No passado sábado, 23 de novembro, no piso inferior do Mercado Municipal de Faro, vivia-se um ambiente bem diferente do habitual. Decorria o “Faro R3COOPERA”, uma iniciativa inédita, que juntou, na capital do Algarve, diversas atividades e atores: exposições, projetos, conversas, reparadores, organizações várias, envolvidos todos, de alguma forma, em práticas de Reutilização, Reparação e outras formas de Reaproveitamento, sob o enquadramento da Semana Europeia da Prevenção de Resíduos.
“Quando se fala em economia circular, normalmente pensa-se em Reciclagem – mas há outros ‘Rs’ que são tão ou mais importantes”, dizem os organizadores, “Reduzir, Reutilizar, Reparar, prolongar o tempo de uso dos objectos e evitar o consumo desnecessário, diminuindo assim o desperdício de recursos e a produção de resíduos”.
No evento, onde participaram mais de 100 pessoas, os promotores – R.Util-Faro, Cívis, New Loops e Lixarte – e os muitos parceiros que a eles se juntaram, pretenderam “dar a conhecer o que já se faz no concelho de Faro e mobilizar a comunidade para desenvolver novas acções e práticas de consumo mais conscientes e sustentáveis”.
Se no tempo dos nossos avós nada que pudesse ser reaproveitado se desperdiçava, mesmo que para fins diferentes do original – como as jantes transformadas em grelhadores! – na atual sociedade do consumo fácil, esses hábitos e competências foram-se perdendo…
Estão agora a ser resgatados por artistas, artesãos, educadores e simples cidadãos que, com criatividade e técnica, voltam a dar “bom nome” à capacidade de valorizar o que parecia já não ter uso.
O Faro R3Coopera juntou vários exemplos de boas práticas, alguns nomes já conhecidos, com participação habitual noutras exposições, como a Metal Art, de João Jesus, com esculturas inteiramente criadas a partir de peças metálicas usadas. Ou a konceito. r, uma marca da upcycler Cristina Guerreiro, que cria peças de roupa únicas, com materiais descartados. E também “O Polvo”, uma das instalações do LIXARTE_Rotundas (pelo AE João da Rosa, um projecto de ARTivismo climático e ciência cidadã, que transforma lixo marinho em arte) que trouxe ainda ao evento uma exposição de fotografias vencedoras do II concurso “Praia Suja, Praia Limpa”.
As Jóias da Lai, bijuteria que os participantes puderam ver fazer, a partir de cápsulas de café; o upcycling do Marcos, que constrói objetos úteis a partir de desperdício; as miniaturas de edifícios icónicos de Faro recriadas pelo Sr. Fantasia; a recuperação de móveis e criação de objetos de decoração por Suzy Constantino, foram outras das inspirações para a transformação criativa, expostas aos visitantes.
Mas houve também oportunidades de participação mais activa e aprendizagem para todas as idades, com a Oficina para os mais pequenos “Brincar sem desperdiçar” da associação New Loops, ou o workshop para criar peças de tear artesanais montadas em cartão reciclado, pela konceito.r.
Também lá esteve o “Trocado por Miúdos”, um mercadinho de trocas de roupa, livros e brinquedos para e por crianças, organizado pela Picada Cultural e Casa da Árvore, com colaboração da Nova Meta, New Loops e jovens voluntários, que é já uma iniciativa habitual em Faro.
A Oficina “Reparamos juntos”, onde voluntários experientes ofereceram o seu apoio aos visitantes no conserto de aparelhos elétricos e eletrónicos e em costura, foi uma estreia, que os promotores esperam que possa tornar-se uma atividade regular na cidade, incentivando a reparação em vez do descarte, do que ainda tem arranjo.
Já a divulgação do movimento Refood Faro – Aproveitar para Alimentar e das lojas solidárias da BUSF-Portugal, e despertar, que recebem doações de vários tipos de bens para depois os vender a preços simbólicos, foram convites para que os farenses continuem a implicar-se na reutilização e luta contra o desperdício, podendo ao mesmo tempo contribuir para estas importantes causas sociais.
Também de apresentações, troca de ideias e informação se fez o R3COOPERA. Maria de Lurdes Carvalho, da CCDR Algarve, trouxe a perspetiva regional sobre a economia circular, e Ivo Carvalho, consultor na área da sustentabilidade, acrescentou um modelo centrado nas cidades, resultante do seu trabalho na região.
Por sua vez o R. Util-Faro apresentou o mapeamento que tem estado a realizar no concelho, de espaços de troca, compra e venda em segunda mão, doação, partilha e reparação de usados.
“Existem já em Faro algumas iniciativas importantes para a reutilização e reparação de diversos bens, mas nem sempre são suficientemente conhecidas”, diz um elemento deste coletivo de cidadãos/voluntários. Porque “é preciso divulgar o que já existe – e é também a partir daí que podemos perceber o que falta e como podemos torná-lo realidade”.
Sublinharam ainda que “a sensibilização e motivação das pessoas é importante, mas têm também de encontrar a nível local alternativas acessíveis, atrativas. Há que criar mais oportunidades e competências que incentivem o reaproveitamento, para inverter a situação no que toca ao desperdício, e tornar a ‘boa escolha’ uma escolha (mais) fácil.”
E foi com esse objetivo que a sessão, moderada por Pedro Duarte, terminou com um debate, animado por Laura de Witte, em que os presentes puderam contribuir com sugestões de como continuar a promover as dinâmicas de reutilização, reparação e upcycling no concelho, que ficaram registadas, para ações futuras, eventualmente para candidaturas ao orçamento participativo de Faro cujos prazos foram divulgados por Andreia Oliveira, da Câmara de Faro.
Outros momentos e espaços informativos apelaram ao apoio ao movimento-petição “Faro Livre de Uso Único”, promovido pela Sciaena, organização empenhada na proteção do oceano.
Simbolizando o movimento colaborativo dinâmico e aberto a/feito por todos que o Faro R3COOPERA pretende criar, a tarde terminou com uma aula livre de danças tradicionais oferecida pelas Danças do Mundo ao Sul.
O Faro R3COOPERA, iniciativa cidadã, de caráter voluntário, teve o apoio da Sciaena, na criação da imagem; da Ambifaro, na cedência de espaços e equipamentos; da União das Freguesias de Faro, na cedência de equipamentos; e ainda da CCDR Algarve, Europe Direct Algarve e mais de duas dezenas de organizações, grupos e indivíduos que ofereceram a programação.
Para que a dinâmica gerada possa continuar e ganhar mais força, os interessados na Redução, Reutilização, Reparação e Reinvenção no concelho são convidados a contactar o R.Util-Faro.
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O Europe Direct Algarve faz parte da Rede de Centros Europe Direct da Comissão Europeia. No Algarve está hospedado na CCDR Algarve – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve.
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