O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) criticou a utilização de fogo de artifício na passagem do ano em Olhão por provocar “danos” no ecossistema da Ria Formosa, mas a Câmara assegurou que o espetáculo contou com as autorizações necessárias.
Em comunicado, o PAN, através do seu eleito na Assembleia Municipal de Olhão, Alexandre Pereira, advertiu que os resíduos provocados pelos fogos lançados “ameaçam a Ria Formosa”, onde eram visíveis, na manhã seguinte, “milhares de resíduos de pirotecnia espalhados por toda a área terrestre e lagunar” junto ao local do lançamento.
A agência Lusa pediu uma reação da Câmara de Olhão às críticas do partido e o presidente do município, António Miguel Pina, disse que o fogo de artifício contou com as autorizações necessárias para o seu lançamento, acrescentando que os detritos serão removidos do local num prazo de três dias.
“O fogo foi autorizado pelas entidades competentes e, como todos os anos, nas 72 horas seguintes estará tudo limpo”, garantiu o presidente da Câmara de Olhão, no distrito de Faro, à Lusa, numa curta reação à posição do PAN.
O partido considerou que encontrou no dia seguinte um cenário “alarmante” no local de lançamento, com “milhares de resíduos de pirotecnia espalhados por toda a área terrestre e pela zona lagunar da Ria Formosa”, área protegida como parque natural, situada no litoral do sotavento (este) do Algarve.
“Entre os resíduos identificados encontram-se esponjas, pedaços de prata, fios, plásticos, cartão contaminado com pólvora e muitos outros materiais altamente prejudiciais. Infelizmente, muitos destes já devem ter sido levados pelas correntes para outras áreas, agravando ainda mais os danos”, lamentou o PAN.
A plataforma de lançamento dos fogos de artifício foi colocada numa “área de proteção parcial tipo II”, que tem uma “elevada sensibilidade ambiental”, e os detritos chegaram a zonas do tipo I, consideradas as “mais protegidas e frágeis da Ria Formosa”, alertou.
“Este facto eleva a gravidade da situação para níveis inaceitáveis, pois os danos não afetam apenas as espécies de aves protegidas – muitas delas já sob pressão devido a atividades humanas – mas também todo o ecossistema terrestre e marinho, que é vital para a biodiversidade e equilíbrio da nossa região”, realçou Alexandre Pereira, citado na nota.
O impacto do ruído e dos fogos não afeta só as aves, porque os resíduos de “plásticos, metais e químicos tóxicos” também “contaminam o ambiente e representam uma ameaça direta para a fauna, flora e ecossistemas marinhos da Ria Formosa”, considerou.
“Trata-se de um dos ecossistemas mais ricos e vulneráveis de Portugal, e é inaceitável que ações como estas continuem a ocorrer numa área protegida. Este episódio representa uma clara violação dos princípios de preservação ambiental e expõe uma gestão irresponsável, que coloca em risco este património natural único”, posicionou-se o eleito do PAN.
Para evitar estes impactos na zona natural algarvia, o PAN propõe “medidas urgentes e indispensáveis”, como a limpeza imediata da área, acompanhada por técnicos, a responsabilização pelos danos ambientais causados ou o recurso a espetáculos com “alternativas ecológicas” ao fogo-de-artifício.
“Olhão tem de avançar para práticas mais sustentáveis e responsáveis. Espetáculos de luzes, projeções ou fogo de artifício silencioso e ecológico já são uma realidade em várias partes do mundo. Estas alternativas oferecem celebrações igualmente deslumbrantes, mas sem colocar em risco as aves, os ecossistemas e a saúde pública”, concluiu.
Leia também: Mais de 100 radares vão estar aqui ‘escondidos’ em janeiro de 2025, incluindo no Algarve