Para alguns, este arquipélago é um um verdadeiro sonho, um refúgio paradisíaco ao largo da costa portuguesa. Para outros, a mera ideia de visitar o arquipélago provoca náuseas. A verdade encontra-se nos dois extremos. Este pequeno paraíso no centro de Portugal é famoso pela sua natureza selvagem, fauna singular, praias de águas cristalinas e misteriosas grutas. No entanto, a viagem de barco até lá é capaz de desmotivar muitos visitantes. Nos dias em que o mar está mais agitado, é comum que muitos passageiros fiquem enjoados, chegando a vomitar nos sacos plásticos fornecidos no início da viagem. Este cenário repete-se desde 1958, quando a empresa Viamar, fundada por José Bento, começou as carreiras regulares entre Peniche e a ilha, conta a NiT.
Naquela época, as viagens de ida e volta a bordo da embarcação “Novo Rumo” custavam apenas 30 escudos. A partir dos anos 50, o paraíso das Berlengas começou a emergir como um destino turístico, antes acessível apenas aos pescadores.
Nos últimos 60 anos, as três embarcações da Viamar transportaram mais de um milhão de passageiros, ansiosos por explorar a magia do paraíso das Berlengas, com os seus rochedos e grutas majestosas. Henrique Pelerito, bisneto do fundador e atual gerente da empresa, recorda ter feito a sua primeira viagem às Berlengas com apenas seis meses.
Hoje, aos 29 anos, Henrique perdeu a conta ao número de visitantes que viu enjoar durante a viagem de cerca de 30 minutos no “Cabo Avelar Pessoa”, a maior embarcação a operar na zona, com capacidade para 185 lugares.
“Há dias em que 80 por cento dos passageiros vomitam, principalmente quando as condições do mar não são as melhores. Os enjoos são inevitáveis nestas situações, mas pior do que uma pessoa ficar enjoada, é não saber para o que vai,” contou à mesma fonte.
Antes de cada viagem, os funcionários avisam sempre sobre a possibilidade de enjoos. Por isso, começaram a distribuir sacos de plástico antes de a embarcação partir, uma prática que cessaram recentemente. “Percebemos que oferecer os sacos à entrada aumentava a ansiedade exponencialmente,” explica Henrique.
Agora, cada assento tem uma bolsa com um saco de plástico e um guardanapo. Paradoxalmente, os passageiros mais habituados à vida no mar são, por vezes, os primeiros a sentir-se mal. Nos dias de mar muito agitado, as travessias são canceladas, embora isso aconteça raramente. “Nunca colocamos em causa a segurança dos passageiros. Pela experiência dos marinheiros da embarcação, sabe-se de antemão como vai estar o mar,” assegura Henrique.
Embora não haja uma solução infalível para evitar os enjoos, o gerente revela que o interior da embarcação é mais propenso a causar mal-estar. “Como não têm visibilidade do horizonte, não apanham a brisa do mar nem o vento e isso pode fazer com que fiquem mais enjoadas.”
O tamanho da embarcação também influencia: barcos maiores são mais seguros, mas as lanchas rápidas, que “navegam mais a rasgar,” são menos suscetíveis ao vómito, embora sejam mais desconfortáveis.
Normalmente, os enjoos ocorrem apenas quando o mar está agitado. Há dias em que ninguém vomita e outros em que são “às dezenas”. “Basta uma pessoa ficar enjoada para começar aquele ambiente de vómito, que acaba por afetar até os mais resistentes,” observa Henrique.
Henrique recorda-se de um dia, há três anos, em que viu várias pessoas com quebras de tensão e mantas térmicas depois de saírem dos barcos. “Nunca tinha visto tanta gente com má disposição ao mesmo tempo, com intervenção dos bombeiros. Foi algo realmente atípico, eram entre 15 a 20 pessoas,” relata.
A tranquilidade e a despreocupação são essenciais para uma viagem agradável. “Quando vão alegres e descontraídas, nem pensam nisso,” sugere Henrique à mesma fonte.
Os bilhetes de ida e volta para o paraíso das Berlengas custam 17€ para adultos e 12€ para crianças, podendo ser comprados online. As Berlengas, Reserva Natural da Biosfera desde 2011, têm um número limitado de visitantes diários, que pagam uma taxa de acesso de 3€. As receitas destinam-se a obras de saneamento, gestão de resíduos, abastecimento de água, fornecimento de energia elétrica sustentável e melhorias no cais do Carreiro do Mosteiro.
Com uma rica história e um compromisso com a sustentabilidade, as Berlengas continuam a ser um destino de sonho, preservando a sua beleza natural e cultural para as gerações futuras.
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