A Biblioteca Municipal de Albufeira Lídia Jorge acolhe, no próximo sábado, a apresentação do livro “A Fábrica de Corpos Dóceis”, de Margarida Guilherme, natural de Paderne, cujo lançamento ocorreu em novembro do ano passado na Fundação José Saramago, em Lisboa.
A sessão tem início às 14:00, na sala polivalente da Biblioteca, e contará com a presença de Manuel Frias Martins, professor de Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, bem como da autora. O evento incluirá ainda um momento musical protagonizado pela fadista Raquel Peters.
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Segundo Margarida Guilherme, doutorada em Estudos de Cultura, a obra resulta do testemunho literário de quem experienciou o período ditatorial ibérico do século XX, conduzindo o leitor “para dentro das prisões ditatoriais dos regimes de Franco e de Salazar, e também para as salas de interrogatório e para as salas de audiência dos tribunais. Mostra-nos o encarceramento, a privação, a censura, o julgamento, a tortura, isto é, os mecanismos usados para construir aquilo que aqui se chama o método burocrático de docilização dos dominados”.
“Os discursos ditatoriais desse tempo”, refere ainda a autora, “construíram o aparelho burocrático ideal para levar a cabo a repressão de grupos de seres humanos dominados, a doutrinação de agentes da dominação e a consequente desumanização de ambos — dominados e dominantes — dentro de uma engrenagem equiparada à de uma fábrica”.
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Na contracapa do livro pode ler-se ainda: “Tortura do sono, tortura da estátua, queimaduras, espancamentos, desterro, encarceramento durante décadas e/ou até à morte? Punições por parte do exacerbado poder monárquico medieval?, pensaríamos nós. Não, são dos nossos tempos, do século em que nasceram os nossos pais e muitos de nós. Num tempo como aquele em que vivemos, em que nos poderíamos acomodar numa ideia de um status quo quase prístina, e por detrás de um olhar lavado por ilusões, inebriado por um passado isento de violência política, este é um texto que vem desajustar os nossos pensamentos arrumados sob uma capa de poeira raramente soprada, que lança alguma luz sobre um tempo semi-esquecido, não tão longínquo ainda. Fala-nos da construção da memória de um passado camuflado, da ilogicidade aberrante do uso da violência, da necessidade de dignificação do ser humano, da urgência de conhecer um passado que importa não repetir no presente e no futuro”.
Margarida Guilherme é docente do ensino superior desde 2009, investigadora do CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) e fundadora do ISTA – Instituto de Artes e Letras de Albufeira, criado em 1996, onde atualmente exerce funções de direção pedagógica, além de lecionar línguas e música.
O valor da venda dos livros que cabe à autora será entregue à AVVAZ – Comunidade Internacional de Mobilização Online, defensora dos Direitos Humanos.
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