O movimento Glocal Faro aponta o dedo às obras da “apelidada requalificação da Mata do Liceu, da responsabilidade do executivo camarário de Faro”, que foram inauguradas na passada sexta-feira.
“Falamos de uma obra pública, num dos raros espaços verdes que ainda persistiam em Faro, utilizado e fruído por inúmeras famílias com crianças, jovens estudantes, desportistas, séniores, onde foram despendidos mais de 1 milhão de euros e para o qual os habitantes não foram ouvidos previamente ao projecto, nem as suas sugestões, apresentadas antes da execução da obra, foram aceites”, começa por dizer a Glocal Faro no comunicado enviado às redações.

“Desfez-se, enfim, uma mata, que passou a designar-se por “eco-jardim”, com direito a “workout spots”, mobiliário urbano e trilhas em cimento, impermeabilizações várias, campos de basketball cor-de-rosa choque, relvados e rega em barda, e aspersores, e mais aspersores”, acrescenta.
“É esta a insustentável remodelação paisagística que, na passada sexta-feira, foi apresentada com muita pompa, circunstância e o habitual e fundamental cortejo de marketing, à sequiosa população de Faro”, considera.
“Sequiosa, sim, porque Faro clama por árvores e espaços verdes. Sequiosa, sim, porque Faro quase não tem sombras. Sequiosa, sim, porque se decidiu acabar com 17 parques infantis espalhados pelos vários bairros da cidade e as famílias simplesmente não têm alternativas ao ar livre para brincar e fruir com os seus filhos, nem os desportistas têm espaços à altura para as suas práticas. Sequiosa porque a água escasseia, de ano para ano, mas continuamos a insistir nos relvados e a impermeabilizar-nos até ao tutano”, pode ler-se no comunicado.

Pode ser que “os aumentos absurdos das tarifas da FAGAR que foram recentemente impostas à população, consigam cobrir parte das despesas que advirão da gestão e manutenção deste novo eco-espaço. (Mas as sinapses da memória também nos lembram o enorme desperdício de água provocado pelas constantes rupturas na rede de distribuição de água deste concelho)”.
O movimento Glocal Faro afirma que “um pouco por toda a Europa, a tendência é outra. Começam a disseminar-se florestas Miyawaki, com exemplos de sucesso na Holanda e no Reino Unido. Aqui no Algarve, também já foi dado o pontapé de saída num bonito projeto no Algoz, pelas mãos do coletivo Floresta Nativa. Um método mais orgânico, mais consistente, mais sustentável, ambiental e financeiramente, e com melhores resultados em menos tempo”.
O movimento lamenta que “não tenham sido tidos em conta todos os alertas e sugestões feitos, quer pelo Glocal, quer por outros cidadãos, e prevê que daqui a 15 ou mais anos, após enorme gasto de água e de tratamentos, volte a haver sombras neste novo jardim; nessa altura, talvez o espaço retome a função de diminuir a temperatura e de purificar o ar da cidade”.
