Criar obras de arte pública em conjunto com comunidades rurais algarvias é o desafio que a Fundação EDP lançou ao Laboratório de Actividades Criativas (LAC).
Vila do Bispo, Barão de São João, Mexilhoeira Grande, São Bartolomeu de Messines, Alte e Alportel foram os locais escolhidos pelo LAC para a implementação do projecto “WATT?”.
O principal objectivo do “WATT?”, centra-se em envolver um tipo de população, que não está tão habituada a experiências culturais, na decisão e planeamento de obras de arte que serão realizadas em locais públicos.
“A Fundação EDP lançou o convite e o LAC é que tomou as decisões em termos de localidades e dos artistas”, explicou ao POSTAL a responsável pela produção do projecto, Carmo Serpa.
O projecto está dividido em quatro fases, sendo que a primeira ainda está a ser realizada e consiste na apresentação do projecto às populações. Os artistas convidados reúnem-se em espaços das várias localidades com os cidadãos de forma a que “as populações acompanhem o processo criativo todo”, afirma Carmo Serpa.
“Queremos que a população nos inspire porque na verdade, no final do projecto, os artistas e a produção vão-se embora e o que fica em cada localidade são as obras que produziram e que passam a ser das pessoas”, enquadra a responsável.
Após a primeira fase de discussão de ideias os artistas vão voltar às localidades já com um projecto das obras que pretendem fazer e apresentarão propostas à população. “Nós não queremos que as pessoas tenham de viver com obras que elas não gostam ou com as quais não se identificam”, refere Carmo Serpa. Daí a importância de uma pariticipação activa da comunidade, neste projecto que além de pioneiro se realiza em várias localidades rurais de Portugal.
A terceira fase da iniciativa será a de produção e instalação das obras que irão ficar em espaços públicos a que toda a comunidade tenha acesso. “Provavelmente muitas das obras estarão expostas na rua mas não tem de o ser necessariamente”, disse a responsável ao POSTAL.
Prevê-se que a maioria das obras sejam murais, adianta Carmo.
Depois de realizadas e expostas as obras, a última fase do projecto passa por realizar visitas guiadas que contextualizem as obras espalhadas pelas localidades. “A nossa pretensão é fazer formação a nível local, de forma a tentarmos encontrar entidades ou pessoas que consigam contextualizar as obras, para as mostrar a quem não as conhece”. Ao todo serão entre duas a três obras em cada uma das regiões e não estarão expostas menos de dois anos.
Quanto aos artistas convidados, Menau é talvez o mais algarvio de todos eles, nascido e criado em Quarteira, começou a sua jornada artística em 1998 através do Graffiti. Jorge Pereira, Mariana Santos, mais conhecida como “Mariana, a miserável”, Padure, Susana Gaudêncio, Xana e Tiago Batista são os sete criativos que aceitaram o desafio de espalhar arte pelas ruas algarvias.
Falta de interesse da população em geral
O projecto já se apresentou nas localidades de Alte e em Messines e segundo a organização “correu bastante bem”. Ainda assim, e apesar de terem “sempre público e pessoas super interessadas”, a organização disse ao POSTAL que gostava de ter uma plateia mais eclética.
O grande problema do arranque deste projecto, segundo Carmo Serpa, foi o facto de a população em geral não se interessar por eventos culturais “tanto quanto a organização gostaria”.
“Se calhar somos nós que somos muito ambiciosos”, refere a responsável, “gostaríamos de ter na sala pessoas de todas as profissões, de todas as idades, de todos os níveis de formação e o que tem acontecido é que as pessoas que se interessam pelo “Watt?” são aquelas que se interessam por projectos culturais em geral, não é um público tão abrangente como nós gostaríamos”, lamenta.
Em Messines já se preparam ideias para os projectos e as principais, para já, passam por ilustrar figuras importantes da terra. Em Alte as propostas passaram “mais pelas tradições ou pela importância da presença da água na população”, referiu Carmo Serpa.
O nome do projecto é um trocadilho entre a palavra inglesa “what”, que significa “porquê”, e a unidade de medida da energia “watt eléctrico”.
No dia 6 de Maio os artistas apresentam o projecto no Centro Museológico de Alportel. Um dia depois, a 7 de Maio, será a vez de Mexilhoeira Grande com uma conversa entre a comunidade e os artistas na Sociedade Recreativa da Figueira. As entradas são gratuitas.
LAC promove a criação artística na região do sudoeste algarvio
O LAC é uma associação cultural sem fins lucrativos formada em 1995 e com sede na Antiga Cadeia de Lagos. O edifício projectado por Cottinelli Telmo e cujos alicerces estão edificados sobre um antigo convento é um local com história, fazendo parte integrante da cidade.
Construído com outros objetivos, revela actualmente uma dicotomia interessante entre prisão/reclusão versus espaço de criatividade/liberdade, ao tornar-se espaço de criação reconverteu assim os moldes da sua existência, agora as celas são espaço de ateliê para artistas e a sua utilização e trabalho contribuem para a revitalização do edifício, dotando-o de uma nova história.
A associação é um espaço de residências artísticas que tem como prioridade desenvolver e alargar o Programa de Residências Artísticas no LAC (PRALAC), com o objetivo principal de dinamizar e promover a criação artística na região e especialmente na zona do sudoeste algarvio.
Em 2012, o LAC inaugurou a Galeria LAR, espaço de tertúlia e partilha nas diferentes vertentes artísticas. A Galeria é parte integrante do edifício destinado a alojar artistas integrados nas residências do LAC.
(com Ricardo Claro)