Morreu esta terça-feira Maria de Lourdes Modesto, nome incontornável da gastronomia portuguesa. A autora de vários livros sobre cozinha portuguesa tinha 92 anos.
A notícia foi avançada no Facebook pela amiga e escritora de livros da área da gastronomia Fátima Moura. “Perdemos uma pessoa muito importante para a cozinha portuguesa e para a nossa cultura: faleceu Maria de Lourdes Modesto. Eu perdi uma grande amiga. Não tenho mais palavras do que estas”, escreveu a autora da página Conversas à Mesa.

Maria de Lourdes Modesto nasceu em Beja a 1 de junho de 1930 e ficou conhecida como a “Diva da Gastronomia Portuguesa”, sendo considerada uma das mulheres mais influentes na culinária do país.
A sua primeira aparição na televisão aconteceu em 1958 na RTP. Foi precisamente na estação pública que ficou conhecida. tendo apresentado durante doze anos um dos programas culinários que teve mais sucesso no país, sendo considerada uma pioneira do formato “live cooking” (“cozinhar em direto”) em Portugal.
Ao longo da carreira escreveu também vários livros de culinária, destacando-se a “Grande Enciclopédia da Cozinha”, “Cozinha Tradicional Portuguesa” e “Receitas Escolhidas”. “O seu contributo para a defesa da identidade cultural do país continua a merecer reconhecimento e elogio unânime por parte dos profissionais e especialistas na área da gastronomia e da cultura, e de todos os portugueses em geral”, escreve a RTP numa página de homenagem à apresentadora alentejana.

A gastrónoma recebeu também reconhecimento internacional. Num artigo de 4 de março de 1987, o “The New York Times” chamou-lhe a “Julia Child de Portugal”. Segundo conta neste artigo, saiu de casa quanto tinha 17 anos para estudar Economia Doméstica. A sua ambição era a de tornar-se restauradora de tapeçarias e mal sabia cozinhar apesar dos esforços da mãe. Devido a questões financeiras teve de abandonar esse sonho. A pedido da mãe começou a cozinhar durante o verão, tendo descoberto quão criativa pode ser a culinária.
Após completar o curso, arranjou emprego no Liceu Filipa de Lencastre onde dava aulas de cozinha, jardinagem e costura. Mais tarde começou a ensinar no Liceu Francês. Já nesta escola, participou numa peça de teatro que chamou a atenção da equipa da RTP que assistiu a uma das atuações. “Não conseguiam acreditar que eu era portuguesa porque falava francês tão bem”, disse ao “New York Times”.

O diretor de programas culturais da RTP ficou tão impressionado que a convidou para apresentar programas culturais. Maria de Lourdes Modesto recusou, mas propôs antes fazer um programa direcionado às mulheres. “1958 foi o meu ano da sorte”, afirmou.
Devido ao papel que desempenhou na promoção da gastronomia portuguesa, foi galardoada em 2004 pelo Presidente da República Jorge Sampaio, como Comendadora da Ordem do Mérito.
Morreu esta terça-feira com 92 anos. De acordo com o jornal “Público”, estava há vários dias internada.
Numa nota publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa evocou Maria de Lourdes Modesto, “que durante anos se tornou numa figura muito simpática e popular da nossa televisão, através do programa de culinária que apresentava e que, em vários aspetos, era inovador para a época. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa lembra com saudade esta grande comunicadora, apresentando à família sinceras condolências.”
O primeiro-ministro, citado pela Lusa, considerou que a cozinha portuguesa perdeu uma das figuras mais respeitadas e populares, salientando o seu trabalho de recolha de receitas originárias de todo o país. “A cozinha portuguesa perdeu hoje uma das suas figuras mais populares e respeitadas. Dos simples amadores aos mais refinados chefs, todos aprenderam com Maria de Lourdes Modesto”, escreveu António Costa na rede social Twitter.
Na mesma mensagem, o primeiro-ministro destacou o trabalho de recolha que Maria de Lourdes Modesto fez de receitas originárias de todo o país. “Esteve na origem daquela que é, justamente, a bíblia da cozinha tradicional portuguesa. Transmito as minhas sentidas condolências aos seus familiares e amigos”, acrescentou.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL