
A tartaruga-de-couro que foi encontrada na passada quinta-feira, 20 de junho, na Meia Praia em Lagos, está a ser reabilitada no Zoomarine.
Os biólogos e técnicos do Porto d’ Abrigo estão a pedir ajuda aos pescadores para encontrarem medusas vivas, uma vez que o animal está a recusar alimento congelado.
“Os animais selvagens desta espécie comem alimento vivo e no caso da tartaruga-de-couro mais de 90% do seu alimento são medusas vivas”. Quem o diz é Élio Vicente, biólogo marinho e diretor do Centro de Reabilitação de Animais Marinhos do Zoomarine.
O Zoomarine faz assim um apelo aos pescadores para que se conseguirem ter acesso a medusas vivas, possam “avisar-nos para irmos recolhê-las”.
O responsável salienta ainda que “não é grave ela ainda não ter comido porque os répteis podem passar muitas semanas sem se alimentar”, “uma vez que são animais de sangue frio e não têm uma urgência de alimentação como os mamíferos”.
É no entanto importante reforçar que “um animal que não come pode começar a desidratar e, para além disso, se nós tivermos um animal que esteja a comer alimento que nós lhe damos é mais fácil administrar a medicação na comida”.
A ideia passa precisamente por “convencer a tartaruga a comer medusas. Assim que as tivermos vamos começar com as vivas e à medida que ela se for habituando a comê-las vamos tentar misturar com algumas que estejam previamente congeladas, mas para isso precisamos de arranjar as medusas, o que ainda não conseguimos”.
Élio Vicente disse ao POSTAL que “a situação com a tartaruga poderia ter sido dramática. Ela estava presa, a afogar-se e felizmente não faleceu”, ainda que “a situação seja potencialmente perigosa”.
A tartaruga-de-couro ficou presa em cabos, o que lhe provocou alguns ferimentos na zona do pescoço, barbatanas, entre outros locais. “Esses ferimentos podem infetar e levar ao desenvolvimento de algumas infeções graves e até mesmo à septicemia que pode matar”, acrescenta o biólogo.

“Estes animais não têm carapaças como é o tradicional das tartarugas que conhecemos, que têm aquelas escamas, aquelas placas térmicas, que funcionam como uma carapaça que os protege”.
A tartaruga-de-couro é a maior espécie de tartaruga que existe e os tratadores estão a fazer os possíveis para salvá-la.
Élio Vicente salienta que “o animal está a ser desinfetado de forma diária” e “estamos a lutar para que não se desenvolvam infeções mas isso não quer dizer que não venha a acontecer nos próximos dias”.
“Quando um animal se debate dentro de água contra qualquer ameaça, pode inalar água, que ao chegar aos pulmões pode levar ao desenvolvimento de uma pneumonia por aspiração”.
O biólogo prossegue dizendo que “o animal está num tanque de reabilitação que é muito longe daquilo que poderão ser as dimensões do seu habitat natural, não estando habituado a estar em sítios tão pequenos”.
“Tivemos de fazer uma proteção com umas almofadas plásticas para evitar que ele choque com as paredes e faça mais ferimentos”.
“Temos um último grande desafio que é o maneio para, por exemplo, tirar sangue, fazer ecografias e endoscopias porque este é um animal que tem 300 quilos e é muito difícil manipulá-lo. Com tartarugas pequenas conseguimos mobilizá-las, tirar sangue, fazer endoscopias, ecografias e raio X, no entanto, com um animal de 300 quilos precisamos de uma grua, o que torna este processo muito mais complexo”.
O que faz o Porto d’Abrigo do Zoomarine?
O Porto d’Abrigo do Zoomarine foi inaugurado em 2002 e é o primeiro Centro de Reabilitação de Espécies Marinhas em Portugal.
Segundo Élio Vicente, “nenhum animal que tenha entrado nas nossas instalações para reabilitação fica connosco”.
O responsável salienta que existem três situações distintas.
“Existem casos em que o animal vem para o Centro de Reabilitação e não sobrevive”.
Depois “existem outras situações em que o animal é resgatado, é salvo e é reabilitado no Porto d’Abrigo do Zoomarine e volta para o meio selvagem quando já está pronto.”.
No final do processo o Zoomarine vai levá-los. “Já levámos animais a países como a Inglaterra, Escócia, Holanda e Estados Unidos”.
Por fim, existem situações em que não é possível devolver o animal ao habitat natural, porque, por exemplo, ficou paralisado, ficou cego ou porque veio muito bebé e não tem uma mãe ou pai para o integrar num grupo social novamente. Nesses casos o Estado Português não autoriza o seu regresso ao selvagem.
Quando isso acontece é o Estado Português que define o destino a dar a esse animal que nunca passa pelo Zoomarine”.
O responsável salienta ainda que “quem ajuda o Zoomarine a manter o Centro de Reabilitação e todas as despesas que são inerentes são os visitantes”, pois “quem compra um bilhete para entrar no Zoomarine está a contribuir diretamente para os esforços de conservação da natureza, nomeadamente o Centro de Reabilitação”.
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(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)