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A loja FNAC de Faro foi palco, na passada quarta-feira, pelas 21 horas, de um debate sobre o “Futuro de Portugal”, tendo contado com a presença de 32 empresários, directores, médicos e um cônsul.
Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro, abriu o evento focando a grande dívida que os seus antecessores lhe deixaram. Enfatizou que “o importante é trabalharmos para reparar o que precisa ser melhorado e exemplificou com a recuperação de imóveis antigos que gera muito emprego”.
Seguiu-se João Fernandes, vice-presidente da Região de Turismo do Algarve, que trouxe dados recentes sobre o crescimento desta vital actividade para a região e o país, indicando que “as previsões para 2016 e 2017 são positivas, já que os problemas que os nossos concorrentes no Mediterrâneo devem continuar por algum tempo. Em 2015 o turismo trouxe 6,4% do PIB e 7,9% do emprego; pode crescer 3,6% em 2016. No mundo ele representa 9,8% do PIB”. Destacou, contudo, que “temos que desenvolver mais as outras modalidades além do sol, praia e golfe para que a sazonalidade seja reduzida”.
Elidérico Viegas diz que há um exagerado optimismo na área do turismo
Já Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), na sua intervenção alertou para o exagerado optimismo. “Os 12 milhões de turistas que já tivemos não foram ultrapassados em 2015”, salienta. Mencionou também a sazonalidade e a necessidade de mais promoção e atrair não apenas os que hoje fogem dos problemas dos nossos concorrentes. Disse serem “optimistas os dados acima referidos, considerando que outros concorrentes além dos conflituantes, lutam para nos superar”.
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Mendo Henriques, presidente do Instituto da Democracia Portuguesa, salientou “a necessidade de uma reviravolta europeia na atitude face à dívida. Primeiro deve ser enfrentada a dívida das famílias e empresas e não a dos bancos e Estados”. Destacou a enorme dívida portuguesa, sendo a privada maior do que a pública e com as parcerias pública-privadas o total chega ao astronómico 700+140MM€, totalmente impagável. Isso deve-se à “política do betão”, iniciada nos anos 1980. “Nos últimos 20 anos, essa dívida fez secar os investimentos”, concluiu.
FNAC da Guia recebeu o segundo debate
No dia seguinte, também, Às 21 horas, seguiu-se o segundo debate subordinado à mesma temática, desta feita, na loja FNAC da Guia (Algarveshopping), em Albufeirs.
O evento contou com a participação de 35 empresários, directores e médicos, sendo oito de cinco países e um cônsul.
A discussão iniciou-se com a intervenção de Rui Virgínia, da Quinta do Barranco Longo, que falou de empreender no Algarve e da qualidade dos vinhos para exportação. Trabalha com estrangeiros e visitantes, sem nenhum apoio institucional, e exporta mais do que consegue produzir.
Gerhard Zabel falou de agroturismo e agricultura biológica
Seguiu-se Gerhard Zabel, da Quinta da Figueirinha, que centrou-se no agroturismo e na agricultura biológica, focando turistas de natureza, especialmente dos países de fala alemã.
Mário Nunes, presidente da Associação de Profissionais de Figo da Índia, mencionou o que faz a associação e o quanto se poderia reduzir a importação de substâncias farmacêuticas se o Estado ajustasse as suas regras à realidade do sector.
Seguiu-se Nuno Miguel Neto, presidente da APEXA – Associação de Apoio à Pessoa Excepcional do Algarve, que falou da integração na comunidade e “como os deficientes podem tornar-se úteis e independentes com ajuda para auto-ajuda, com qualificação profissional e outros apoios”.
O professor universitário e autor sueco Göran Linde destacou os problemas da União Europeia e dos pequenos países numa estrutura muito burocrática e longe da realidade.
Ricardo Mariano, no seu discurso, falou de como ao importar produtos da China, também apoia pequenos exportadores a penetrar nalguns nichos daquele país.
O presidente do IDP – Instituto da Democracia Portuguesa, Mendo Henriques, disse que a dívida total pública e privada dos portugueses é impagável, uns 840 milhões de euros e que “só mediante a sua renegociação e reestruturação Portugal poderá ter um futuro como país independente do jugo financeiro estrangeiro”.
Destacou que “a dívida é o preço da política do betão, que nos anos 80 e 90 teve benefícios para equipamentos, habitações, estradas e indústrias colaterais mas que depois se tornou contraproducente e ruinosa”.
Jack Soifer destacou o potencial das empresas para gerar emprego
Jack Soifer, consultor internacional e autor dos livros “Portugal Pós-Troika? Ontem e Hoje na Economia?” e “Algarve/Alentejo–My Love”, trouxe ao debate o potencial de muitos nichos para gerar emprego no país. Enquanto outros falam da garrafa meio-vazia, ele fala da meio-cheia, “precisamos e podemos todos unidos trabalhar para corrigir pequenos desvios e desenvolver o que ainda podemos melhor explorar”. Falou dos efeitos da saída do Euro da Finlândia, Áustria e Grécia e, se não o permitirem, a saída da UE, após o GREXIT.
O consultor internacional mencionou alguns nichos de turismo, riquezas do mar, ervas aromáticas, gastro+enoturismo, doces e bebidas, mas alertou para a burocracia que assusta os investidores.
Participaram também no debate Carlos Luís, presidente da Agência de Turismo do Algarve, que o promove no estrangeiro. E ainda o economista Fernando Santos e a directora comercial Maria Helena Baião. Um dos temas que esteve no centro das atenções foi o desemprego.
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Aproveitando a presença de médicos, fisioterapeutas e psicólogos, Jack Soifer destacou o potencial do turismo médico e de saúde em toda Portugal e no Algarve. Falou ainda da burocracia mórbida que afasta investimentos tecnológicos.
Alexandra Maasberg, produtora do premiado azeite extra-virgem Jóia do Sul, falou do lobby como responsável pela deturpação da concorrência entre empresas e instituições. Foi ainda sugerido um boicote às grandes empresas que pagam impostos em paraísos fiscais como Luxemburgo e Holanda, em vez de onde são gerados. “Mas não temos opção, pois Edp, Galp e operadoras telefónicas são oligopólios perfeitos, dependemos deles. Há que alterar a legislação fiscal, como fizeram os nórdicos”, concluiu.
Foram ainda apresentados os directores da CGD e do BancoBIC. Não falta capital, mas sim bons projectos.
De salientar que João Galante abriu e encerrou o evento com jazzfado, seguiu-se um longo convívio pela noite fora com vinhos de Rui Virgínia.