A China, potência indiscutível na produção de veículos elétricos (EV), está a implementar uma estratégia ambiciosa para conquistar o mercado europeu. Combinando capacidade industrial, tecnologia avançada e uma logística marítima robusta, o país asiático intensificou a exportação de EV para o Velho Continente, consolidando-se como um dos principais concorrentes da indústria automóvel global.
Exportações em números: um mercado em expansão
Em 2023, as exportações chinesas de EV totalizaram 34,1 mil milhões de dólares, um aumento de 70% face ao ano anterior. A União Europeia destaca-se como o maior destino, absorvendo 40% destas exportações. A presença de fabricantes chineses no mercado europeu saltou de uma quota residual de 0,5% em 2019 para impressionantes 9,3% no quarto trimestre de 2023. Este crescimento exponencial reflete a competitividade dos veículos chineses, especialmente no segmento de modelos acessíveis.
Meganavios: o novo trunfo logístico da China
Um elemento central desta estratégia é a utilização de meganavios especializados no transporte de veículos. A BYD, líder chinesa na produção de EV, já colocou em operação três destes navios: o BYD Explorer No.1, o BYD Hefei e o mais recente BYD Changzhou. Estes navios do tipo “ro-ro” (roll-on/roll-off) podem transportar até 7 mil veículos cada, permitindo cargas e descargas rápidas sem necessidade de guindastes.
A ambição da BYD vai além do curto prazo. A empresa planeia criar uma frota de oito meganavios até 2026, reduzindo a dependência de transportadoras terceirizadas e assegurando um fluxo contínuo de exportações para a Europa. Com esta logística marítima otimizada, a China consolida a sua capacidade de inundar o mercado europeu com veículos elétricos a preços competitivos.
Desafios impostos pela União Europeia
A crescente influência da China no mercado europeu de EV despertou preocupações em Bruxelas. Em resposta, a União Europeia implementou tarifas até 35,3% sobre veículos elétricos importados da China, alegando subsídios injustos por parte do governo chinês. Estas tarifas, em vigor desde novembro de 2024, afetam empresas como a SAIC (35,3%), Geely (18,8%) e BYD (17%), além de fabricantes ocidentais com produção na China, como a Tesla (7,8%).
A medida visa proteger a indústria automóvel europeia, que enfrenta dificuldades para competir com os preços reduzidos dos EV chineses. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, reforçou que esta ação é essencial para garantir condições de mercado justas num sector estratégico.
Produção integrada: a chave do domínio chinês
Além da produção de EV, a China lidera no sector de construção naval civil, com 49% do mercado global em 2023. Esta integração vertical, aliando a produção de veículos à construção de infraestruturas marítimas, é um dos pilares da estratégia chinesa para dominar o mercado global de veículos elétricos.
Joseph Webster, do think tank Atlantic Council, sublinha a interligação entre estes sectores. Segundo o especialista, a capacidade da China de produzir e transportar veículos em larga escala oferece uma vantagem competitiva significativa, especialmente num mercado tão dinâmico como o europeu.
O futuro da concorrência no mercado de EV
Apesar dos esforços da União Europeia para travar a expansão chinesa, o crescimento das exportações de EV continua. Empresas chinesas como a BYD não só apostam em preços competitivos, mas também em inovação tecnológica e design apelativo, conquistando consumidores europeus.
A estratégia da China para dominar o mercado europeu de veículos elétricos é clara: integração industrial, logística eficiente e preços agressivos. Para os fabricantes europeus, o desafio será não só responder à concorrência, mas também inovar para garantir a sua relevância num mercado em rápida transformação. O futuro dos EV na Europa será definido pela capacidade dos diferentes players em se adaptarem a este cenário global altamente competitivo.
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