Bizé Tinoco, parente pobre do equídeo, era um burro comum como tantos outros. Cresceu com o peso do mundo nas suas costas, freios na boca e palas nos olhos como que assinalando não existirem caminhos alternativos a não ser assistir ao seu destino, sem demandas, sem distracções – já diz o velho ditado “olhos que não vêem, coração que não sente” (pelo menos, é o que dizem).
Fizesse chuva ou sol, os seus dias pintados de preto e branco, eram cumpridos sempre com a mesma rotina, o mesmo trajeto, as mesmas tarefas. O seu rosto acusava a fadiga e a exaustão, porém, a sua virilidade e juventude fazem com que o seu dono deposite em si o dever de sustentar toda a família e, apesar das marcas bem visíveis no seu corpo, perdidas entre o seu pêlo baço e rareado, Bizé mantém-se determinado e fiel à pessoa que se insurge, que ordena, mas também, que o alimenta.
Os anos passam e Bizé Tinoco apresenta, agora, a debilidade e vulnerabilidade oferecidas pela idade – está frágil e as suas articulações condicionam-lhe a deslocação. A sua força e juventude de outrora foram substituídas pela necessidade de afeto, atenção e cuidados, exigindo demais do seu dono, que já não vê utilidade no animal afinal, este já não lhe traz lucro, apenas despesas e cuidados reforçados. E num dito dia, diferente de todos os outros que Bizé tinha conhecido durante toda a sua vida, é abandonado à sua sorte, num descampado, sem comida, sem água, sem nada… pela primeira vez na sua vida, a única coisa que transporta no seu dorso é a solidão e a certeza de que uma morte rápida será o desfecho mais “fácil” para si.
O tempo passa… lentamente demais… penosamente para quem definha, deitado e perdido no lamaçal trazido pela chuva das contínuas noites no local – já mal consegue exigir do seu corpo esquelético os movimentos involuntários da sua respiração. O último suspiro tarda em chegar, a sua existência traduz-se em desespero e martírio.
O seu fim seria expectável não fosse o outro “rosto” da humanidade fazer-se sentir no coração de Tânia que, por casualidade, alcançou a sombra encharcada de Bizé e chocada pela acção cruel infligida neste ser indefeso, não fica indiferente ao sofrimento do pobre burro. Bizé, no limite das suas forças, é salvo e passará o resto dos seus dias experimentando as cores do dia, o cheiro da vegetação e do feno, a suave brisa da esperança percorrendo o seu dorso sofrido, renascendo para a sensação de ser amado!
Esta é uma história baseada em factos reais e com um final feliz, mas quantos” Bizés” não existem pelo mundo fora e que não têm a mesma sorte?! Animais de quinta, animais selvagens, são muitas vezes vítimas da soberba humana e da carência de uma legislação que garanta soluções viáveis para resgatar animais em perigo iminente.
Espelhada esta inquietação, um grupo de cidadãos decidiu tentar mudar o destino destas vítimas, pensando e concebendo uma petição que visa a criação de um enquadramento jurídico para Locais de Acolhimento de Animais de Quinta e de Animais Selvagens, vulgarmente denominado de “santuário animal”, desprovido de qualquer conotação religiosa, mas conferindo a estes locais sentimentos de paz, tranquilidade e esperança numa vida condigna. Pela evolução da mentalidade humana e pelo fim da indiferença, vamos aliar-nos a esta iniciativa!
Esta é a oportunidade de TODOS JUNTOS, fazermos a diferença!
Aproveito aqui para divulgar e apelar: assine e partilhe esta petição http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT89270