O Auditório da Biblioteca Municipal de Tavira recebe mais uma sessão das Conferências no Inverno – História do Algarve, com a comunicação de Brígida Baptista intitulada “A história ambiental e económica do atum do Algarve da época moderna”, numa organização da Casa Álvaro de Campos. O evento decorre no sábado, 22 de fevereiro, às 18:30.
O Algarve, território historicamente rico em produtos da pesca, atraiu desde a Pré-História diversas civilizações que se estabeleceram na região, procurando terrenos férteis, cursos de água potável e acessos terrestres, fluviais e marítimos que facilitassem a circulação de pessoas, bens e conhecimentos.
A pesca do atum foi, desde a Antiguidade Clássica até à década de 1970, uma das atividades económicas mais relevantes do Algarve. As armações de pesca, instaladas anualmente ao largo da costa algarvia, tiveram um impacto político, económico, ambiental e social significativo. Durante a época moderna, esta atividade já estava bem estruturada e regulamentada na região, funcionando de forma organizada e coesa. Envolvia não só as comunidades piscatórias locais, mas também armadores, a Coroa e uma complexa rede hierárquica e comercial, que integrava o próprio recurso natural.
A análise das capturas realizadas na época moderna, um aspeto até agora pouco estudado, revela um impacto ecológico relevante nas populações naturais e nos ecossistemas marinhos, para além da sua importância económica e social no Portugal dos séculos XVI a XVIII. Com o passar dos séculos, a pesca do atum incentivou a deslocação sazonal de grandes grupos humanos para a costa algarvia, onde eram erguidos pequenos povoados conhecidos como arraiais, que serviam de apoio à atividade pesqueira. Atualmente, a memória desta prática e da importância do atum para a região mantém-se viva entre os homens e mulheres que a experienciaram e que integraram comunidades piscatórias, cada vez mais escassas e em risco de desaparecer.
Natural de Santa Luzia, no concelho de Tavira, Brígida Baptista cresceu no seio de uma família de pescadores e de mulheres do mar, que lhe deram a paixão pelo mar e a impulsionaram profissionalmente. Licenciada e mestre em Arqueologia e pós-graduada em Arqueologia Náutica e Subaquática, é atualmente investigadora-integrada no CHAM – Centro de Humanidades da Nova FCSH, Universidade Nova de Lisboa e investigadora associada do Projeto ERC Synergy Grant “4Oceans – A História Humana da Vida Marinha” na mesma Universidade.
Brígida Baptista é doutoranda em História na vertente de História Ambiental, desenvolvendo a tese de doutoramento, sobre as armações de pesca do atum no Algarve durante a Época Moderna. Desenvolve há mais de dez anos projetos no Algarve relacionados com o património marítimo local, especialmente com as comunidades piscatórias. Em 2014, durante o estágio profissional na Junta de Freguesia de Santa Luzia, elaborou o projeto de criação de um Núcleo de Património Marítimo onde criou a “Rota do Polvo” na vila de Santa Luzia e a “Rota do Atum” na Praia do Barril. É também investigadora principal do projeto do Município de Tavira, “Roteiros de Pesca de Santa Luzia – Rota do Polvo e Rota do Atum”.
É também membro fundador e presidente da Lais de Guia – Associação Cultural do Património Marítimo. A associação é membro da equipa da Cátedra UNESCO “O Património Cultural dos Oceanos”, com a atividade escolar, a ”Odisseia do Atum”.
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