A menor procura de cursos na área do Turismo e a existência de “um número bastante elevado” de pessoas a trabalhar no setor sem formação aconselham a reforçar a oferta formativa, sobretudo em contexto laboral, indica um estudo.
A coordenadora do estudo “O Perfil do Profissional de Turismo e Hospitalidade – Competências e Formação”, Antónia Correia, disse à Lusa que os cursos deste setor estão a perder terreno para ofertas de áreas como as Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemáticas (STEM, sigla em inglês) e que é preciso reverter esta tendência.
“Há aqui, claramente, um processo de desmobilização dos alunos da área do Turismo e, portanto, este estudo decorre exatamente dessa necessidade de voltar a colocar os alunos na escola e voltar a motivá-los para estudar em Turismo”, afirmou a coordenadora do estudo, realizado pelo laboratório colaborativo KIPT CoLAB Inovação e Turismo.
Enquanto a procura de cursos das áreas STEM cresce cerca de 15%, a do setor do Turismo e Hotelaria ronda os 8% e está “claramente a decrescer”, quando esta é a área profissional que “absorve a maior quantidade de mão-de-obra” no país, observou a investigadora e professora da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve (UAlg).
Por outro lado, embora cerca de 40% a 60% das pessoas possua “algum tipo de formação para trabalhar” na área, continua a haver “um número bastante elevado de pessoas que não têm a formação e trabalham” no setor turístico, sustentou.
“E, portanto, esta iniciativa tem como grande objetivo devolver as pessoas à escola, não deixando de trabalhar, obviamente, mas conciliando as duas coisas para que lhes permitam, de alguma forma, ter as competências necessárias para crescerem, para progredirem na carreira”, afirmou.
Para o estudo, foi inquirida uma amostra de 450 alunos e profissionais do Turismo em Portugal para perceber o que realmente precisam e “se há algum alinhamento entre o que os estudantes e os profissionais querem e aquilo que os diretores, seja do curso, seja dos hotéis e dos restaurantes, lhes oferecem”, referiu.
Os resultados mostraram que “não existe esse alinhamento total”, que “é preciso enveredar pelos caminhos da transformação digital” e começar a apostar na aquisição de “competências analíticas para trabalhar grandes quantidades de dados”, identificou.
Foi também detetada uma falta de competências em ‘soft skills’, que incluem a inteligência emocional, as competências interpessoais e a comunicação, quer em alunos e estudantes da área de Turismo, como “em pessoas que passaram do nível operacional para o nível tático e, portanto, já estão a gerir algumas equipas”, acrescentou.
“Quando se olha para os resultados, o que parece é que estas competências aprendem-se fundamentalmente dentro do emprego”, constatou a investigadora, sugerindo um aumento das horas de estágio para os trabalhadores melhorarem a sua prestação.
Por isso, o estudo propõe “aumentar as horas de estágio” para que as competências mais necessárias sejam adquiridas mais no próprio local de trabalho, em vez de em formação teórica.
É também necessário melhorar a competência “digital” e “caminhar para o marketing virtual” ao nível da promoção, mostrando as potencialidades do destino e dando aos potenciais visitantes uma visão da realidade que vão encontrar no destino, antes da compra da sua viagem, concluiu Antónia Correia.
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