Uma cartunista do Washington Post apresentou a sua demissão depois de as chefias de redação terem recusado a publicação de um desenho satírico que incluía o ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e vários bilionários, entre os quais Jeff Bezos, proprietário da Amazon e dono do próprio Washington Post. A informação foi divulgada pela CNBC, que cita declarações tanto da profissional em questão como de fontes internas do jornal.
De acordo com os relatos publicados, a cartunista terá desenvolvido uma ilustração destinada à secção de opinião do Washington Post, na qual retratava Donald Trump ao lado de vários bilionários americanos, nomeadamente Jeff Bezos, Elon Musk e Bill Gates, entre outros. O objetivo seria abordar, de forma satírica, o alegado poder de influência desses magnatas junto de figuras políticas de topo, bem como ilustrar o possível alinhamento de interesses económicos e políticos.
Contudo, a direção editorial do periódico optou por não divulgar o desenho, alegando motivos relacionados com a sua linha editorial e com o contexto de atualizações internas a respeito de conteúdos sensíveis que envolvam possíveis conflitos de interesse. Ann Telnaes, uma cartunista ganhadora do Prémio Pulitzer, afirmou sentir-se pressionada a rever o seu trabalho e, após várias tentativas de negociação, decidiu apresentar a carta de demissão. “O jornal tem direito a determinar o que publica ou não, mas as razões que me foram apresentadas para rejeitar o desenho pareciam mais relacionadas com a presença de Jeff Bezos na caricatura do que com critérios jornalísticos”, terá dito a profissional, citado pela CNBC.
Em resposta, um porta-voz do Washington Post não comentou diretamente as alegações, limitando-se a reafirmar o compromisso da publicação com a liberdade de expressão e com a isenção editorial. “Valorizamos o trabalho de todos os nossos colaboradores, incluindo cartunistas, mas as decisões de publicar ou não determinadas caricaturas são tomadas caso a caso, tendo em conta fatores jornalísticos e contextuais”, afirmou a fonte oficial do jornal, de acordo com a CNBC.
Nos bastidores, vários observadores do setor mediático sublinham a importância de uma separação clara entre os interesses do proprietário e os valores editoriais de uma redação. Recorde-se que Jeff Bezos adquiriu o Washington Post em 2013, altura em que foram levantadas questões sobre possíveis influências na linha editorial do jornal, embora o magnata tenha assegurado que a publicação manteria a sua independência.
A cartunista, por seu turno, declarou à CNBC que a sua saída do Washington Post representa “um ato de coerência profissional”, acrescentando que não pretende abandonar a caricatura política, mas sim procurar um espaço onde possa publicar sem recear constrangimentos. O episódio gerou debate entre os críticos de media, que voltam a questionar o peso do proprietário em decisões editoriais delicadas, sobretudo quando envolvem personalidades políticas controversas e bilionários influentes. Apesar das declarações públicas, não foram avançadas mais informações sobre qualquer eventual substituição do cartoonista ou sobre o destino da caricatura rejeitada.
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