Com eleições à vista, o ministro das Infraestruturas e da Habitação afirmou esta terça-feira que, afinal, a ligação ferroviária entre Vila Real de Santo António, no Algarve, e a cidade espanhola de Huelva, e depois a Sevilha, está no “topo das prioridades” do Governo.
Esta é a primeira vez que um membro do Governo diz oficialmente que a ligação entre o Algarve e Espanha por ferrovia está “topo das prioridades”.
Ainda na passada quinta-feira, o primeiro-ministro português, António Costa, considerou que era “um sonho” poder unir as regiões do Algarve e da Andaluzia, através de uma nova ligação ferroviária, e “um dia” lá se chegará.
“Esperamos um dia ter uma ligação [ferroviária] que permita unir os corredores atlântico e mediterrânico, ligando o Algarve à Andaluzia. Seria um sonho para todos nós e um dia lá chegaremos”, afirmou.
O chefe do Governo português respondia a uma pergunta de um jornalista espanhol na conferência de imprensa que encerrou a 32.ª cimeira entre Portugal e Espanha, realizada em Trujillo, na província espanhola de Cáceres.
Assinatura do contrato de consignação da obra de eletrificação da linha ferroviária do Algarve entre VRSA e Faro
Pedro Nuno Santos deixou esta garantia ao país e ao Algarve em Vila Real de Santo António, ao discursar na cerimónia de assinatura do contrato de consignação da obra de eletrificação da linha ferroviária do Algarve entre essa cidade algarvia e Faro, realizada hoje na estação de comboios da localidade fronteiriça com Espanha.
“Há dois anos atrás, pouco se falava da ligação a Sevilha. Os algarvios nunca se esqueceram dela, mas a verdade é que, nos últimos tempos, ela ganhou uma nova centralidade, porque cada vez que nós falamos com espanhóis das ligações a Espanha, no topo das nossas prioridades está a ligação de Vila Real de Santo António a Huelva/Sevilha”, afirmou Pedro Nuno Santos.
O ministro considerou que esta é uma ligação “muito importante” para Portugal, porque atualmente há “uma linha ferroviária contínua desde a Hungria até Huelva” e à qual faltam cerca de 50 quilómetros, em território espanhol, para poder chegar à fronteira com Portugal, em Castro Marim ou Vila Real de Santo António.
Pedro Nuno Santos reconheceu que “é difícil compreender” como “uma linha ferroviária que vem da Hungria, atravessa Itália, atravessa França e atravessa Espanha, vai até Sevilha, que é a quarta maior cidade de Espanha, e para em Huelva”, ficando depois ”dezenas de quilómetros até à fronteira sem uma linha ferroviária”.
“Já existiu, Espanha levantou os carris, até agora os espanhóis não nos disseram que não – e tenho de ter muito cuidado com o que digo porque são sempre questões diplomáticas e a nossa relação com o Governo espanhol é ótima –, e embora nunca nos tenham dito que não, não está no topo das suas prioridades”, acrescentou.
Por isso, o governante admitiu que “esta é uma batalha” que “todos terão de travar”, numa referência às entidades do Algarve, ao Governo central e à Região Autónoma da Andaluzia, que “deseja esta ligação”, frisou.
“A partir do momento em que tivermos uma ligação que já vem do centro da Europa e puder ligar ao Algarve, e com o número crescente de turistas e passageiros que escolhem de forma crescente a ferrovia como meio de transporte, dá para perceber obviamente os ganhos que o Algarve terá se nós conseguirmos completar aquela falha que ainda temos entre Huelva e Vila Real de Santo António”, disse, sublinhando que este foi um dos assuntos abordados com as autoridades espanholas na Cimeira Ibérica que se realizou na semana passada, em Trujillo, Espanha.
O ministro destacou também a importância para o ambiente e para economia das famílias da eletrificação da linha do Algarve entre Vila Real de Santo António e Faro, que deverá estar concluída em outubro de 2023, segundo o contrato assinado hoje entre Infraestruturas de Portugal, que gere a linha ferroviária portuguesa, e o consórcio Sacyr Neopul/Sacyr Somage.
