
A Universidade do Algarve e a ALGFuturo – União Empresarial do Algarve decidiram promover um conjunto de debates em toda a região algarvia sobre a problemática da água. O encontro de hoje denominado “Água e Sociedade” realizou-se na Biblioteca Municipal de Faro.
O debate contou com a presença de Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve, José Vitorino, presidente da ALG-Futuro, Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, António Pina, presidente da AMAL (Comunidade Intermunicipal do Algarve), Júlio Sousa, representante do município de Loulé, bem como outros autarcas, associações empresariais, técnicos e população em geral.
Ao longo da sessão foram discutidos os problemas relacionados com a temática da água, bem como soluções a adotar a curto e longo prazo.
Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, afirmou que “a questão da água vem estando na ordem do dia, na medida em que podemos vir a ter alguns problemas de escassez deste bem que é essencial a todos nós, desde o consumo humano até à atividade económica”.

“Se estiver em causa a água e a sua disponibilidade, mais essencial se torna e nós só damos valor quando não temos”, afirma.
Paulo Águas, reitor da Universidade do Algarve, referiu que “a Universidade relaciona-se, naturalmente, com a sociedade civil. Temos um protocolo de colaboração com a ALG-Futuro com quem conversamos com regularidade”.
“Há pouco mais de um mês, numa conversa com o Dr. José Vitorino foi levantada esta questão da água, à qual respondi que teríamos todo o interesse em acompanhar a ALG-Futuro na realização deste debate”, afirmou o reitor.

Paulo Águas refere que este “é um problema com uma complexidade tal que não se consegue ter uma resposta imediata, no entanto, nunca é demais discutir este tema”.
“A água é um recurso que nos preocupa a todos, que não é inesgotável. Diria que é dos poucos recursos que todos nós temos de “consumir” para poder sobreviver e nós queremos mais do que sobreviver: nós queremos sobreviver e viver”, explica Paulo Águas.
José Vitorino, presidente da ALG-Futuro e moderador do evento, referiu que “o sistema que se escolheu para fazer este debate é único em Portugal e no Algarve. Este é um modelo inovador, dada a amplitude do problema”.
“Nós aqui fazemos sessões públicas, fazemos depois reuniões intercaladas com entidades e um encontro geral final (que se realiza em fevereiro, na Universidade do Algarve)“.

O responsável afirma que “vamos recebendo contributos, reflexões em várias línguas, o que nos permite conhecimento profundo e ficar legitimados e mandatados para perante os órgãos públicos dialogarmos sobre os problemas”.
José Vitorino afirma ainda que “a duração deste debate é até à biblioteca fechar. Cada pessoa tem direito a 5 minutos, consoante inscrição”.
Por sua vez, António Miguel Pina, presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, afirmou que “os consumidores de água no Algarve se dividem na seguinte proporção: 60% para agricultura, 30% municípios, 6% golfe entre outros setores”.
“Temos uma média de perdas de água diária na ordem dos 30%. Há que trabalhar no campo da eficiência”.
“Depois dentro da eficiência, nós como consumidores temos também de ter mais cuidado com o recurso água”, afirma o responsável.

António Miguel Pina defende que “há outro domínio importante que é o aproveitamento das águas residuais”.
“O diagnóstico está feito. Na minha opinião os desafios são dois: em primeiro lugar como é que se paga e depois quem paga”.
“Ainda faltam 10 ou 15 anos para pagar a última barragem (Odelouca). Acho que devemos criar uma agenda para a década sobre o tema da água e os investimentos a fazer. Depois é como “é que se vive no curto prazo”.
António Miguel Pina afirma que “os dados do senhor ministro da agricultura e do senhor ministro do ambiente demonstram que “não chovendo, teríamos água até setembro, outubro, mantendo o mesmo perfil de consumo diário”.

“Sem água não há capacidade de desenvolver mais. O Algarve não pode aceitar que sejamos só nós a pagar. Um problema de água no Algarve é um problema do país. Os assuntos, os diques que se viu na questão do Mondego não foram pagos pelas pessoas que vivem na orla do Mondego, foram pagos pelo país”.
O responsável admite ainda que “não há solução no curto prazo. O nosso modelo de desenvolvimento tem de ser repensado até que tenhamos outra quantidade de reservas de água”.
O presidente da AMAL afirma que “o que choveu carregou um hectómetro e meio na zona do sotavento e 4 ou 5 hectómetros no barlavento”.
“Eu acho que é um desafio de todos. Os dados mostram-nos que o problema da seca no sotavento algarvio é estrutural e a agravar-se. Não temos mais tempo para continuar a adiar estas decisões”, defende António Pina.
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)