
O mundo está em mudança célere nas esferas sociais, culturais e económicas muito devido à ascensão dos meios de comunicação digitais e à alteração de comportamentos provenientes deste fluxo constante e acelerado de informação. As empresas não são alheias a esta mudança e, com efeito, perspetivam-se alterações estruturais no modus operandi das organizações e nas competências valorizadas nos profissionais da generalidade das áreas. A evolução em esteroides da tecnologia precipitará uma maior automatização do trabalho braçal e o aparecimento de tecnologias mais intuitivas, o que significa uma desvalorização das competências técnicas. Se as máquinas podem fazer o trabalho técnico, o ser humano fica dispensado de adquirir esse conhecimento. Tudo isto releva os atributos mais humanísticos e criativos dos profissionais, que são a base do profissional do futuro.
As organizações modernas destoam desde logo das empresas tradicionais ao nível da hierarquia, que deixa de ser feita com base nas funções. Assim, a estrutura da empresa baseia-se nos projetos existentes, serviços e equipas, como acontece nas startups. O tecido empresarial português assenta muito em pequenas e médias empresas, pelo que o sucesso deste tipo estrutura é bastante comum, como comprova a distinção da StartUp Portimão nos EEPA (European Enterprise Promotion Awards). A empresa algarvia foi distinguida nesta iniciativa organizada pela Comissão Europeia devido às suas práticas inovadoras no que concerne ao empreendedorismo. Esta estrutura por projetos, tão associada a um pensamento de pequena escala, começa a ser adotada por empresas grandes na tentativa de organizar as suas equipas em pequenos departamentos internos e, assim, absorver o máximo das competências de cada colaborador.
Como não podia deixar de ser, outra alteração diz respeito à velocidade dos meios disponíveis, que exerce influência na criação das equipas. No futuro, as empresas procurarão estabelecer fluidez máxima entre elementos, para que as equipas sejam formadas de acordo com as especificidades dos projetos. Este modelo dinâmico faz com que não se criem maus hábitos devido à permanência excessiva numa determinada posição e, por conseguinte, destrói o paradigma piramidal vigente no grosso das empresas. Sem títulos de trabalho estipulados, os profissionais do futuro trabalham com base nas atribuições, tarefas e especificidades dos projetos, que são coordenados por várias pessoas com competências diversas e que estão alocadas a vários projetos em simultâneo para partilhar experiências, dúvidas e aprendizagens transversais às diferentes equipas.
À luz de todas estas novas formas de pensar uma empresa, não faria qualquer sentido manter um sistema de recompensas com base no nível hierárquico, mandato cumprido ou experiência na mesma função, como acontece nas empresas tradicionais. Neste prisma, os bónus anuais ou prémios de desempenho estão dependentes dos resultados conseguidos pelo profissional na sua atividade, pela contribuição para os resultados positivos da organização e do próprio envolvimento com o cliente. Esta horizontalidade traz maior justiça ao sistema de recompensas, que funciona como um agente de motivação para todos os colaboradores maximizarem a sua produtividade. Para além disso, este sentimento de justiça e equidade afeta também a cultura das empresas, que passam a ter o companheirismo, a partilha de valores e o pensamento coletivo como atributos principais.
Para além das mudanças estruturais, as empresas têm também de se adaptar aos comportamentos dos consumidores modernos, habituados a muita informação disponível e ao facto de poderem experimentar antes de pagar. Esta é uma prática muito comum nos negócios digitais e podemos observá-la em três setores distintos. No marketing, os profissionais de SEO podem experimentar plataformas técnicas como o AppTweak ou o SensorTower de forma totalmente gratuita antes de optarem por um dos planos pagos. No entretenimento, os utilizadores podem usufruir de um mês grátis de YouTube Premium ou Amazon Prime Video antes de decidirem se pretendem subscrever estes serviços. No setor dos jogos, os utilizadores podem utilizar free spins em casinos online para experimentar slot machines sem pagar e ainda têm a possibilidade de ganhar prémios com essas tentativas.
Este novo referencial obriga a alterações no próprio mercado de trabalho, fazendo com que as competências mais valorizadas sejam bastante distintas das atuais. Nesta base, a criatividade assume um papel muito importante, já que é o elemento distintivo na hora de decisão do cliente. Para além da criatividade, também o pensamento crítico, a inteligência emocional e a capacidade negocial são fundamentais num mundo onde a tecnologia absorve o trabalho suscetível de ser automatizado. Escusado será dizer que a capacidade para trabalhar em equipa e lidar com pessoas ganha aqui toda uma nova importância, já que as relações e a empatia passam a ser o centro de toda a atividade laboral. Numa altura em que se espera que as máquinas ocupem algumas posições tradicionalmente desempenhadas por pessoas, as empresas que souberem manter relações humanizadas e empáticas serão por certo bem-sucedidas.