Chama-se missão DART (The Double Asteroid Redirection Test na sigla em inglês), será lançada esta madrugada se as condições meteorológicas assim o permitirem e tem como objetivo perceber a possibilidade desviar a trajetória de um asteroide através de uma colisão provocada, impedindo que os seres humanos possam vir a ter o mesmo desfecho dos dinossauros.
Ou por outras palavras, é a primeira tentativa da NASA de criar um sistema de defesa planetário, recorrendo a uma tecnologia nunca antes testada.
“Será a primeira vez que a humanidade tentará interferir com a dança gravitacional do sistema solar”, mudando a velocidade e rota de um asteroide, descreve o The Guardian. Não que haja neste momento algum corpo rochoso de grandes dimensões a caminho da Terra, nem a NASA prevê que tal possa acontecer nos próximos 100 anos.
Mas a verdade é que apenas se conhece o paradeiro de cerca de 40% dos asteroides que normalmente gravitam em torno do Sol e que podem passar relativamente perto da Terra, explica ainda a agência espacial norte-americana.
Os astrónomos calculam que, além dos destroços que se desintegram diariamente ao embater na atmosfera terrestre sem chegar à superfície, existam dezenas de milhares de asteroides, alguns com dimensões perto dos 150 metros, suscetíveis de resistir a esta passagem e deixar um enorme rasto de destruição no caso de colideram com o planeta.
A missão DART foi desenvolvida para a NASA pelo Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins e pretende então ser a primeira demonstração de que é possível alterar a órbita de um asteroide através do chamado impacto cinético.
Se no filme Armaggeddon, estreado em 1998, Bruce Willis e Ben Affleck tentavam evitar uma colisão que destruiria toda a vida na Terra, colocando uma bomba dentro do asteroide e explodindo-o no Espaço, a técnica associada ao DART é ‘ligeiramente’ diferente, complexa e, espera-se, mais eficaz.
A ideia é provocar uma colisão entre a nave que, se tudo correr bem, descola na madrugada desta quarta-feira da base de Vanderberg, na Califórnia, no topo de um Falcon 9 (foguetão desenvolvido pela Space X de Elon Musk) e atinge o alvo após uma viagem de 10 meses.
10 MESES DE VIAGEM
A 11 milhões de quilómetros da Terra, avistará Didymos (o asteroide principal, com quase 800 metros de diâmetro) e Dimorphos, o corpo rochoso mais pequeno que gravita à sua volta e que irá levar com o embate da desta sonda espacial.
Nenhum deles representa qualquer ameaça, mas estão numa localização ótima para a realização deste teste. Nem muito longe da Terra, de forma a poder ser registado por telescópios, nem muito perto, para não causar qualquer risco para o planeta que se quer proteger.
A sonda tem o tamanho aproximado de um carro e chocará com Dimorphos (com 160 metros de diâmetro) a uma velocidade de 6 quilómetros por segundo, explica-se na página da NASA dedicada a esta missão. A ideia não é destruir esta pequena lua, mas provocar uma alteração na sua órbita à volta do asteroide principal.
O embate está previsto acontecer entre 26 de setembro e 1 de outubro de 2022 e será registado por um mini-satélite construído pela Agência Espacial Italiana e que se separará da nave 10 dias antes do impacto. A ideia é captar imagens do momento da colisão, que serão enviadas para a Terra, mas também medir em que grau o impacto alterou a órbita do asteroide mais pequeno.
Se esta primeira etapa for bem sucedida, em novembro de 2024 será a vez da nave Hera, desenvolvida pela Agência Espacial Europeia, entrar em ação, viajando novamente ao encontro deste par de asteroides. O objetivo será então medir o impacto causado pela colisão em várias dimensões de forma a perceber se esta técnica de deflexão é adaptável e repetível para ameaças que venham a tornar-se reais.
“O problema é que não existem dois asteroides ou cometas iguais. A forma como conseguimos desviá-los da sua rota depende de muitas variáveis: da sua composição, densidade, velocidade e, claro, de quanto tempo temos”, explicou o diretor do National Near Earth Objects Information Centre, Jay Tate, citado pelo The Guardian, explicando que será necessário ter métodos de deflexão distintos para alvos diferentes no caso de nos confrontarmos com um cenário pré-apocalíptico como o imaginado no filme de Michael Bay.
Real foi o que aconteceu a 15 de fevereiro de 2013, quando um meteorito de ‘apenas’ 18 metros explodiu no ar, sobre a região russa de Chelyabinsk, e as suas ondas de choque destruíram estruturas em seis cidades e feriram centenas de pessoas.
E acredita-se que foi também o embate de um enorme meteorito, há 66 milhões de anos, que determinou a extinção dos últimos dinossauros. A colisão terá feito com que uma massa gigante de destroços e poeiras se levantassem , chegassem à atmosfera e tapassem a luz do Sol, impossibilitando a vida na Terra para estes animais.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL