A indústria, apercebendo-se do aumento de adeptos do veganismo, começou a produzir cada vez mais novos produtos para esse público-alvo. O consumidor tem um grande poder de mudança no mercado, por exemplo, se deixarmos de consumir leite e derivados, a indústria começará a investir mais em leites vegetais e assim sucessivamente.
Agora a verdadeira mensagem por detrás do veganismo essa acho mais difícil passar, o veganismo é uma filosofia de vida onde os indivíduos veganos para além de praticarem uma dieta 100% de origem vegetal são contra todo o tipo de crueldade e exploração animal (como por exemplo: vestuário ou calçado de couro/ peles; cosméticos de origem animal; marcas que realizam testes em animais; circos; zoológicos; oceanários; touradas; pet shops…). A nossa sociedade cresceu e faz muito dinheiro à custa da exploração animal e tudo o que envolva dinheiro e grandes corporações a perder dinheiro, não será fácil mudar e haverá sempre muita resistência contra.
Para além disso, este estilo de vida ocidental mais sedentário, com excesso de alimentos de origem animal e industrializados, está a deixar-nos doentes e isso gera muito dinheiro. A saúde não dá dinheiro e sim pessoas doentes e dependentes da indústria farmacêutica.
Também foi-nos ensinado que é normal comer carne, que é normal usar animais para diversão, que eles não sentem, que nós somos seres superiores… Mas enquanto seres superiores não deveríamos cuidar? Proteger? Respeitar? Em vez de maltratar? Imaginem que amanhã aparece uma raça superior à nossa, uma raça qualquer extraterrestre (sim, o universo é enorme, porque não?!) Será justo que nos matem para consumo, podendo alimentar-se de vegetais, frutas, legumes? Será justo matarem os nossos bebés para poderem ficar com o nosso leite? Será justo usarem as nossas peles para fazer casacos?
Eu cá não acho nada justo!
Sei que há hábitos alimentares muito enraizados e pessoas que simplesmente não querem saber dos animais, desde que não mexam no seu bolso e no seu prato elas não querem saber. Na minha opinião, o hábito não é um grande obstáculo e com vontade consegue ser alterado, a falta de empatia essa sim é o principal problema. Falta de empatia pelos animais, planeta, pessoas e pela geração futura. Daí serem importantes novas leis e mudanças (como por exemplo, aumentar o preço da carne e peixe; penalizar quem não recicla; diminuir uso de plástico nos supermercados, entre outros), mas infelizmente essas leis não interessam a muita « boa » gente.
Outro aspeto que acho importante é mostrar e explicar todos os benefícios que uma dieta vegetariana traz para a saúde. Verdade seja dita, grande parte das pessoas, por exemplo, deixa de beber leite porque o leite lhe faz mal e não porque a vaca foi violada e roubaram o seu bebé, para não beber o leite que vai ser comprado. Portanto, esta abordagem mais direcionada para a saúde é das que melhor costuma resultar.
A informação está aí para quem quiser saber, desde livros, documentários, palestras, entre outros. Eu aconselho sempre os documentários, para além de estarem muito bem feitos, a parte visual ajuda imenso na passagem da mensagem. Deixo aqui o nome de alguns dos meus favoritos: Cowspiracy; What the Health; Food Matters; Earthlings; Food choices; Forks over knives; Food Inc.; The Game Changers.
Aliás, no dia 27 de novembro fazem quatro anos em que fiz a transição para o veganismo, depois de assistir ao documentário Cowspiracy, um documentário acerca de sustentabilidade que revela o quanto a indústria agropecuária tem destruído o planeta. Nesse mesmo momento, decidi parar com o consumo de carne e peixe e comecei a pesquisar sobre dietas vegetarianas. Bastou algumas horas de pesquisas para perceber que o problema não estava só na carne e no peixe, mas também nos ovos, leite e derivados e na forma como a indústria maltrata os animais. Resolvi então tornar-me vegana.
A minha transição foi brusca, parei com o consumo de alimentos de origem animal literalmente de um dia para o outro, pois, para mim, foi o que me fez mais sentido naquele momento, mas não sou nada contra a quem o faça de forma gradual e ao seu ritmo.
A minha dieta era muito rica em ovos, frango, proteína de leite (a típica dieta de ginásio) e o meu corpo sentiu bastante essa mudança de hábitos alimentares até porque, nessa mesma altura, decidi também parar de fazer dietas de restrição calórica e começar a ouvir o meu corpo, comendo mais intuitivamente. Ao início, obtive um ganho de peso, mas também ganhei energia e as minhas análises melhoraram significativamente. Atualmente, o meu peso já voltou ao que era, mas com muito mais saúde, sem restrições e com uma melhor relação com a comida (é gratificante saber que nenhum animal precisou morrer para eu me alimentar). Em quatro anos de veganismo só fiquei doente duas vezes e ainda não morri de défice proteico, carência de ferro ou vitamina b12.
Outros mitos e receios que há muito por aí é em relação a uma alimentação vegetariana em bebés e crianças, por isso tento sempre desmistificar através de artigos e evidências científicas, mas, mais do que dizer, prefiro mostrar, e as redes sociais são uma ótima ajuda.
Toda a minha gravidez correu super bem, o meu filho nasceu com um peso normal, foi aleitado em exclusivo até aos seis meses e com seis meses já pesava mais do que muitos bebés de um ano de idade. Hoje, com quinze meses, continua a desenvolver-se muitíssimo bem. É um bebé feliz e até a data nunca ficou doente. Portanto, deixo muita pouca margem de manobra para opinarem contra a dieta do meu bebé vegano.
Para além da mudança de hábitos alimentares o veganismo também me trouxe várias mudanças ao nível de consumo, hoje em dia faço uma análise mais consciente e cuidada antes de comprar e pergunto-me sempre: Preciso mesmo disto? É de origem vegetal? É biológico? Onde é produzido? É de comércio justo ? É ecológico ?
Ser vegana vai muito além da dieta, é uma tomada de consciência e sensação de dever cumprido. Saber que pelo menos estou a tentar deixar o mundo um bocadinho melhor ou menos mal do que aquele que encontrei. Enquanto mãe são esses os valores que quero passar ao meu bebé, quero educa-lo para ser um bom cidadão, uma pessoa com compaixão, empatia, consciência social… não nos podemos esquecer que os bebés de hoje são os adultos de amanhã.
Por fim, quero só desmistificar algo que oiço dizer recorrentemente de que, nós veganos, importamo-nos mais com os animais do que com as pessoas. Isto não é de todo verdade e o facto de defendermos uma causa não significa que não nos importemos com os restantes problemas do mundo atual. A diferença é que, nesta batalha de libertação animal, o impacto faz-se simplesmente decidindo o que comer e não comer na refeição seguinte, tão simples quanto isso.
Artigo da autoria de Sónia Dias, 26 anos, vegana, licenciada em Diética e Nutrição e mãe a tempo inteiro. Autora do blog: http://aminhamaevegana.com