Enquanto que o Algarve se prepara para receber a passagem de ano com hotéis lotados e uma procura significativa, os contrastes sociais na região continuam a ser evidentes. Apesar de ostentar um Produto Interno Bruto (PIB) acima da média nacional, o Algarve permanece no topo dos índices de pobreza.
Réveillon em alta
A tradição do Algarve como destino de eleição para a noite de réveillon mantém-se firme em 2023. A procura por hotéis nesta época do ano supera as expectativas, com uma tendência de crescimento em relação ao ano anterior. Hélder Martins, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), expressa, em declarações à Renascença, satisfação com as taxas de ocupação, principalmente nas unidades que oferecem programas de animação e alojamento para a passagem de ano.
“Unidades hoteleiras que têm programas de fim do ano com alojamento, com animação, estão com excelentes taxas de ocupação, muitas delas cheias. Quem não tem programa de fim do ano, e se resume à oferta de alojamento, tem alguma procura”, afirma Martins.
Segundo o mesmo, “é exatamente nesta semana que se concretizam mais reservas, porque são pessoas que vêm passar o fim do ano sem a procura de um espaço com passagem de ano organizada e que, em nossa opinião, utilizarão aquilo que são as passagens de ano públicas que há no Algarve”.
A visão de Martins destaca a relevância da animação e eventos organizados para impulsionar ainda mais o turismo na região. A ausência de um grande evento âncora é mencionada como uma oportunidade para potenciar o destino.
“Neste momento a nossa expectativa é que estamos acima do ano passado e poderemos, quer no global do mês, quer naquilo que é a ocupação da passagem de ano, superar os dados de 2022”, adianta.
Nestas declarações à Renascença, Hélder Martins conta que na região sul se encontram “preços que, de facto, não estão acessíveis a muitas bolsas” e “preços que estão acessíveis à maior parte das bolsas”.
“Nós conseguimos ter uma panóplia de oferta no Algarve, agora e sempre, que permite chegar a qualquer bolsa, seja ela mais recheada ou não. As unidades que têm pacotes mais caros, regra geral, estão completamente cheias”, diz Martins.
PIB e pobreza
Apesar do aparente sucesso turístico, o Algarve enfrenta desafios sociais que se refletem nos índices de pobreza. Brandão Pires, primeiro-secretário da Associação de Municípios da região, oferece uma explicação esclarecedora sobre a aparente contradição entre o PIB elevado e a persistência da pobreza.
“Atribui-se um valor a todas as habitações existentes num determinado território. Supõe-se que aquela casa gera um determinado rendimento e multiplica-se esse rendimento médio pelo número de habitações existentes. O Algarve tem 470.000 pessoas e devia ter para manter os parâmetros nacionais 200 e tal mil habitações não tem 400. 000 habitações. Tem aqui um acréscimo de 100 e tal mil habitações que vão direitinhas para o rendimento do PIB”, explica Pires.
Além disso, Pires destaca que uma parte significativa do PIB gerado na região não fica retida localmente, mas é distribuída para fora. Essa realidade compromete a redistribuição interna de riqueza e contribui para os desafios sociais que o Algarve enfrenta.
Hélder Martins, da AHETA, também aborda a questão, indicando que parte da riqueza gerada na região é detida por fundos internacionais, sem benefícios diretos para a comunidade local.
“Não vale a pena tapar o sol com a peneira. O Algarve tem hoje um conjunto de unidades hoteleiras, de empreendimentos, que são detidos por fundos que, nós próprios não sabemos onde é que eles estão, estão noutra parte qualquer do mundo e, portanto, utilizam o Algarve como uma fonte de negócio de rendimento”, explica.
Desafios económicos e resposta sindical
Martins refuta as críticas sobre os baixos salários praticados na hotelaria, destacando que a AHETA chegou a acordo com os sindicatos para aumentos significativos nos salários. No entanto, ele reconhece que o aumento do custo de vida é um desafio para as famílias locais.
“O problema é que o custo de vida aumentou brutalmente e as famílias têm dificuldade, mesmo que tenham aumentos, em enfrentar isso”, destaca Martins.
O Algarve, apesar de se destacar como um ícone turístico, enfrenta complexidades sociais e económicas que merecem atenção. À medida que a região celebra a passagem de ano com vitalidade turística, é imperativo abordar os desafios subjacentes para construir um futuro mais equitativo e sustentável.
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