Não há como ignorar o facto de o Presidente da Ucrânia falar a Portugal no dia em que a Rússia começa a cantar vitória em Mariupol. Na cidade portuária sitiada, as forças da resistência ucraniana veem-se sem armamento pesado suficiente para enfrentar a ofensiva russa. Sergei Shoigu, ministro da Defesa russo, já se adiantou, garantindo que a siderúrgica Azovstal, em Mariupol, foi “totalmente bloqueada”, e o resto da cidade portuária foi “libertada”. Putin, que ordenou o cerco total à central, “para que nem uma mosca pudesse passar”, definiu a operação como um “sucesso” de Moscovo. Resta saber se a estratégia terá o “efeito borboleta” que o líder russo desejaria.
As forças de Putin têm expandido os ataques pelo leste da Ucrânia, com mais armamento e obtenção de conquistas territoriais que até aqui não tinham sido registadas. A segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, está também sob intensos bombardeamentos. E, em Kherson, o “terror” anda à solta, conforme denunciam as forças ucranianas, que falam em “mobilização à força de ucranianos” para lutarem a favor de Moscovo.
Apesar do aniversário de três anos desde a sua eleição, Volodymyr Zelensky tem cada vez menos motivos para celebrar. Um dia antes, Putin anunciou o lançamento de um novo míssil balístico intercontinental e alertou as nações ocidentais para “pensarem duas vezes” antes de “tentarem ameaçar a Rússia”, uma provocação que fez disparar a preocupação internacional, em especial da administração Biden, mas que também isola cada vez mais o chefe de Estado russo do resto do mundo.
A intervenção de Volodymyr Zelensky no Parlamento português está prevista para a sessão solene desta quinta-feira, às 17h00. O discurso por videoconferência será traduzido em simultâneo e conta com a presença das altas entidades do Estado e dos representantes da comunidade ucraniana nas galerias. Os seis deputados do PCP não estarão presentes.
UMA NOVA FASE DE GUERRA E UMA “OFENSIVA PRECIPITADA PARA ATINGIR OS SEUS OBJETIVOS ATÉ 9 DE MAIO”
As forças russas deram início na terça-feira a uma nova fase da invasão na Ucrânia, consideram os analistas do Instituto para o Estudo da Guerra. Os esforços estão concentrados no leste e os dois principais objetivos são agora a cidade portuária de Mariupol, assim como Donetsk e Luhansk, no Donbas.
O Presidente da Rússia afirmou esta quinta-feira que as forças russas já assumiram o controlo de Mariupol. O governador de Luhansk afirmou que a Rússia controla agora 80% da região (antes da guerra as forças separatistas pró-russas controlavam 40% da região). Kharkiv tem estado sob “bombardeamento maciço” na última noite.
“A situação no leste e no sul do país continua extremamente cruel. Os ocupantes não deixarão de fora nenhuma tentativa, na sua ofensiva em larga escala, para obter qualquer tipo de vitória que possam alimentar os seus propagandistas”, denunciou o presidente ucraniano esta quarta-feira à noite
PUTIN ORDENA CERCO DE COMPLEXO INDUSTRIAL ONDE ESTÃO CENTENAS DE CIVIS E MILITARES, O ÚLTIMO REDUTO DA RESISTÊNCIA EM MARIUPOL
Putin deu ordens para cancelar o assalto à fábrica metalúrgica de Azovstal, onde estão entrincheirados os últimos combatentes que ainda resistem na cidade.
Putin considerou que um ataque direto no complexo industrial seria “pouco prático”. Em alternativa ordenou o cerco do complexo. O líder separatista Alexei Nikanorov afirmou na televisão russa que são necessários reforços para manter o vasto complexo sitiado e o da república russa da Chechénia previu que o complexo deverá ser tomado ainda esta quinta-feira.
No local estarão também mais de mil civis e 500 soldados feridos, de acordo com a vice-primeira-ministra da Ucrânia. Iryna Vereshchuk exigiu a evacuação imediata do complexo.
Nas últimas horas, o governo ucraniano mostrou-se também disponível para negociações “sem condições” que salvem civis e militares em Mariupol. Uma das possibilidades avançadas por Zelensky é a troca de militares russos capturados e mortos.
As autoridades ucranianas afirmaram que conseguiram retirar quatro autocarros com civis da cidade durante a quarta-feira e esperam conseguir continuar a evacuação durante o dia de hoje.
MORREU MAIS UM SOBREVIVENTE DO HOLOCAUSTO
Vanda Semyonovna Obiedkova, de 91 anos, não sobreviveu às condições desumanas que enfrentou na cave onde se abrigou dos bombardeamentos em Mariupol.
Morreu a 4 de abril e a sua história foi agora contada pela filha à Chabad.org.
Em outubro de 1941, quando tinha 10 anos, Vanda sobreviveu à ocupação nazi de Mariupol, escondendo-se numa cave quando as forças de Hitler reuniram entre nove mil e 16 mil judeus na cidade, incluindo a mãe e a família materna de Vanda, que foram mortos a tiro nos arredores da cidade.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL