A segunda volta das eleições no Grande Oriente Lusitano (GOL), a mais antiga obediência maçónica portuguesa (fundada em 1802), vai disputar-se “dentro de três semanas”, disse ao Expresso um elemento do GOL, ou seja nos dias 20 ou 21 de novembro.
Dos três candidatos à sucessão de Fernando Lima, o advogado Carlos Vasconcelos, 43 anos, e o gestor Fernando Cabecinha, 67 anos, reuniram “cada um, cerca de 40 por cento dos votos” expressos, seguindo assim para o segundo turno das eleições.
O ex-secretário de Estado dos Governos de António Guterres, Luís Parreirão, 62 anos, terá tido cerca “de 20 por cento dos votos”.
Recorde-se que os cadernos eleitorais para a escolha do novo líder desta federação de lojas maçónicas registaram o ‘recenseamento’ de 1800 indivíduos do sexo masculino que, para poderem ser eleitores, têm de ter o grau de Mestre há pelo menos três anos (os dois graus anteriores são Aprendiz e Companheiro) e as quotas em dia.
O ex-ministro da Administração Interna, Rui Pereira, é mandatário da candidatura do advogado Carlos Vasconcelos, e o médico Germano de Sousa — responsável pelos laboratórios que asseguraram parte dos testes de despistagem à Covid-19 — é o mandatário da candidatura do gestor Fernando Cabecinha.
A votação deste sábado foi feita nas Lojas a que pertencem os eleitores. “A concentração [de eleitores] é maior em Lisboa, e a votação é por ‘slots’ de uma hora” para cada grupo de eleitores, explica ao Expresso um elemento do GOL. As urnas abriam às 00h deste sábado, 30 de outubro, e encerraram uma hora mais tarde, depois de ter votado o primeiro grupo agendado. A votação recomeçou na manhã de sábado (30 outubro).
O historiador (maçon) António Ventura disse ao Expresso que a maçonaria “é uma ordem iniciática (…) não é uma mera associação cívica, [tem] um substrato espiritual, é necessário passar por uma cerimónia de iniciação”.
Em Portugal, existem “mais de duas dezenas de obediências, mas os grandes princípios são iguais”, explica António Ventura.
No ano da sua morte, o poeta Fernando Pessoa escreveu um artigo onde alertava para os riscos do projeto de lei de proibição das Associações Secretas que fora apresentado pelo deputado José Cabral na Assembleia Nacional. O artigo de Fernando Pessoa foi publicado pela primeira vez na edição do Diário de Lisboa de 4 de fevereiro de 1935.
O texto ocupava grande parte da primeira página (sem assinatura) e as páginas centrais, onde foi dado grande destaque ao nome do poeta.
O artigo de Fernando Pessoa que começa na primeira página da edição do Diário de Lisboa de 4 de fevereiro de 1935, continua nas centrais. O poeta nunca foi maçon mas esteve contra a ilegalização da maçonaria. Foto D.R. Fundação Mário Soares
Neste texto, o poeta afirmava que a proposta de Lei apresentada por José Cabral visava a repressão da Maçonaria, foi aprovado e publicado no Diário do Governo de 21 de maio de 1935 (lei 1:901). A nova lei determinava que nenhuma pessoa poderia “ser provida” em lugar público (civil ou militar) do Estado sem antes declarar sob compromisso de honra que não pertencia a qualquer associação considerada secreta.
Dois anos depois, em fevereiro de 1937 – seis meses antes do atentado à bomba contra Salazar – foi aprovada a lei 1950, que determinava que os bens de todas as organizações visadas pela lei de 1935 passariam para a posse da Legião Portuguesa.
A sede do GOL, onde atualmente funciona o Museu Maçónico, foi ocupada pela Legião. Grande parte dos ficheiros e arquivos foram retirados, alguns destruídos, e a associação passou a funcionar em modo clandestino até à queda do Estado Novo, em Abril de 1974.
Notícia exclusiva do parceiro do jornal Postal do Algarve: Expresso