
Responsáveis do grupo de especialistas mundiais no clima reunidos no Algarve mostraram-se hoje otimistas com a consciência da sociedade sobre a problemática, no início de cinco dias de trabalho para preparar o sexto relatório sobre os impactos das mudanças climáticas.
“O meu otimismo tem aumentado no último ano, com a sociedade e muitos governantes a ouvirem e a reforçarem a urgência nas mudanças necessárias”, afirmou esta amanhã em conferência de imprensa, Hans-Otto Pörtener vice-presidente do grupo de trabalho encarregado da revisão sobre os impactos, a adaptação e a vulnerabilidade criadas pelas alterações climáticas.
No início dos trabalhos na Universidade do Algarve, em Faro, para produção de uma parte do sexto relatório sobre as alterações climáticas, o vice presidente assumiu estar, no entanto, “surpreendido com a inércia” presente na mente de algumas pessoas em apreenderem as mensagens relacionadas com interesses económicos imediatos e em perceberem os desafios globais envolvidos, destacando que “não é possível substituir o conhecimento cientifico por um otimismo em relação ao futuro e não tomar as ações necessárias”.
Hans-Otto Pörtener realçou estar a haver um aumento da “procura do conhecimento científico e dos relatórios” por parte de vários grupos e com resultados práticos.
Um dos exemplos foi trazido pela copresidente Debra Roberts, destacando documentos produzidos no continente africano, com uma “linguagem mais simples e de fácil compreensão”, para uma melhor transmissão de conhecimentos científicos e as necessárias ações a serem tomadas. Assumiu estar a haver um “especial interesse” manifestado pela população urbana.
Não podendo comentar decisões políticas concretas, em resposta ao jornalistas Debra Roberts afirmou, no entanto, que a União Europeia tem um importante papel nesta matérias, já que, como relevante parceira do continente africano, as suas opções políticas “terão consequências em outras partes do Mundo”, servindo de incentivo para que “outros iniciem a mudança”.
“As opções tomadas pela União Europeia, na sequência dos relatórios já produzidos, são um exemplo da ciência em ação”, defendeu a copresidente.
Debra Roberts destacou que as alterações climáticas estão a ser enquadradas como um enorme desafio à sociedade, mas são também uma oportunidade para transformar o que se está a fazer e que em várias partes do mundo “são já muitos” os que estão a encarar esta questão como um incentivo para criar uma sociedade mais sustentável e justa.
“É um momento muito importante no século XXI. A ciência está a ser vista com uma caixa de ferramentas essencial para a sociedade em combater os desafios e oportunidades que as alterações climáticas proporcionam”, destacou.
O grupo reunido na Universidade do Algarve tem como objetivo realizar uma avaliação científica atualizada dos impactos das mudanças climáticas nos ecossistemas e sistemas humanos, bem como uma análise das capacidades e limites desses sistemas para se adaptarem às mudanças climáticas e as opções para reduzir os riscos associados ao clima.
Os resultados dos intensos trabalhos a decorrer nestes cinco dias demorarão algum tempo a ser conhecidos do público, já que durante este ano o esboço do documento irá circular para revisão dos governos e especialistas, estando o resumo disponível para consulta aberta no final de 2021 e o documento integral no início de 2020.
Nessa altura, a participação “de todos” será bem vinda, destacou o vice-presidente do II Grupo, Youba Sokona, acrescentado que todas terão um resposta, como aconteceu “aos 40.000 contributos” recibos aquando da publicação do relatório solicitado pela convenção do clima em outubro de 2018.