Uma investigação feita por jornalistas infiltrados do canal britânico ITV examina em detalhe e fornece provas do comércio lucrativo de clínicas espalhadas pelo Reino Unido que se dedicam a fazer testes à virgindade e cirurgia de reconstituição do hímen. Ambas as práticas são consideradas uma violação dos direitos humanos pela Organização Mundial de Saúde e por ativistas em todo o mundo.
A jornalista Sahar Zand revela como é que, “em nome da honra”, as mulheres do Reino Unido são forçadas a darem prova da sua virgindade num episódio único da série da ITV Exposure, galardoada com prémios BAFTA, que vai ser transmitido esta segunda-feira, mas que já agita os media britânicos que tiveram acesso ao material com embargo sobre o documentário.
NEGÓCIO LUCRATIVO
Apesar da condenação desta prática por trabalhadores da saúde e da tentativa de ilegalizá-la a nível oficial, a oferta da reposição da virgindade continua a ser um negócio lucrativo para dezenas de clínicas, hospitais privados e farmácias onde é comum a intervenção cirúrgica de reconstituição do hímen.
A diretora da ONG Freedom, Aneeta Prem, declarou à ITV que o número de raparigas e mulheres que procuram o seu apoio por sofrerem pressão para testarem a sua virgindade aumentou 40% desde o confinamento pela covid-19. Estas mulheres “são obrigadas a fazerem os testes pelos familiares que querem que elas sangrem quando tiverem relações sexuais na noite de núpcias – ainda que estudos demonstrem que o sangramento não é regra”, escreve o jornal “The Guardian”.
“As famílias dos noivos estão a ficar mais exigentes, sei de quem teve de apresentar um certificado de virgindade”, diz Aneeta Prem à ITV.
Segundo o jornal “The Guardian”, uma repórter da ITV visitou nove farmácias no centro de Londres, fazendo-se passar por uma noiva infeliz por a sogra lhe exigir um teste à virgindade, e cinco delas ofereceram-se para o fazer ou dar o contacto de quem o faria, e algumas propuseram passar um certificado.
Londres, Manchester e Norwich são cidades onde o programa Exposure encontrou duas dezenas de médicos que praticam atualmente cirurgia de reconstituição do hímen em mais de 30 clínicas e hospitais privados. Os preços cobrados variam entre £2000 e £3000 (cerca de €2400 e €3500).
Diana Nammi, diretora da organização de defesa dos direitos das mulheres IKWRO declarou ao “Observer”: “Os médicos estão a explorar os receios das mulheres e a cobrar fortunas por esta prática prejudicial, que muitas vezes falha o sangramento, colocando-as em risco extremos de sofrerem abuso com base na ‘honra’ ou mesmo morte por ‘honra’”. Segundo Nammi, esta é a razão pela qual é necessária uma lei robusta que proíba esta prática.
Notícia exclusiva do parceiro do jornal Postal do Algarve: Expresso