A comunidade ucraniana em Portugal criticou esta quinta-feira, numa carta aberta, as declarações do Presidente brasileiro sobre a invasão russa da Ucrânia, manifestando-se “muito preocupada e apreensiva” por entender que o Brasil caminha para o lado errado da História.
A carta aberta será entregue sexta-feira ao fim da tarde na Embaixada do Brasil em Lisboa em nome da comunidade ucraniana em Portugal e nos países da União Europeia (UE) e também dos mais de oito milhões de refugiados da Ucrânia, no quadro da visita que Luís da Silva faz entre sexta e terça-feira a Lisboa.
No documento a comunidade ucraniana lembra que Lula da Silva referiu que a solução pacífica para acabar com a guerra é a Ucrânia desistir dos seus territórios, considerando que as culpas têm de ser repartidas pelos dois lados.
As palavras do Presidente brasileiro, proferidas na presença do chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, foram de imediato criticadas pelo Ocidente, sobretudo pela União Europeia e pelos Estados Unidos, o que obrigou Lula da Silva a “emendar a mão” para salientar que condena a invasão russa da Ucrânia e defende a paz.
“Ao mesmo tempo em que o meu Governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada. Falei da nossa preocupação com os efeitos da guerra, que extrapolam o continente europeu”, disse, posteriormente, Lula da Silva.
A “correção” nas palavras do chefe de Estado brasileiro, não satisfez, contudo, os signatários da carta aberta, rubricada pelos presidentes do Congresso Europeu dos Ucranianos, Bogdan Raicinec, e da Associação dos Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha.
“Neste contexto, consideramos que qualquer tipo de apoio que o Brasil possa entender conferir à Federação Russa será desprestigiante, levará a uma desconfiança da comunidade internacional. Ninguém quer ver o bom nome do Brasil, enquanto nação democrática e livre, manchado como aliado do regime criminoso do Kremlin, pelo que as recentes declarações nos deixaram muito preocupados e apreensivos”, lê-se na missiva.
Para os signatários do documento, que pretendem “clarificar” a ideia errada de Lula da Silva sobre o conflito, “qualquer acordo de paz justa proposto pela Federação Russa acabará em campos de concentração para o extermínio da nação ucraniana com a solução silenciosa ‘Z'”, uma referência à letra pintada nos veículos militares russos usados na invasão da Ucrânia.
Na carta aberta é garantido que os ucranianos vão “continuar a lutar”, sobretudo pelas “crianças que Putin deporta para a Rússia ao mesmo tempo que executa os seus pais”.
“Permita-nos recordar que a deportação ilegal das nossas crianças foi, aliás, a base de acusação para a emissão de um mandato de captura contra Vladimir Putin emitido pelo Tribunal Penal Internacional”, acrescenta-se no documento.
A carta aberta termina com os dois líderes a reiterarem o convite do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a Lula da Silva para visitar a Ucrânia “para ver ‘in loco’ e com os seus próprios olhos, o significado de ‘paz russa'”.

Lula da Silva antecipa viagem para Portugal
O Presidente do Brasil, Lula da Silva, viaja esta quinta-feira à noite para Portugal e aterra durante a manhã de sexta-feira em Lisboa, horas antes do que estava previsto, avança a imprensa brasileira.
Inicialmente a agenda do chefe de Estado brasileiro previa um embarque rumo a Lisboa durante a manhã de sexta-feira. Com esta alteração, o programa de Lula em Portugal arranca logo na sexta-feira.
Uma viagem que acontece no rescaldo das declarações polémicas de Lula da Silva sobre a guerra na Ucrânia, que mereceram condenação nacional e internacional. Dias depois, Lula acabou por recuar e condenar a violação da integridade territorial da Ucrânia.
No 25 de Abril, a sessão de boas-vindas a Lula da Silva está marcada para as 10:00 e contará com intervenções do Presidente do Brasil e do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva. Só depois, pelas 11:30, terá lugar a sessão comemorativa do 25 de Abril, já sem a presença do Presidente brasileiro.
Um esclarecimento que surgiu depois da polémica devido ao anúncio, em março, feito pelo ministro João Gomes Cravinho, no Brasil, quando disse que Lula da Silva iria discursar na cerimónia solene do 25 de Abril na Assembleia da República.
Apesar de ter sido posteriormente convidado por Augusto Santos Silva para assistir à sessão solene no hemiciclo, o convite foi declinado.