O POSTAL falou com Rui Santos, um dos mestres latoeiros que participou no projeto “A Arte do Latoeiro”, desenvolvido em São Bartolomeu de Messines e que permitiu reativar o ofício da latoaria.
Rui Santos tem 39 anos e é natural de Vila Real de Trás-os-Montes.
Em que consiste a arte da Latoaria?
Consiste na transformação da folha flandres (lata), chapa zincada e outros metais, em peças que se usavam na vida doméstica, tais como regadores, jarros, candeias, alguidares, baldes, etc.
Em Portugal existem poucos latoeiros a exercer a profissão
Já existem poucas pessoas disponíveis para ensinar este
ofício, não é?
Sim. Provavelmente em Portugal devem chegar os dedos de uma mão para contar o nú-mero de latoeiros existentes, sendo que os que ainda praticam este ofício têm idades a rondar os 70 anos. O meu pai, ainda no ativo, tem 82 anos.
Há quantos anos exerce esta atividade?
Eu costumo dizer que já nasci no meio das latas, mas efectivamente, há 27 anos.
Com quem e como aprendeu?
O meu mestre foi o meu pai. Com dez anos terminei a escola primária e fui para o 1º ciclo. Esta escola ficava relativamente perto da oficina (que ainda hoje é o mesmo espaço), e eu nos intervalos aproveitava e ficava junto ao meu pai a aprender. Os meus brinquedos desde cedo passaram a ser os martelos e as tesouras, começando assim o gosto pela latoaria.
O que o leva a querer ensinar uma arte tão antiga?
É a minha arte, aquilo que gosto de fazer. Gosto de fazer peças únicas, inovar. É o meu trabalho. Por essa mesma razão, tenho gosto em poder ensinar aos outros aquilo que melhor sei fazer, para tentar dar continuidade a esta arte.
Rui Santos foi um dos mestres do projeto TASA
O Rui participou no Projeto “Arte dos Latoeiros” em São Bartolomeu de Messines. Quantos aprendizes teve?
Sim, tive todo o gosto de participar no projeto “TASA”. O ideal era haver mais iniciativas destas, na arte da Latoaria e outras. Neste projeto tive cinco aprendizes.
Que técnicas ensinou?
Usei todas as técnicas artesanais que fui aprendendo aos longo de todos estes anos, para as poder ensinar aos cinco aprendizes que tive.
Técnicas de corte, quinagem e solda.
Sentiu uma boa recetividade por parte dos formandos?
Sim, sem dúvida que sim. Senti que os cinco formandos estavam muito empenhados e curiosos em aprender esta arte e as suas diversas técnicas. De realçar, que alguns deles, tiveram de fazer esforços suplementares para poderem estar presentes na formação.
Que conselhos daria a quem quer experimentar este ofício?
Perceberem se realmente é uma arte com o qual de identificam. Ter gosto no que se faz diariamente é muito importante. Esse é o prazer de todos os artesãos.
É uma profissão que compensa monetariamente?
Viver exclusivamente das peças de artesanato não seria rentável. À parte disso, existem outras tarefas, tais como, obras de algerozes (caleiros) e consertos de outras peças. Vai dando para viver (risos).
Qual o segredo para não deixar extinguir uma arte tão importante como a Latoaria?
O projeto TASA e outros do género, ajudam a despertar o interesse das pessoas que, tal como eu, se possam vir a interessar por esta arte. As- sim, podem exercê-la e não deixá-la morrer. Por exemplo, neste projeto, se dos cinco formandos dois avançarem com a arte já é positivo. Assim, será possível passar este ofício de geração em geração.
SAIBA MAIS EM:
Latoaria foi reativada no Algarve
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)