A Diocese do Algarve lamentou hoje que 16 meses após o incêndio de Monchique ainda não tenha sido possível aplicar os 113 mil euros recolhidos para apoiar as vítimas, afirmou à Lusa fonte da instituição religiosa.
A demora na atribuição dos donativos recolhidos num peditório para as vítimas do fogo de Monchique, em 2018, foi um dos assuntos abordados na missa do dia de Ano Novo, em Loulé, sendo a sua aplicação um dos votos proferidos, na ocasião, pelo Bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, para o ano de 2020.
Em declarações à Lusa, fonte da Diocese do Algarve reconheceu que existem “questões de ordem burocrática a atender” para que se dê início à reconstrução das casas, através do programa ‘Porta de Entrada’ – e consequente aplicação dos donativos – mas disse não entender a razão da demora, que considera “exagerada”.
“Daí o voto do senhor Bispo para 2020: que seja o ano em que os lesados pelo incêndio de agosto de 2018 em Monchique vejam os seus problemas resolvidos e os doadores deste apoio diocesano confirmem a oportunidade e a utilidade do seu gesto solidário”, referiu a mesma fonte.
Não havendo casas já reconstruídas, a Cáritas Diocesana fica de “mãos amarradas”, notou, esclarecendo que o objetivo do peditório foi “responder às necessidades não incluídas” no programa, o que inclui “equipamentos para as habitações e outras necessidades complementares à vida quotidiana das famílias”.
A Diocese do Algarve tem à sua guarda 113.820 euros, doados logo após o fogo de agosto de 2018, resultante de um peditório promovido pela Igreja algarvia, que rendeu 47.206 euros, dos donativos do Santuário de Fátima, no valor de 30.000 euros, e da Irmandade dos Clérigos da Diocese do Porto, no valor de 25.000 euros e de doações de particulares, no valor de 11.614 euros, verba transferida para a conta bancária criada para o efeito.
Segundo o patriarcado algarvio, os destinatários da ajuda foram identificados pelas autarquias locais em articulação com uma comissão paroquial local de âmbito social, sublinhando que seria “incorreto” canalizar as verbas “para outros destinos que não os primeiramente definidos”.
O fogo que deflagrou a 3 de agosto de 2018 na Perna Negra, na serra de Monchique, foi o maior registado em 2018 em Portugal e na Europa, tendo sido dominado apenas ao oitavo dia, na manhã de 10 de agosto.
O incêndio provocou também danos significativos no concelho vizinho de Silves, depois de ter afetado, com menor impacto, os municípios de Portimão, no distrito de Faro, e de Odemira, no distrito de Beja.
Ao todo, o fogo destruiu 74 casas, 30 das quais de primeira habitação, e mais de 27.000 hectares de floresta e de terrenos agrícolas. Só no concelho de Monchique arderam 16.700 hectares.