O Município de Portimão prestou homenagem a sete cidadãos centenários que ali vivem, no Dia Internacional da Pessoa Idosa, celebrado a 1 de outubro, num almoço que teve lugar na sala de descabeço do Museu de Portimão, um espaço também ele carregado de memórias e evocativo da história da cidade e onde alguns segredos da sua longevidade foram partilhados.

no concelho (Fotos Filipe da Palma / D.R)
Do grupo de centenários homenageados fazem parte António Boaventura (103 anos), Judite Cruz (100 anos), Adélia Conceição (106 anos), Maria Joaquina (100 anos), Daniel Nobre (101 anos), Ana Maria Furtado (101 anos) António Barroso (100 anos) para quem, sem dúvida, este dia foi carregado de emoção e memórias.
Para além de familiares e cuidadores dos centenários homenageados, o almoço contou com a presença da presidente da Câmara de Portimão, Isilda Gomes, acompanhada pelos seus colegas de executivo, do presidente da Assembleia Municipal e dos presidentes de Junta das freguesias de Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande, que se associaram a esta singela, mas sentida, homenagem.

Na ocasião, Isilda Gomes considerou estes “centenários +” como “representantes da história de Portimão, do passado e do presente”, tendo agradecido “com todo o carinho tudo aquilo que fizeram pela comunidade”. “Portimão é uma cidade inclusiva e está aqui para vos ajudar em tudo o que precisarem”, assegurou ainda a autarca.
Vidas cheias de memórias
Alguns do homenageados tiveram oportunidade de partilhar memórias e expressar os seus sentimentos e experiências de vida, revelando um pouco do segredo da sua longevidade.
Foi o caso de António Boaventura, com 103 anos e uma vida dedicada à faina marítima, que recordou que aos 20 anos embarcou num navio de carga que operava em Portimão e andou por esses mares décadas a fio, carregou muito carvão para os barcos a vapor e transportou toneladas e toneladas de pescado para o cais da Fábrica Féu, na qual chegaram a trabalhar a esposa e outras duas familiares. Atualmente é utente da Santa Casa da Misericórida de Alvor, onde se “sente muito bem” e é “primorosamente tratado”.
Maria Joaquina nasceu a 10 de janeiro de 1919 e assume-se como trabalhadora rural e conserveira. “Desde pequenita andava atrás do arado com uma enxadinha, casei e a partir daí fui para a frabrica do peixe, onde enlatava. Era muito trabalhoso, mas precisava ganhar a vida e quando apitava a fábrica lá tínhamos que vir a fugir… Pareciamos um bando de gaivotas, pois não havia mais nada naquela altura”, recorda.
Mora em Portimão numa casa própria, da qual é responsável por grande parte das lides: “Isto dá—me muito que entreter, seja nas limpezas, seja nas arrumações, seja a fazer a comidinha. Continuo a ser uma mulher de governo”, assume com um sorriso nos lábios. “Tenho um casal de netos, uma bisneta e uma trineta, que são a minha alegria e por cá estarei às contas de Deus, enquanto ele querer”, afirmou do alto dos seus “cem anos cheios de alegrias e tristezas.”

“cheios de alegrias e tristezas”
Daniel da Silva Nobre, que nasceu em Monchique no dia 21 de julho de 1918, viveu metade dos seus 101 anos na zona da Mexilhoeira Grande. “Sou um homem do campo, tenho medo do mar e nunca me atrevi a sair da terra, que tanto me deu”, esclareceu. Quanto à sua longevidade afirmou na ocasião “para além do que se arranca do chão com o nosso suor, o segredo melhor é comer, beber, trabalhar e não pensar muito nas agruras da vida. Mas o grande truque foi casar com uma mulher mais nova, para tratar bem de mim”.
Maria Perpétua é a sua “jovem esposa” com 94 anos que afirmou sem pestanejar: “Somos casados há 76 anos e sempre nos aturámos bem um ao outro. Não há casa onde o sol não entre, como se diz, tivemos os nossos desentendimentos, mas quando não há concordância ficamos bem na mesma”.
Ambos residem na Aldeia de S. José de Alcalar e foram unânimes no elogio às condições existentes. “Tem muita coisa para a gente se entreter. Gostamos de ir passear fora e fazemos a nossa vidinha com toda a normalidade”, referiu o casal, que tem dois filhos homens, dois netos e uma bisneta.
Mostra de lavores
O Dia Internacional da Pessoa Idosa culminou com uma tarde de fado com o jovem fadista João Leote que cantou para os séniores-utentes dos Centro Convivo Aldeia das Sobreiras, Centro de Convívio Sénior, Centro Comunitário do Pontal, da Cruz da Parteira e da Coca Maravilhas, Santa Casa da Misericórdia de Portimão, Santa Casa da Misericórdia de Alvor, Centro de Apoio a Idosos de Portimão, Centro Paroquial da Mexilhoeira Grande, Lar Esperança e Centro de Convívio do Centro Paroquial da Nossa Senhora do Amparo, que encheram de aplausos o grande auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão.
A partir de amanhã, 3 de outubro, e ainda no âmbito das comemorações do Dia Internacional da Pessoa Idosa, inaugura na Casa Manuel Teixeira Gomes uma exposição de lavores onde, até final do mês, poderão ser apreciados os trabalhos desenvolvidos pelos utentes dos diferentes Centros de Convívio e Centros Comunitários do Município.
(CM)