do que realmente é importante, em que nos deparamos com uma escola que não consegue dar respostas às necessidades de uma sociedade descontrolada e que há muito descarrilou e se afastou da verdadeira razão de existir.
É neste contexto em que nós, os formadores e emancipadores de futuros cidadãos líderes de nações, temos de nos debater por manter a sanidade e encontrar formas de colmatar esta falta de valores sociais. E que melhor meio do que através do ensino?
Muitos de nós ainda não conseguiram perceber o quão poderosa é a nossa profissão. A nossa existência será perpetuada nas atitudes de cada ser. Ao longo da História poderemos ser encontrados, mergulhados no seu reflexo e, nesse instante, perceberemos se o que fizemos surtiu efeito ou se simplesmente desvaneceu por não ter tido qualquer impacto ou importância.
Existem inúmeros conteúdos programáticos que podem ser trabalhados em contexto de sala de aula, nas diferentes disciplinas e que, além de favorecerem aprendizagens efectivas do programa, poderão ir muito mais além e permitirem a formação de ética e de valores. Os temas são imensos: vejamos por exemplo, se pretendo explicar a importância de respeitarmos os animais, como sendo seres sencientes, que sofrem dor, medo e fome, exactamente como nós, poderei começar por introduzir este conceito com um texto sobre o tema na disciplina de Língua Portuguesa, reforçar nas Ciências Naturais quando abordamos a Diversidade dos Animais, usando a Matemática para estudar as estatísticas do abandono animal em Portugal nos últimos anos, a Educação Visual para criar cartazes dinamizadores do Movimento Animal, a Educação Musical para aprender alguma música sobre o tema, ou até quem sabe escrevê-la em conjunto, fomentando competências na área da escrita e, posteriormente, imaginar uma coreografia para a música e que poderá ser aplicada em contexto da disciplina de Educação Física.
Quando passamos a encarar o Ensino como algo mais profundo, do que a transmissão de conhecimentos, e alcançarmos que o nosso contributo influenciará o rumo da história na humanidade; quando percebemos que não podemos desmoralizar, face às constantes burocracias associadas ao processo e desunião com os demais colegas de profissão, porque cabe a nós mostrar o caminho a seguir; quando encararmos a subtileza e a beleza de todo este processo de influência e construção social, passaremos a encarar a profissão com outra motivação.
Lutemos pela igualdade de direitos e pela inclusão da diferença, pela voz de quem não se pode fazer ouvir e por escutar quem se manifesta por ajudar, lutemos por todos e para todos, pelas aves que rompem nos céus e os peixes que habitam no mar, pelo calor inebriante do sol e a luz calmante da Lua, lutemos para que a música clássica se faça ouvir e que pausas e o silêncio sosseguem a nossa alma. Sejamos corpo, alma e pensamento, sejamos eternamente professores!!!