A primeira vez que mergulhou na maior montanha submarina portuguesa foi em 1998, mas este sábado José Tourais parte pela 12.ª vez em viagem ao Banco Gorringe a bordo do veleiro Santa Maria Manuela, numa expedição científica internacional.
Aos 70 anos, faz parte da equipa como Dive Safety Officer da expedição coordenada Portugal e é um dos mergulhadores que mais vezes esteve junto à maior montanha submarina portuguesa, a 240 quilómetros do Cabo de S. Vicente, no Algarve.
“A expectativa é sempre boa porque é um sítio muito pouco explorado. É uma montanha submarina, como sabem, e, portanto, é sempre interessante perceber como é que está a evoluir a biodiversidade, os fundos, e como na realidade vai estando conservado”, disse aos jornalistas José Tourais, tratado por muitos como o pai do mergulho em Portugal.
Com uma vasta experiencia de mais de 40 anos de mergulho, José Tourais, vai estar durante três semanas, na missão que conta com a chancela da Fundação Oceano Azul, depois de ter marcado presença, pela ultima vez, em 2016, e a primeira há 26 anos.
“Agora que já não vou lá há uns aninhos [vamos ver]. Mas quer dizer, em termos de biodiversidade, não se nota muito porque está relativamente longe, destas zonas costeiras que estão mais sujeitas a alterações significativas”, considerou, deixando, no entanto, para os biólogos uma explicação mais cientifica das diferenças causadas pelas alterações climatéricas.
José Tourais reconheceu a importância da missão, lembrando a proteção dos oceanos, observando ser “sempre importante e, principalmente, naquela zona”.
“Aquilo faz parte de uma cordilheira que na verdade se desloca aqui do sul do continente até à Madeira e mais para sul, vão aflorando aqueles picos a superfície. Agora com esta expedição pretende-se perceber um bocadinho mais fundo, como é que aquilo está. Tudo o que se fizer para que se conheça melhor este tipo de ambientes e de habitats para tentar proteger de alguma forma é bem-vindo”, afirmou.
Também Emanuel Gonçalves, coordenador da expedição e administrador da Fundação Oceano Azul salientou a importância da missão que irá fazer “uma radiografia do estado de saúde do oceano, naquela que é a maior montanha submarina da Europa Ocidental e que muitos não sabem que Portugal tem esse enorme valor nas suas águas”.
Segundo o responsável, existem um conjunto de valores naturais já identificados, “mas muitos ainda por descobrir e, portanto, esta grande expedição vai dar o seu contributo para colocar esse melhor conhecimento científico”.
Já a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, reconheceu a importância da missão para ajudar o Governo a preparar o decreto-lei que vai promover o modelo de gestão “para fazer cumprir a diretiva comunitária que está em incumprimento”.
“Estamos a fazer os planos de gestão. Temos 61 planos de gestão por fazer. Há uma outra exposição de uma diretiva resultante da transposição da diretiva, que tem um atraso de cerca de 30 anos, já fizemos 31, mas neste caso para o fazer, precisamos exatamente dos dados desta expedição e vai-nos ajudar bastante nessa tarefa”, afirmou a responsável.
A governante considerou, igualmente, haver a necessidade de proteção ambiental da natureza, “que é fundamental para o futuro, para a sustentabilidade”, lembrando também a existência de compromissos internacionais assumidos por Portugal “ na direção de proteger 30% do território emerso e submerso do país até 2030”.
Tiago Pitta e Cunha, administrador executivo da Fundação Oceano Azul, reconheceu o “grande esforço de investimento” em expedições cientificas nos últimos anos, recordando as palavras da ministra ao adiantar que se são “as novas descobertas marítimas do século XXI”.
“De alguma maneira levam-nos a fazer um caminho, não é o caminho marítimo para a Índia, mas é o caminho marítimo para a sustentabilidade no século XXI e é por isso que elas são tão importantes”, sublinhou o responsável.
Presente na partida da missão, o chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Gouveia e Melo, considerou ser “curioso” estar a participar de uma cerimónia a falar sobre o Banco Gorringe, que na sua atividade profissional anterior, enquanto submarinista, era “uma coisa muito aborrecida”.
“No meio do oceano tinha que ter cuidado para não bater numa montanha. Fiz muitos circuitos à volta do Gorringe. Mas é também interessante observar que o navio à vela que fez parte da nossa história está outra vez a fazer parte da história e investigação da última fronteira terrestre que é o mar”, reconheceu Gouveia e Melo.
A expedição, que envolve cerca de 50 cientistas de Portugal, Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, 30 dos quais a bordo de duas embarcações, visa sintetizar o conhecimento científico produzido sobre o Banco de Gorringe, agregando dados novos, divulgá-lo para “ganhar o apoio da sociedade para a proteção marinha” e “ativar os decisores para a adoção de medidas de proteção e gestão”.
Um relatório científico, com recomendações de ações, será publicado no primeiro trimestre de 2025 e um documentário sobre a expedição será exibido por essa altura.
A expedição tem como promotores a Fundação Oceano Azul, o Oceanário de Lisboa, o Governo português, através do Ministério do Ambiente e Energia e do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a Marinha Portuguesa.
O Banco de Gorringe concentra diversos ‘habitats’, uns mais perto da superfície e outros mais nas profundezas, como florestas de algas, jardins de corais, campos de esponjas ou cardumes de peixes, incluindo tubarões.
Classificado desde 2015 como área marinha protegida da Rede Natura 2000, o sítio está na rota migratória de baleias, golfinhos e tartarugas.
O Banco de Gorringe foi registado pela primeira vez em 1875 por Henry Gorringe, comandante do navio norte-americano Gettysburg, durante uma missão de mapeamento do fundo do oceano Atlântico.
Os picos principais são os montes submarinos Gettysburg e Ormonde, que chegam quase à superfície, permitindo a deposição de grandes comunidades de algas.
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