O projeto vai permitir também reduzir entre 10 e 25 minutos o tempo de percurso entre Faro e Vila Real de Santo António e que os comboios de longo curso possam ligar Lisboa à cidade fronteiriça algarvia, além de contribuir para a transição de combustíveis fósseis para uma mobilidade elétrica e para a redução de custos com a criação de um transporte público mais eficiente.
Pedro Nuno Santos defende continuidade da geringonça
O ministro da Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, afirmou hoje que o entendimento parlamentar à esquerda que sustentou o Governo PS nos últimos seis anos funcionou e “não foi um parêntesis” na democracia portuguesa.
“O entendimento à esquerda não foi um parêntesis na história da democracia portuguesa e a direita tem se habituar a isso”, afirmou o ministro das Infraestruturas, em Vila Real de Santo António, à margem da assinatura do contrato de consignação da obra de eletrificação da linha ferroviária do Algarve entre Faro e essa cidade algarvia.
Pedro Nuno Santos considerou que o país tem de “viver com mais naturalidade com momentos como este”, referindo-se à reprovação do Orçamento do Estado para 2022 e à consequência anunciada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de que iria dissolver a Assembleia da República e convocar eleições legislativas antecipadas.
O governante deu como exemplos outros países da Europa que também realizaram processos eleitorais e podem levar meses a constituir um novo Governo, como a Holanda ou a Alemanha, e defendeu o trabalho realizado ao longo dos últimos seis anos pelo executivo socialista, que apenas durou menos tempo, na democracia portuguesa, que aquele liderado por Aníbal Cavaco Silva.
Pedro Nuno Santos considerou que as “eleições fazem parte da democracia” e é, por isso, necessário “conviver com naturalidade com estes momentos” em que as legislativas podem ser antecipadas.
“A única coisa que eu sei é que temos ouvido muitas afirmações, normalmente de quem se posiciona à direita – e é importante também referir isso, porque isso tem uma lógica – , de como se o fim desta solução provasse que ela não funciona. E a verdade é que ela durou seis anos”, afirmou o ministro das Infraestruturas.
Pedro Nuno Santos destacou que o atual Governo socialista, chefiado por António Costa, teve “a segunda maior duração de sempre de um Governo em Portugal” e que o país só teve “uma Governação que durou mais de seis anos, que foi aquela que foi liderada por Cavaco Silva”.
“Portanto, se alguma coisa estes seis anos provaram, é que a solução [à esquerda] funciona. E não só funciona pelo tempo que durou, mas funciona pelos resultados que proporcionou ao país”, sustentou, refutando a ideia passada pela direita de que o executivo apoiado pelo Partido Comunista Português e pelo Bloco de Esquerda provocou “muito do despesismo”.
Pedro Nuno Santos justificou a sua posição considerando que, com este Governo, o país “conseguiu um excedente orçamental antes da pandemia, conseguiu reduzir a dívida pública em percentagem do PIB [Produto Interno Bruto] antes da pandemia”, que obrigou, frisou, “o Mundo inteiro a aumentar a despesa pública”.
“Portanto, nós tivemos um Governo que conseguiu recuperar rendimentos, investir no estado social e diminuir a dívida pública”, afirmou Pedro Nuno Santos, classificado ainda como “um resultado extraordinário” um “Governo apoiado pelo Partido Comunista Português e pelo Bloco de Esquerda” ter conseguido “uma taxa de juro inferior à de Itália e à de Espanha”.
Para o ministro, esta foi uma “solução” que “funcionou pelo tempo, que foram seis anos, e funcionou pelos resultados”.
“Eu sei que isto incomoda muito a direita portuguesa. Mas vão ter de se habituar porque ela não foi um parêntesis na história da democracia portuguesa”, afirmou, reiterando que “não foi um parêntesis, isso podem ter a certeza”, ao ser questionado se a solução poderia repetir-se após as eleições legislativas que, a maioria dos partidos políticos, gostariam de ver realiza-se em meados de janeiro.
– Notícia da SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL – VEJA AQUI O VÍDEO