João Paulo Félix está a poucos dias de mais um desafio e este ano, com a vertente solidária contra a violência doméstica, o atleta propõe-se a correr Portugal de lés a lés, num total de 25 etapas e 1.250 quilómetros.
No próximo dia 15 de julho, João Paulo Félix inicia a “Volta a Portugal a Correr” em Faro. Seguem-se 25 dias em que correrá cerca de 50 quilómetros por dia, e, se tudo correr como planeado, dia 8 de agosto termina o desafio a que se propôs, frente ao Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa.
“É um grande desafio, física e psicologicamente. Já percorri a Estrada Nacional 2 noutra ocasião e, desta vez, entendi que podia ir mais longe: começar em Faro, ir a Chaves e terminar em Lisboa”, diz este sociólogo, que admite que este ano o desafio é especialmente “duro”.
“Fiz a ligação Faro-Chaves em agosto e já estou habituado ao calor. Mas, dessa vez, houve muitos amigos que se juntaram a mim nalgumas etapas. Este ano, por causa da pandemia de covid-19 e de forma a respeitar as normas de saúde, isso não vai acontecer e vai ser mais complicado”, diz João Paulo.
Seja em que condições for, o atleta, que, além da Nacional 2, tem também no seu currículo outras ‘aventuras’ como Lisboa-Porto a correr, a Volta ao Ribatejo ou a ligação Troia-Sagres, promete não esmorecer perante as adversidades que vai encontrar e revela, em entrevista à agência Lusa, que o segredo é não pensar na meta.
“Aconteça o que acontecer, nunca penso em desistir. Há alturas de muita fadiga, exaustão, mas nunca penso em desistir. Penso em fazer a etapa do dia, concentro-me em objetivos mais pequenos… mas claro que chegar a Lisboa é o prémio final, é o objetivo, o sinal de sucesso na minha missão”, sustenta.
Assume-se como “um homem de causas” e, por isso, estes desafios têm tido sempre um vertente solidária. Já correu pelo autismo, pela esclerose múltipla e, no total, tem já mais de 4.600 nas pernas percorridos por causas solidárias.
Este ano, a violência doméstica foi a causa escolhida, mas a altura que vivemos deu-lhe ainda outra motivação e vai tentar dedicar a concretização de mais este feito aos profissionais de saúde portugueses.
“Esta ideia ocorreu-me quando estava a treinar, há poucos dias. Acho que os médicos, enfermeiros, auxiliares, todos fizeram um trabalho notável nos últimos meses, por isso merecem este esforço e distinção”, afirma o ultramaratonista.
A pandemia não lhe deu só uma causa nova para esta prova de superação. Também complicou os treinos e não está a ser fácil planificar a logística deste projeto.
“Estive algum tempo sem treinar o que devia, no período da quarentena, e agora a maior dificuldade é o alojamento. Estou a tentar ter uma autocaravana, mas, se não for possível, vou tentar no percurso conseguir sítio para ir ficando”, explica João Paulo.
Por outro lado, o atleta não vê a pandemia como uma inimiga, e diz mesmo que é um privilégio encarar este desafio nesta fase.
“Passámos por muito, mas penso sempre que é uma sorte poder fazer isto. Há gente a passar por grandes dificuldades, mas eu felizmente acordo todos os dias com energia para viver, sinto-me abençoado por ter dois braços e duas pernas e poder pensar em superar desafios como este”, termina.