A 1.ª edição do Festival da Comida Esquecida pretende mostrar as tradições da serra algarvia, com atividades durante sete meses, para que “não se esqueça o interior, as suas tradições e produção”.

De outubro deste ano a maio de 2020, vai ser possível participar em piqueniques, realizados em “locais naturais emblemáticos”, assistir a experiências sensoriais em jantares nos monumentos algarvios, ir à horta colher “ingredientes menos conhecidos do público” e confecioná-los com cozinheiros locais, culminando numa festa de encerramento no Centro de Querença, transformado, por um dia, “na casa da D. Glória”, afirma Alexandra Santos da Cooperativa Qrer.
O festival surge na sequência do trabalho realizado por esta cooperativa no interior serrano algarvio, nomeadamente na produção local e na gastronomia como base do desenvolvimento do território e na perceção que foram tendo do “desaparecimento de muitas comidas” destaca Alexandra Santos, como as sardinhas garnentas, pau roxo, catacuzes, alcagoitas, cherovias e milhos fervidos ou aferventados.
A cooperante destaca a falta de tempo para confecionar pratos mais trabalhosos, levando a que haja espécies agroalimentares “em vias de extinção”, até porque as práticas agrícolas se estão a tornar “cada vez mais massivas”, com o agricultor local a ter “cada vez mais dificuldade de escoamento”. Temas que têm sido trabalhados pela Qrer e que servem de base a este festival.
O primeiro piquenique aconteceu no passado sábado na Quinta Pedagógica de Silves e incluiu uma refeição composta de entradas, sopa, um prato de tacho, sobremesa, tudo cheio de aromas de outros tempos.
Inicialmente marcado para a aldeia da Azilheira teve de ser mudado devido às previsões meteorológicas.
Próximo piquenique está marcado para 28 de março
O segundo momento de partilha e de convívio está marcado para 28 de março do próximo ano na Penina, no concelho de Loulé, seguindo-se Santo Estêvão, no concelho de Tavira, a 18 de abril, e Cacela Velha, no concelho de Vila Real de Santo António, a 2 de maio, sempre marcados pela participação do instrumento de referência do Algarve – o acordeão – que será celebrado com uma atuação durante o piquenique, como se fazia “no antigamente”.
Uma das intenções do festival é chamar a atenção para “o desligamento da natureza”, diretamente relacionada com “os atuais ritmos de vida”, que contribui para a diminuição “da variabilidade da alimentação humana”, assim, os jantares sensoriais “Momentum – da floresta ao prato, uma experiência sensorial” pretendem levar ao contacto ”com comidas que não são de fácil acesso”, diz Alexandra Santos à Agência Lusa.
E para este ano ainda!
Os jantares, que têm como base a “sustentabilidade e o ciclo natural das plantas”, acontecem ainda durante o ano de 2019 no Museu do Traje, em São Brás de Alportel, a 7 de novembro, no Convento do Carmo, em Lagoa, a 9 de novembro, e na Ermida da Guadalupe, em Vila do Bispo, no dia seguinte, com a coordenação de Ricardo Bonacho, Maria José Pires e André Gerardo.
Alexandra Santos confessa que, ao trabalhar no interior, “todos os dias se descobrem coisas novas”, já que havia muitas plantas silvestres que as populações apanhavam nos campos e cujo conhecimento, de “quais são e para que servem”, se vai esquecendo com o tempo.
É essa da base da iniciativa “Colher para cozinhar”, remetendo para o conceito de horta e da importância das comunidades e que já tem encontros marcados para Giões (Alcoutim), a 30 novembro, na Tôr (Loulé), a 08 dezembro, e em Maria Vinagre (Aljezur) a 23 de fevereiro do próximo ano.
“Na casa da D. Glória” é o nome a festa de encerramento do festival, no dia 30 de maio, onde a música, animação de rua, aulas de culinários, tasquinhas e o artesão/produtor alimentar vão marcar presença durante todo o dia, com a realização de mercado no centro de Querença.
Nesse dia, as famílias de Querença vão abrir as portas de suas casas e proporcionar uma refeição aos visitantes e turistas.