Três festivais de música retiraram a DJ russa Nina Kraviz dos seus cartazes, devido à posição da DJ e produtora em relação à guerra na Ucrânia.
Kraviz tem sido acusada de conivência com o regime de Vladimir Putin e de pouco ter dito em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia. O caso está a gerar polémica e a dividir a comunidade techno.
No início deste mês, a Clone Distribution cortou relações com a editora Trip Recordings, criada por Kraviz, devido a “pontos de vista diferentes no que toca a questões morais e éticas”. Seguem-se-lhe, agora, o Movement Music Festival (em Detroit, EUA), o Crave (Haia, Holanda) e o PollerWiesen (Dortmund, Alemanha).
Na semana passada, um grupo de ucranianos a residir em Detroit criou uma petição onde pedia ao Movement Music Festival que retirasse Nina Kraviz do cartaz, a não ser que esta se posicionasse publicamente contra a guerra. Já o Crave e o PollerWiesen cancelaram os sets de Kraviz após “discussões internas”.
Em fevereiro, aquando da invasão, a DJ publicou um vídeo onde se podia ler a palavra “paz”. No entanto, a DJ ucraniana Nastia acusou tal mensagem de ser demasiado ambígua, não criticando diretamente Putin ou o governo russo.
Esta semana, Kraviz partilhou um novo comunicado onde esclarece que “as relações do meu país com a Ucrânia tornaram-se uma coisa abominável”. “Sou contra qualquer forma de violência e rezo pela paz. Custa-me muito ver inocentes a morrer”.
Porém, Nina Kraviz escreve também: “Sou música e nunca apoiei políticos ou partidos, nem planeio vir a fazê-lo. Não compreendo a política nem os processos sociais que ela cria. Por isso não me parece bem falar nas redes sociais sobre o que está a acontecer”.
“Sempre acreditei que a missão da música eletrónica é unir as pessoas, apagando as fronteiras entre elas, em vez de separá-las”, defende a russa. “Quando lanço música na minha editora, o que me importa é o talento do artista, não o país em que nasceu. Vou continuar a seguir esses princípios de unidade, apesar das tentativas de censurarem os artistas da minha editora”, remata.
Segundo a revista “Time”, vários músicos eletrónicos da Rússia e da Ucrânia criticaram este mesmo silêncio e desafiaram-na a revelar a sua posição sobre o conflito. Ao contrário de outros artistas russos, porém, Nina Kraviz não viu serem cancelados os seus compromissos ao vivo (em abril passou por Portugal para a edição de estreia entre nós do festival Sónar Lisboa, e tem regresso marcado para agosto, para atuar no festival Neopop), apesar de, este mês, a sua editora, a Trip Recordings, ter perdido o vínculo com uma distribuidora holandesa, que para terminar esse contrato alegou “visões diferentes no que toca a questões éticas e morais”.
- Texto: Blitz do Expresso, jornal parceiro do POSTAL