Quando refletimos sobre as transformações que ocorrem numa cidade apenas num mês — novos restaurantes, renovações de espaços —, é surpreendente pensar nas mudanças que podem acontecer ao longo de milénios. Recue-se então, com a colaboração da Versa, 40 mil anos, e descubra-se a história fascinante desta gruta, cujas primeiras ocupações remontam ao Paleolítico, estendendo-se até ao Neolítico, cujas escavações arqueológicas indicam que, onde hoje há um oceano, havia antes uma floresta. A Gruta da Furninha, em Peniche, é um verdadeiro tesouro arqueológico que nos transporta para tempos imemoriais. Embora a paisagem em redor tenha sofrido alterações drásticas ao longo de 40 mil anos, a essência deste lugar mantém-se viva, desafiando-nos a imaginar como seria a vida naquele tempo.
Situada nas falésias da costa sul da península de Peniche, a Gruta da Furninha não teve sempre a vista para o mar que hoje a caracteriza. De facto, escavações e estudos arqueológicos, iniciados após a sua descoberta em 1880 pelo geólogo Joaquim Nery Delgado, revelaram que, naquela época remota, a gruta era envolta por uma densa floresta. Naquele tempo, este local era uma encosta e não uma falésia. Porém, com a elevação gradual do nível do mar, o oceano tomou o lugar da floresta, moldando o cenário que hoje conhecemos. Apesar destas mudanças drásticas, a gruta permanece um testemunho silencioso dos muitos ciclos da natureza e da presença humana na região.
O interior da gruta guarda preciosos vestígios arqueológicos que nos ajudam a entender melhor as culturas pré-históricas que ali habitaram. Entre os achados, destacam-se utensílios líticos e cerâmicas neolíticas, além de ossos que pertenceram tanto ao Homo neanderthalensis quanto ao Homo sapiens. Estes vestígios são agora conservados e exibidos no Museu Geológico do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), em Lisboa, proporcionando uma janela para o passado distante e para a complexidade da vida humana naquela época.
“A história desta gruta tem mais de 40 mil anos”, revelam os arqueólogos, sendo que a sua estrutura única, incrustada na falésia próxima do Cabo Carvoeiro, convida os visitantes a refletir sobre as profundas mudanças geológicas e culturais que a região testemunhou. Para visitar a Gruta da Furninha, basta descer algumas escadas desde o topo da falésia, onde o mar, hoje senhor da paisagem, serve de guardião a este extraordinário monumento da história humana.
Este sítio não é apenas um lugar de interesse arqueológico, mas também um convite à contemplação das forças naturais que moldaram a terra e a vida que sobre ela existiu. A Gruta da Furninha, com a sua vista deslumbrante e os seus mistérios pré-históricos, continua a fascinar todos aqueles que se aventuram a explorar o passado profundo de Peniche.
Leia também: Esta é a cidade mais recomendada para quem quer conhecer o Algarve pela primeira vez