Nada há de mais certo na nossa fugaz existência do que a certeza absoluta de que um dia tudo findará e que a nossa entidade física será devolvida ao planeta, podendo ou não, perpetuar na memória de quem nos sucede. Falar das proezas da vida é algo fácil e prazeroso, já a morte acarreta em si uma realidade dura, fria e sombria! O medo do desconhecido, a perda, a ausência, ferem brutalmente a alma de quem a sente, dilaceram a alegria dos dias, trepidam a nossa racionalidade, ainda que haja quem acredite que poderá existir “uma vida depois da morte”, o que poderá servir de bálsamo apaziguador do espírito. E se a partida de um ente querido é respeitada pela sociedade como um dos momentos mais difíceis vivenciados durante a nossa estadia terrena, havendo mesmo um regime jurídico de faltas para que um trabalhador possa justificar o seu período de luto, o mesmo não acontece no que respeita a outros membros da nossa família – os nossos amados animais de estimação.
Apesar do crescente número de denúncias por maus tratos a animais, creio ser evidente uma gradual preocupação social no que confere a defender a integridade física e psicológica dos mesmos, talvez por existir um maior esclarecimento acerca das suas necessidades e por estarmos mais atentos às situações que nos rodeiam. Segundo a Declaração de Cambridge está devidamente comprovado e fundamentado que os animais são seres sencientes e que, tal como nós, sentem medo, alegria, fome, frio, amor, angústia, tristeza ou dor. Mas, se estes parecem começar a fazer parte integrante das famílias consagrando-se como uma presença insubstituível nas nossas vidas e ocupando um lugar muito importante e especial nos nossos corações, como pode a nossa constituição portuguesa considerar ser possível ficar insensível ao seu desaparecimento? Como é que a angústia sentida durante esse momento não constitui por si só justificação mais do que suficiente para o recolhimento da alma?
Quem já passou pela experiência sabe o quão dolorosa esta consegue ser, além de se manifestar como muito similar à partida de um humano por quem nutrimos sentimentos de afeto. Das várias conversas que tenho tido a este respeito com amigos e conhecidos, a maior parte, admite ter passado por estados depressivos após a morte dos seus animais de estimação o que nos leva a questionarmo-nos se a falecimento destes está a ser avaliado com a devida pertinência.
Devemos, evidentemente, respeitar a vida mas jamais ignorando a morte já que esta irá inevitavelmente ocorrer um dia. A morte é uma parte integrante do processo existencial e, ocorra ela numa pessoa ou num animal, carece de tempo para ser devidamente ultrapassada e assimilada pelo trabalhador que por cá continue a sua jornada.